A eleição presidencial americana (Parte 1) - Negócios & Empresas

Por BBG

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Quanto mais a eleição presidencial se aproxima, mais tenso vai ficando o clima entre as duas candidaturas: Barack Obama e Joe Biden tentam a reeleição pelo Partido Democrata, enquanto Mitt Romney e Paul Ryan acreditam que podem vir a ser respectivamente os novos presidente e vice dos Estados Unidos da América.

À primeira vista, o cenário parece nebuloso para a reeleição de Obama. Com uma taxa de desemprego acima dos 8%, fica difícil justificar para o eleitorado que ele está empenhado na geração de empregos. Mas a verdade é que ele herdou um país em frangalhos do ex-presidente George W. Bush, depois do furacão das subprimes que derrubou os “gênios” financeiros de Wall Street e afundou os mercados automobilístico e imobiliário, comprometendo, consequentemente, o crescimento da nação. Isto prejudicou a manutenção do Partido Republicano no poder, atingido em cheio pela borrasca.

Some-se a isso o fato de Dick Chenney ter declinado a participar da eleição, contrariando a tradição de o vice-presidente ser o candidato natural do partido após a reeleição do presidente, como foi o caso de George W. Bush. Isto obrigou o Partido Republicano a entrar numa luta fratricida para definir quem seria o candidato oficial. A escolha recaiu sobre John McCain, mas não foi uma indicação que entusiasmou o eleitorado republicano, uma vez que ele incorporava mais a ala combativa do partido e defendia um estado laico como pressuposto de governo. Isto, é claro, desagradou os cristãos ultra religiosos que queriam um candidato alinhado com os princípios do cristianismo conservador.

Um ponto que conta a favor de Obama é o fato de que geralmente o incumbente consegue reeleger-se. O fato dele ter a chave do cofre contribui bastante, como é o caso do atual presidente que vem conquistando muita simpatia no estado de Ohio por causa do bail out – perdão de dívidas e injeção de capital - que ele fez junto à indústria automobilística em Michigan, estado vizinho de Ohio.

Vale a pena explicar que o sistema eleitoral americano é sui generis. Os candidatos precisam conseguir os votos dos delegados estaduais, que representam o eleitorado de cada estado. E o número de delegados é proporcional ao colégio eleitoral de cada estado. Ou seja, quanto mais populoso for o estado, maior o número de delegados. Dentro desta lógica, o país está dividido quase igualitariamente entre republicanos e democratas, fazendo com que nos poucos estados indefinidos sejam travadas verdadeiras guerras, com bombardeios de mensagens políticas. Infelizmente, assim como no Brasil, prevalecem as mensagens negativas, que procuram denegrir o adversário, em vez daquelas que enaltecem as qualidades e os planos de governo do candidato.

Como todos sabem que o Texas, por exemplo, vai inclinar-se pelo Partido Republicano, ninguém gasta tempo e dinheiro lá, uma vez que é preciso concentrar os esforços nos chamados swing states. O mesmo ocorre na Califórnia, estado importante, mas sabidamente pró-Partido Democrata. Desta forma, estados como Flórida (onde vivemos), Pensilvânia, Colorado e Ohio passam a ser fiéis da balança na guerra eleitoral.

Olha Ohio aí de novo. Como os moradores deste estado estão reconhecendo os esforços do presidente para resgatar a indústria automobilística americana – e obviamente salvar milhares de empregos -, é normal que tenha crescido o apoio a Obama naquela região industrial do país. E este apoio pode traduzir-se em suporte a Obama naquele importante estado.

Além do mais, o Partido Democrata parece mais unido do que o Partido Republicano nesta eleição. Depois de uma luta encarniçada entre Obama e Hillary Clinton na convenção democrata em 2008, os dois fizeram as pazes e uniram esforços. Hoje, Hillary é a principal funcionária do governo Obama, como secretária de Estado, e Bill Clinton um forte apoiador da reeleição do presidente. Inclusive, ele é quem vai apresentar Obama na convenção nacional do Partido Democrata no início de setembro, que confirmará Obama e Biden como candidatos oficiais do partido.

Do lado republicano, a candidatura Romney apenas empolga pela suposta supremacia dele em relação a Obama no que se refere à economia. Isto, segundo seus partidários, pode traduzir-se em retomada do crescimento econômico da nação, com a geração de empregos. Entretanto, ele enfrenta outros problemas. Um deles é que ele integra a turma que opera no mercado financeiro cujo objetivo é comprar empresas com problemas, saneá-las (leia-se cortando postos de trabalho) e vendê-las no mercado, depois da tal “reengenharia”.

Além disto, ele é seguidor da religião mórmon, considerada nos EUA como uma seita e criticada por praticar a poligamia. Para ser honesto, é apenas uma facção dos mórmons, inclusive rejeitada pelos líderes religiosos em Utah, que mantém-se fiel à poligamia. O próprio Romney é casado com a esposa, Ann, há mais de 40 anos. Entretanto, para um eleitorado ultra religioso e conservador, isto é negativo e pode contribuir para subtrair importantes votos numa disputa tão acirrada como preveem os analistas.

Para complicar ainda mais a situação de Romney, o voto nos EUA é facultativo e a eleição realizada num dia útil de trabalho, ao contrário do que ocorre no Brasil. Se o eleitor não estiver motivado para votar em determinado candidato, ele sequer vai perder tempo para ir à zona eleitoral e depositar seu voto na urna. E este voto, que potencialmente seria a favor de Romney, deixa de ser contabilizado, facilitando a vida de seu oponente, Barack Obama.

Na semana que vem, publicaremos o complemento desta análise.