Entrevista: Caetano Veloso e Teresa Cristina falam de show que farão no Broward Center

Por Gene de Souza

No dia 18 de outubro,o público da Flórida terá uma oportunidade realmente especial para assistir o melhor da música brasileira. Caetano Veloso, recentemente eleito pela revista Billboard como o artista mais completo do Brasil, irá cantar seus grandes sucessos. Para completar, quem abrirá o show será a cantora Teresa Cristina, que divulgará seu mais recente trabalho “Teresa Cristina Canta Cartola”, lançado nos Estados Unidos pela Nonesuch Records. Os dois artistas conversaram com o GAZETA sobre esse show e como vieram a trabalhar juntos.

Gene de Souza – Você já teve tantas parcerias desde o início da sua carreira, como com os Doces Bárbaros, a época da Tropicália, Chico e Caetano, sua parceria com o Gilberto Gil e, recentemente, com Maria Gadu. Sempre houve esta generosidade e vontade de colaborar com outros artistas. Conte como surgiu esta parceria com a Teresa Cristina? O que faz ela uma cantora especial? Caetano Veloso - Ela é realmente especial. Quando você escuta ela cantar samba, ela é especial mesmo. Ela tem uma elegância que é inacreditável. Eu fiquei muito impressionado quando assisti esse show no Rio, da Teresa cantando Cartola. Ela e o Carlinhos Sete Cordas, o guitarrista que a acompanha, fazem samba em sua essência, com toda sua riqueza e imaginação. Eles transmitem ao público uma profunda emoção e respeito pelo samba. Você pode entender toda a história do samba, simplesmente vendo e escutando eles. Ela é tão elegante... é por isso. Como a gravadora Nonesuch decidiu lançar o CD e DVD dela aqui nos Estados Unidos, eu vim junto para apresentar ela ao público dos Estados Unidos. Eu vou cantar, claro. Mas eu vou cantar porque quero apresentar ela para todos.

Gene - Muitos pensam que samba tem que ter percussão, muita bateria como no Carnaval, mas estas músicas do Cartola também são samba. Caetano - Isso é a essência do samba, na sua mais pura forma.

Gene - Teresa, você já cantou samba, MPB e, inclusive, já gravou um disco com canções de Roberto Carlos. Esse novo projeto é dedicado ao compositor Cartola. Por que ele? Por que um álbum completamente dedicado a esse sambista? Teresa Cristina - Cartola foi um gênio, um grande compositor. Eu amo o Cartola, tanto quanto qualquer mangueirense. Talvez algumas letras dele são tão Mangueira, que uma portelense como eu não pode cantar, mas eu tento!

Gene - Inclusive você fala no CD/DVD do fato de você ser da Portela e estar cantando músicas como “Sala de Recepção”, um dos hinos da Mangueira. Como tem sido isso para você, a reação do público? Teresa - Eles riem muito. Alguns portelenses fazem piada comigo. Mas o meu carinho pelo Cartola e seu trabalho é verdadeiro, é genuíno. Eu escuto estas canções há muitos tempo, e cantei Cartola na Lapa por muitos anos.

