Empresária dedo duro

Por Gazeta Admininstrator

Não há como ficar calado diante do que vem acontecendo já há bastante tempo na comunidade brasileira, ainda que de uma maneira isolada: brasileiros denunciando brasileiros que não cometeram crime algum, a não ser o de estar tentando, como imigrantes indocumentados, conquistar uma vida melhor para si e seus familiares aqui nos Estados Unidos.

Dedo-duros ou “caguetes” sempre existiram em todas as sociedades e agrupamentos humanos. Afinal de contas, estamos muito longe de alcançarmos o dia em que todos os seres humanos se deixarão guiar por valores éticos e morais que preservem acima de tudo a dignidade e a justiça.
Mas vamos e venhamos, a nossa comunidade sempre foi conhecida e celebrada por sua alegria, seu espírito de paz, solidariedade e humanidade. Autoridades norte-americanas como o próprio ex-prefeito de New York, Rudolph Giuliani, foram a público elogiar a comunidade brasileira. Esse reconhecimento se repetiu em cidades diversas onde crescia e cresce a presença brasileira.

Está certo que com o crescente número de brasileiros que entraram e continuam entrando pela “porta dos fundos” dos Estados Unidos, tem contribuído para traçar um perfil já menos favorável a nossa imagem como um todo. É um problema que temos que reconhecer e o qual devemos enfrentar de forma positiva, em defesa do bom nome da boa imagem de todos nós, brasileiros.

Sempre se ouviu falar de patrões inescrupulosos que ameaçavam seus funcionários indocumentados de denunciá-los à Imigração. Os casos eram raros, mas existiam. Ainda existem empregadores (alguns deles brasileiros, se bem que em minoria) que até “prendem” os passaportes dos seus empregados indocumentados, usando esse fato como chantagem sobre quem sofre com as limitações do idioma e do desconhecimento total das leis nos Estados Unidos.

Mas nada é mais chocante do que aconteceu recentemente em Connecticut, estado que possui a sexta maior população brasileira nos Estados Unidos, e que foi sacudido por denúncias de uma de suas mais conhecidas personalidades brasileiras. A proprietária de um jornal comunitário foi para a frente das câmeras de uma emissora em rede nacional, recitar o “be-a-bá” da sobrevivência dos indocumentados brasileiros.

Nunca se imaginava uma brasileira integrante da comunidade de comunicação do país, denunciando os brasileiros indocumentados como se fossem marginais e não fizessem parte de um grupo de 12 milhões de indocumentados que estão aqui simplesmente lutando por uma vida melhor.

Aproveito para reproduzir aqui o texto de desagravo à essa bizarra posição demonstrada pela empresária Emanuela Lima, diretora do jornal Tribuna da cidade de Danbury, CT. Esse texto, divulgado nacionalmente pela reconhecida e premiada líder comunitária Ester Sanches, reflete bem o sentimento de indignação e revolta que tomou conta de toda a nossa comunidade:

Roupa suja se lava em casa

É muito importante que façamos de tudo para preservarmos a nossa identidade e reputação, principalmente quando vivemos em um país que não é o nosso... E quando temos algum problema, devemos informar ao nosso líder maior que é o Embaixador de nosso país em Washington ou ao Cônsul Geral do Brasil em nossa jurisdição. Estou me referindo à vergonhosa denuncia feita por Emanuela Lima, diretora do jornal Tribuna da cidade de Danbury, CT ao canal de TV americana “Channel 8”. Quero aproveitar para opinar sobre a atitude do prefeito da mesma cidade Mr. Mark Boughton ao pedir ajuda federal para que a sua administração continuasse possível.

Emanuela, a qual é brasileira nascida e criada no Brasil, descreveu aos repórteres como os brasileiros fazem para se virar neste país, falsificando documentos como green cards, carteiras de motorista e social security numbers. Lamento que por causa desta denúncia, daqui por diante teremos uma terrível reputação perante os Americanos. Para eles, seremos um povo “trambiqueiro e falsificador.”

Em minha opinião, acho que a atitude de Emanuela foi impensada. Ao fazer isto será que ela pensou na àrdua tragetória de um brasileiro que saiu de sua terra natal para tentar uma vida melhor neste país? Será que ela pensou no que ele passou para estar aqui? Será que ela pensou nas famílias dos que compram estas carteiras, green cards e social security numbers? Será que ela pensou no quanto é importante para um de nós termos uma forma de identificação neste país para podermos trabalhar e superar as dificuldades do dia-a-dia e até mesmo ajudar os entes queridos (esposas, filhos, pais, maes, etc) que estão no Brasil? Ao fazer todas estas perguntas, não quero dizer que estou de acordo com as falsificaçoes de documentos que alguns brasileiros fazem, mas estou indignada com a falta de patriotismo de pessoas que fazem de tudo para se auto-promover. A atitude de Emanuela teria sido muito mais nobre se ela tivesse comunicado à Embaixada em Washington ou ao Consulado Geral do Brasil em Nova York sobre todos estes problemas de falsificações feitas por brasileiros, para que os nossos diplomatas pudessem interferir, pois roupas sujas se lava em casa.

Quanto a posição do prefeito de Danbury Mr. Mark Boughton, o qual pediu ajuda federal para investigar as pessoas que falsificam documentos Americanos, confesso que concordo com ele, pois ele está fazendo o seu trabalho e cuidando para que o seu povo tenha tranquilidade de viver bem em sua própria cidade. Na realidade, o prefeito Boughton tem sido acolhedor e amigo de nossa comunidade, pois ele faz questão de ir a todos os eventos promovidos por brasileiros, tenta se envolver e ajudar a todos o máximo que pode. Inclusive ele está aprendendo a falar o Português para que a sua comunicação com os brasileiros seja mais fácil...

A segunda opinião é que não devemos ficar mandando recadinhos e trocando insultos uns aos outros em jornais, e-mails ou até mesmo telefonemas e cartas. Isto apenas servirá para que os Americanos tenham certeza de que somos uma comunidade desunida. Isto não nos levará a nada. Não devemos também tentar ofender a família Bacelar. Existe um Deus que tudo sabe e tudo vê. Se na opinião Dele elas erraram, Ele mesmo se encarregará de cobrar delas, ACREDITEM!!!.

Devemos agora nos unir mais do que nunca para mostrarmos à comunidade Americana que embora existam pessoas de nossa comunidade que fazem coisas fora da lei, existem outras que trabalham, pagam impostos, contas em hospitais, tem seguros de vida e saúde, carteira de motoristas, carros registrados e social security verdadeiro. São empresário/as e colaboram para que este país continue prosperando.
Sugiro que façamos uma reunião com o prefeito de Danbury e a imprensa local para mostrarmos a outra face do Brasil. Um país sério, de pessoas trabalhadoras, profissionais e honestas.

Ester Sanches-Naek
Presidente do Centro Cultural Brasileiro / CT