Editorial: Por que a guerra na Síria já dura seis anos?

Por Arlaine Castro

EI aproveitou debilidade do Estado sírio para tomar controle de várias cidades. Foto: Reuters.
[caption id="attachment_141549" align="alignleft" width="300"] EI aproveitou debilidade do Estado sírio para tomar controle de várias cidades. Foto: Reuters.[/caption]

A guerra na Síria completou, em março, seis anos. A ONU estima que cerca de 400 mil pessoas foram mortas e mais de 4,5 milhões de pessoas deixaram o país.

Tudo começou como um levante pacífico pelo descontentamento da população com o alto nível de desemprego, a corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar Al-Assad.

Mas, por que se converteu em um conflito brutal e sangrento que não apenas afeta a população local, mas arrasta potências regionais e internacionais?

Desde março de 2011, protestos por mais liberdade ganharam força no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que se estendiam pelos países árabes. Manifestantes pediam a saída de Assad e o governo respondeu com violência. Jovens que pintaram mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança. Os contrários ao governo começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e, depois, para expulsar as forças de segurança de suas regiões.

Em julho de 2011, as tensões se elevaram quando as forças de segurança do governo mataram vários ativistas nas ruas. Manifestantes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos.

Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo. O conflito já havia, então, se transformado em mais que uma batalha entre aqueles que apoiavam Assad e os que se opunham a ele - adquiriu contornos de guerra sectária entre a maioria sunita do país e xiitas alauítas, o braço do Islamismo a que pertence o presidente.

A evolução da guerra veio com a entrada de partidários da “guerra santa” islâmica, entre eles o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Conquista do Levante (ex-Frente Nusra), afiliada à Al-Qaeda. Os combatentes do EI passaram a enfrentar tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra, além do Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.

Desde 2014, os EUA, junto com o Reino Unido e a França, realizam bombardeios aéreos no país, mas procuram evitar atacar as forças do governo sírio, apesar de culparem Assad pela maior parte das atrocidades cometidas e exigem que ele deixe o poder como pré-condição para a paz.

A Rússia apoia a permanência de Assad no poder, pelo interesse de Moscou no país e vem lançando, desde 2015, bombardeios aéreos para ajudar a “estabilizar” a situação do governo após uma série de derrotas para a oposição. O Irã é aliado ao governo sírio e vem fortalecendo suas forças, provendo assessores militares, armas, crédito e petróleo.

A verdade é que o apoio militar, financeiro e político das potências internacionais, tanto para o governo quanto para a oposição, tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta. Casas e hospitais foram bombardeados e alimentos desapareceram. Oitenta porcento da população vive em extrema pobreza.

Nesses seis anos, a população do país passou de 23 para 17 milhões, cerca de 6 milhões de crianças foram afetadas, 11 milhões de sírios tiveram de fugir de casa e 5 milhões estão refugiados - por um conflito que parece estar ainda longe de acabar.

Fonte: ONUACNUR e BBC Internacional.