Gene - Falando em Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, foi lá que você começou a sua carreira com o grupo Semente, cantando samba até de madrugada. Você imaginava que um dia estaria viajando pelo mundo fazendo shows com Caetano Veloso? Teresa - Nunca! (risos). É realmente um sonho. Não posso dizer que seja um sonho realizado, porque eu nunca sonhei isso. Mas agora está acontecendo e estou muito feliz, e com muitas emoções diferentes dentro de mim. Às vezes eu acho que é uma oportunidade de crescer artisticamente porque eu estou do lado de um artista completo. O Caetano tem uma certa postura no palco. Ele é bem dirigido por ele mesmo. Ele sabe cantar no palco de um jeito que eu não consigo. Eu fico tensa e preocupada com a plateia, mas ele tem essa independência, essa coisa que é muito bonito num artista. É importante eu dizer isso porque realmente é verdade. Eu espero aprender dele mais do que ele fala comigo. Isso é muito importante pra mim. Eu observo ele os detalhes, a escolha do repertório, por exemplo. Nesse show, ele entra e me apresenta primeiro. Esse gesto pra mim me emocionou muito. Antes de eu entrar no palco, ele me apresenta, chama o Carlinhos, e tem muito carinho com a gente. Quando eu termino a minha parte, eu chamo o Caetano e ele volta ao palco e faz um show de mais de uma hora. Esse repertório está incrível, a escolha das canções. Tem músicas ali que eu nunca ouvi o Caetano cantar. A plateia fica emocionada e eu também. Tem canções ali que eu só conhecia na voz de outras cantoras. Agora, estou ouvindo ele cantar, e isso mexe muito comigo.

Gene - Caetano, sobre esse repertório, recentemente você teve a turnê com Gilberto Gil, na qual cantaram uma quantidade enorme de sucessos. E agora, para esta turnê, você está com um repertório completamente diferente, com canções como “Luz do Sol”, “Leãozinho”, “Menino do Rio” e mais. Com tantas músicas na sua carreira, como foi o processo para escolher esse repertório? Caetano - A primeira coisa que pensei foi de não cantar canções do show que fiz com o Gil. Pensei imediatamente em “Os Passistas”, um samba que gravei no álbum Livro (1997). A partir daí, fui escolhendo outras músicas, e foi bom para mim porque fui vendo tudo que tinha escrito ao longo dessas décadas. Quando decidi não usar aquelas canções do show com o Gil, achei que seria difícil porque ali tinha todas as canções mais importantes da minha história. Mas, não, esse outro repertório foi muito revelador, até para mim. Ficou óbvio, mas, ao mesmo tempo, surpreendente para a plateia e para mim e Teresa.

Gene- Vejo no repertório de um show recente que você canta “Cucurrucucu Paloma”, do filme Hable Con Ella, de Almodóvar. No meu programa de rádio Café Brasil, sempre recebo pedidos para tocar esta canção. Caetano - Sim, faz muito tempo que não cantava esta canção. Quando eu estava preparando esse repertório, o presidente Barack Obama escolheu esta música no seu “playlist” pessoal. Quando eu li isso, aí eu decidi incluir essa música no show. (risos)

Gene - Vocês cantam juntos no final do show, certo? Caetano - Ela queria cantar “Miragem de Carnaval”, uma música muito bonita que escrevi anos atrás para o filme Orfeu, de Cacá Diegues. Não é das mais conhecidas, mas muito bonita. A Teresa canta e eu toco o violão. O Carlinhos Sete Cordas também toca com a gente. Cantamos “Tigresa”, que eu adoro, porque temos que modular as nossas vozes durante a música. A mudança de tom soa um pouco estranho, mas bonito, então eu gosto muito. E também “Como Dois e Dois”, uma canção que escrevi para Roberto Carlos e que Teresa aprendeu quando criança e não sabia que era minha. Ela achava que era do Roberto, e agora ela está cantando comigo.

Gene - Sei que a Teresa adora o Roberto Carlos. Caetano - Sim, ela adora. Ela sabe tudo sobre música, inclusive música de outros países.

Gene – E sei também que ela é fã do Iron Maiden. Teresa - Sim! Caetano - Ela é heavy metal! Ela é toda elegante, sambista da Lapa, mas de fato ela é heavy metal. (risos)

Para escutar a entrevista completa, sintonize o programa de radio Café Brasil no domingo, dia 16 de outubro. Haverá um programa especial com músicas dos dois artistas e sorteio de ingressos para o show. Começa as 6pm na 88.9FM em Miami, ou buscando WDNA pelo aplicativo iHeartRadio pelo smartphone ou tablet, ou pelo site www.wdna.org Ingressos para o show estão à venda pelo site www.BrowardCenter.org