Empresas são culpadas por falta de preparo de pilotos, dizem especialistas

Por Gazeta News

Uma das principais causas da tragédia com o voo 447 da Air France, que caiu no oceano Atlântico no dia 1º de junho de 2009, matando 228 pessoas é a falta de preparo dos pilotos para lidar com o chamado stall aerodinâmico, que é a perda de sustentação do avião, em altas atitudes. Mas, para especialistas, a culpa pela falta de treino não é dos pilotos, e sim da companhia aérea e da fabricante do avião.

Um relatório divulgado no dia 29 pelo BEA (Escritório de Investigações e Análises), órgão francês responsável pelas investigações do acidente, mostrou que nenhum dos três pilotos seguiu corretamente o procedimento para lidar com o stall, que é uma situação perigosa, em que as asas são incapazes de suportar o peso do avião. Eles não receberam treinamento para isso.

A forma básica de reagir à perda da sustentação do avião é apontar o nariz da aeronave para baixo, para ficar em um ângulo melhor de voo. Em vez disso, os tripulantes apontaram o nariz do avião para cima. De acordo com especialistas, é raro um grande jato comercial ter um stall aerodinâmico, ainda mais em alta altitude. Os investigadores do BEA dizem que essa situação praticamente não é vista nos treinamentos. Carlos Camacho, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, diz que, quando uma empresa compra um avião, o manual da aeronave deve mostrar quais treinamentos são necessários para que os pilotos operem o equipamento. É com base nesse material que a companhia aérea treina os pilotos em pontos específicos.

No caso do acidente com o Airbus A330 da Air France, segundo o BEA, os pilotos não receberam treinamento para lidar com o problema do stall em altitudes altas. Para Camacho, isso “isenta os pilotos” de culpa pelo acidente.

“Os pilotos estão isentos nessa questão. Não compete ao piloto ver qual o treinamento vai fazer para operar um certo avião. Em qualquer companhia aérea, pequena ou grande, não é o piloto quem elabora o rol de treinamentos. Quem prevê isso é o manual do fabricante.

E porque a empresa vai gastar com treinamento para algo que não está previsto ali, se a fabricante diz que o avião é infalível - não sofre com o problema do stall nunca?

De acordo com Camacho, pilotos que voam com Airbus A330 foram treinados para lidar com o problema do stall depois do acidente com o avião da Air France, seguindo recomendações de órgãos de segurança de voo. “Todos os pilotos que voam [com esse tipo de avião] já estão treinados para isso, mundialmente”.