Educação para a diversidade: variação linguística no ensino de português como LE

Por AOTP

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Por  Cibele Brandão*

No cenário de globalização em que vivemos, a língua portuguesa vem vivenciando um processo de internacionalização, demandado por políticas acolhedoras a imigrantes, programas de mobilidade educacional, oportunidades profissionais, turismo, relacionamentos ou, ainda, fluxos econômicos e contextos interculturais.

A demanda ou interesse pelo ensino de português a alunos estrangeiros é manifestada em inúmeros cursos de graduação em universidades estrangeiras pelo mundo afora, além da oferta de cursos livres e de aulas particulares voltadas para diferentes fins.

Assim, o mercado de trabalho para os profissionais de ensino de português para estrangeiros (PLE) tem se ampliado de forma bastante significativa. Não obstante essa oferta, cada vez mais se exige desses profissionais preparo adequado e atualização constante para o exercício da função de professor. Buscar o equilíbrio na abordagem de tópicos concernentes à linguagem, à literatura, ao discurso, ao texto, à gramática e à pragmática da língua tem se constituído um desafio para os que se dedicam a essa função.

Ao professor de PLE compete passar o conteúdo aos que desejam acrescentar essa língua ao seu conhecimento linguístico, a multiplicidade de usos desse idioma em contextos reais para que possa interagir de forma plena com outros falantes da língua. Afinal, a variação é inerente às línguas.

Perceber a diversidade e trabalhá-la em sala de aula, é entender que ensinar línguas ultrapassa a fronteira da dimensão linguística, abarcando aspectos sociais, culturais, políticos, históricos, geográficos e econômicos de um povo, compreendendo assim sua identidade e questões relacionadas à sua diversidade.

Não se trata de excluir as formas de prestígio no ensino de PLE, mas é necessário trabalhar também com variedades do português, independentemente do grau de inserção na cultura letrada, se tivermos como objetivo o desenvolvimento da competência interacional dos nossos alunos.

Promover um ensino que vá além da estrutura e funcionamento formal do português para abarcar a complexidade da língua em aulas com ênfase em aspectos sociopragmáticos e interacionais, é levar o aluno a lidar com o intercultural, é conduzi-lo a uma reflexão entre a sua cultura e diferentes culturas com as quais ele é confrontado. De que maneira poderíamos trabalhar a variação linguística nas aulas de PLE?

Poderemos nos servir de textos extraídos da publicidade e da literatura, de tirinhas, crônicas, revistas em quadrinhos, vídeos, letras de músicas, gravações de entrevistas de rádio e TV, manchetes de jornais e revistas, filmes, enfim de amostras de língua em situações reais de uso. Usufruir de diferentes gêneros discursivos nas modalidades orais e escritas da língua e praticar diferentes usos é um caminho.

A necessidade de refletir sobre o ensino de variação linguística nas aulas de PLE me motivou a tratar da questão da diversidade neste texto. Chamar a atenção para a diversidade em sala de aula é trazer o aluno para o universo da interculturalidade, é valorizar a riqueza de práticas linguístico-culturais para permitir a comunicação interpessoal de forma plena, combatendo preconceitos e conflitos advindos da discriminação que aflora comportamentos intolerantes e desrespeitosos com a fala e a identidade cultural do outro. A variação linguística deve ser objeto de estudo em sala de aula, devendo ser vista como um recurso de linguagem, e não fator de exclusão social.

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*Professora Doutora Cibele Brandão é docente da Universidade de Brasilia (UNB).