Inteligência, ética e coerência na criação das crianças

Por Por ADRIANA TANESE NOGUEIRA

Precisamos crescer como sociedade e isso começa em casa, na educação dos filhos.

A ética é um ramo da

filosofia que ajuda a

distinguir entre

comportamentos bons,

justos e lícitos

Içami Tiba, renomado psiquiatra brasileiro e autor do famoso "Quem ama educa!", afirmava que não basta criar filhos para serem inteligentes, é preciso ensinar-lhes ética.

A capacidade de usar o cérebro é um aspecto essencial do desenvolvimento humano, mas não é suficiente para termos seres humanos íntegros, que possamos respeitar e admirar.

Chama a atenção hoje como o investimento nos filhos priorize mais as boas escolas ou ter boas notas, e menos os valores.

O sucesso escolar é muitas vezes motivo de orgulho para os pais, como se fosse uma vitória pessoal deles em competição com o coletivo diante do qual precisam se sentir "melhores". Enquanto aos pais vão os louros, os filhos são "remunerados" com ganhos materiais.

Encontramos assim a criança e o adolescente mimado, preguiçoso, passivo. Não sabe fazer a própria cama, não sabe se virar em casa, vive grudado na tela do videogame que é espaço seguro, pois tem medo de enfrentar o mundo, de se expor, de dar a cara para a aventura do viver. Dependem em tudo de seus pais, ou melhor, sobretudo de suas mães; ou de empregadas para catar suas cuecas do chão, recolher pratos sujo, manter em ordem e limpar a casa de moradores sempre mais desleixados.

Como contava num churrasco com amigos, um quarentão obeso de peso e de salário mantinha na casa dele um bidé mágico! Jogava a roupa suja lá e reaparecia lavada, passada e dobrada em cima da cama. Divertido? Não sei...

É importante refletir sobre os valores que norteiam nossas vidas: onde investimos nosso dinheiro, nosso entusiasmo, nossa atenção?

Mais do que as palavras, os fatos falam por nós.

Não adianta levar os filhos às igrejas para em casa não dar o exemplo. Da mesma forma, não se deve culpar as escolas pelo mal comportamento das crianças: a educação começa em casa; e dela são responsáveis os pais, não os professores.

As crianças deveriam chegar na escola já sabendo se comportar. Isto é, respeitando adultos e crianças, seguindo as regras da escola e sabendo expressar as próprias opiniões com coragem mesmo, e sobretudo, quando contrárias às demais.

A palavra ética quer dizer tanto "caráter" como "costume". A ética é um ramo da filosofia que estuda os fundamentos racionais que permitem atribuir aos comportamentos humanos um estatuto deontológico - ou seja, de obrigação moral distinguindo-os entre comportamentos bons, justos e lícitos de outros considerados injustos, ilícitos, inconvenientes ou maus, segundo um modelo comportamento ideal.

Observem que ética não quer dizer "ser bons". O comportamento ético pode ser percebido como "mau" por ladrões, bullies e gente mimada. Logo, não é agradando ao nosso ego ou ao dos outros que se pratica a ética. O que é ético pertence à legalidade, respeita a justiça e por isso é bom.

Crianças (e adultos) sem limites identificam o "bom" com a satisfação imediata de seus desejos. Precisamos ensiná-las a pensar no outro e a respeitar o espaço do outro não para que elas sejam "boazinhas", mas porque é ético. Caso contrário, o dia em que o outro (qualquer um que seja) as contrariar elas irão se vingar sendo "más". Este é o comportamento de pessoas sem ética que reagem com base ao interesse imediato de seus umbigos.

Sem ética não temos uma sociedade que funciona. Esta só é possível quando as pessoas seguem regras de comportamento em referência a algo maior do que o prazer pessoal delas e seu ganho imediato. Precisamos crescer como sociedade, e isso começa em casa, na educação dos filhos que precisam urgentemente de educação de verdade e sempre menos de objetos e agrados.