Fatos físicos e fato psíquicos

Por Por ADRIANA TANESE NOGUEIRA

colunas Viver Bem

"Existem a experiência, os acontecimentos e as verdades físicas. E existem a experiência, os acontecimentos e as verdades psíquicas. A confusão recíproca e a incapacidade de reconhecer a estes últimos autonomia geram a maior calamidade que possa desestruturar uma consciência e, ainda pior, uma inteira cultura 'espiritual'." Escreveu a intelectual italiana Anna Spadafora.

Há uma grande confusão, de fato, entre o que é real, concreto, fato objetivo mensurável, e os fatos da mente, da psique e do espírito, que se sentem, se pensam, se vivem. Este emaranhado cresce e se torna sempre mais turvo com o crescer da ignorância, falta de conhecimento dos vários âmbitos da vida, começando pelo básico mesmo: conhecimentos gerais.

Ocorre que o cérebro não habituado a ler, a aprofundar um tema (ou seja, a estudar) não tem a possibilidade de desenvolver sinapses (conexões entre os neurônios) que estão na base da capacidade de articular ideias. É como um corpo desnutrido, alimentado na base de saladas verdes para não engordar.

Articulando ideias temos a condição de pensar, no sentido de refletir criticamente sobre o que vemos, sentimos, descobrimos. O pensamento que não sabe elaborar ideias não é verdadeiro pensar, é mera repetição. Silvia Montefoschi, psicanalista italiana, chamava de "pensados" esses elementos do pensamento que não trazem mais nada de novo. Todos os produtos culturais se tornam uma certa hora "pensados", o que você entendeu ontem ou aprendeu na escola dez anos atrás já são "pensados". "Pensados" são um produto finito e não mutável, replicam-se infinitamente. Já deram o que podiam, agora, esgotados, sobrevivem como fantasmas, com capa e sem conteúdo.

Pensar não é ruminar pensados. Pensar é criar novos produtos do conhecimento, é adicionar mais saber, é enxergar com mais precisão ou amplidão, é contextualizar, é aprofundar. Para pensar precisamos de palavras. Com mais palavras temos mais pensar. Palavras se adquirem com a leitura, quanto mais variada melhor. Muitos livros, começando pelos clássicos.

O que define o ser humano é ser um produtor de cultura. A cultura humana tem evoluído desde seus primórdios, nada fica igual, tudo está destinado a evoluir pois sempre descobrimos mais, aprendemos mais, enxergamos mais.

Uma das coisas que descobrimos, e já tem um século, e é que existem fatos psíquicos e não só fatos físicos. Freud nos presenteou com esta ideia. E Jung acrescentou que "real é o que tem efeito". Se começarmos a pensar desta forma, então, a crença de sua linda filha de que ela é feia é mais real do que a sua ou o que o espelho conta. Portanto, não adianta retrucar que ela está inventando coisa. Se seu carro estiver sem gasolina você não gostaria de ouvir, "Deixa disso, é só uma impressão!" O tanque vazio é um fato físico. A crença de sua filha de ser feia é um fato psíquico. Cada um deles precisa ser tratado da forma correta para obter a mudança que desejamos.

Esta é inteligência psicológica, a mais nova forma de inteligência. Por ela diferenciamos o que é da matéria, o que é do espírito e o que é da alma. Vivemos imersos nas três dimensões. Saber tratar de cada uma delas da forma apropriada é sucesso garantido, caso contrário estaremos querendo pregar um quadro na parede com a força da oração, tratar da ansiedade fazendo um curso de tricô e tonificar o corpo no consultório do psicólogo.