Eleições no Haiti ocorrem após quatro tentativas fracassadas

Por Gazeta Admininstrator

A uma semana para a realização das primeiras eleições presidenciais e legislativas no Haiti desde a saída do poder e do país de Jean Bertrand Aristide, os agentes envolvidos na organização das eleições trabalham contra o relógio para chegar a 7 de fevereiro com tudo preparado.

Grande parte do material eleitoral, fabricado por uma empresa mexicana, já chegou a Porto Príncipe e é distribuído aos diferentes centros de votação pelo batalhão brasileiro da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) na capital haitiana, onde está armazenado.

Estas eleições presidenciais e legislativas serão realizadas agora após terem sido convocadas e adiadas quatro vezes no ano passado.

O Conselho Eleitoral Provisório já elaborou a lista de centros de votação e confirmou que em Cité Soleil --a região mais perigosa e instável de Porto Príncipe-- não será instalado nenhum por causa das precárias condições de segurança da área.

Reivindicações

Apesar das manifestações e reivindicações feitas por habitantes da capital haitiana, onde cerca de 60 mil pessoas têm direito ao voto, aqueles que quiserem exercer este direito deverão ir a algum dos centros estabelecidos nas proximidades de Cité Soleil.

Um dos porta-vozes da Minustah, David Winhurst, confirmou recentemente que 36 mil trabalhadores locais foram treinados para que no dia 7 de fevereiro tudo corra normalmente nos centros de votação.

Cerca de 9.000 soldados e policiais da ONU farão a segurança no dia da votação e apoiarão os 6.000 membros da Polícia Nacional Haitiana, que também estarão nos colégios eleitorais.

Nas ruas de Porto Príncipe já se pode ver uma maior presença de postos de controle de segurança, estabelecidos na maioria pelo batalhão brasileiro da Minustah, que faz buscas em veículos suspeitos que circulam pela capital.

Apesar do reforço da segurança e dos insistentes pedidos para que as eleições ocorram em meio à calma e paz, muitos prevêem um dia de votação violento.

"Eu não irei votar porque nesse dia muitas pessoas morrerão", disse Nancy, uma moradora de Porto Príncipe, que como outros cidadãos decidiu não sair às ruas no dia 7 de fevereiro.

As poucas pesquisas sobre intenção de voto que circulam pelo Haiti apontam de forma unânime René Preval, ex-presidente haitiano (1996 e 2001) e ex-primeiro-ministro de Aristide, como grande favorito para as eleições.

Se Preval não obtiver a vitória já no primeiro turno, certamente sairá vitorioso do segundo, que acontecerá, se for necessário, no dia 19 de março.

O empresário têxtil Henry Charles Baker, único candidato independente e branco, e o ex-presidente Leslie Manigat estão em segundo e terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, respectivamente, mas a uma distância considerável de Preval.

Grupo 184

Alguns observadores disseram que a elite econômica haitiana, reunida no chamado Grupo 184 de Andre Apaid e na organização empresarial dirigida por Reginald Boulos, "não ficará de braços cruzados após uma vitória de Preval".

Também não está muito claro qual será a reação dos líderes da revolta que levou à queda do ex-presidente Aristide em fevereiro de 2004, após um levante armado.

O ex-militar Guy Philippe, candidato presidencial pela Frente de Reconstrução Nacional, e Louis-Jodel Chamblain, do mesmo partido, líderes do levante de 2004, não se pronunciaram sobre a possível vitória de Preval.

Embora alguns setores políticos considerem Preval próximo a Aristide, outros afirmam que os dois políticos romperam suas boas relações e que o agora candidato favorito está mais ligado ao atual primeiro-ministro, Gerard Latortue.

O que está claro é que, para receber votos, é mais conveniente a Preval que ele se vincule a Aristide, exilado na África do Sul.