Entrevista com Glaciologista (Parte 1) - Pense Green

Por Fernando Rebouças

No ano de 2010, tive a oportunidade de entrevistar o cientista Jefferson Simões, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e primeiro glaciologista brasileiro. Leia a seguir a primeira parta da entrevista.

1 – Prof° Jefferson Simões, para as nossas crianças, o que é Glaciologia e qual relação ela pode ter com o nosso dia-a-dia?

Glaciologia é o estudo do gelo, em todas as suas formas. É claro, estamos interessados principalmente nas geleiras, que constitui a maior parte do gelo do planeta Terra. Algumas curiosidades, 90% do gelo do mundo está na Antártida. É tanto gelo que se colocássemos ele sobre o Brasil, teríamos uma capa de gelo de quase 3 km de espessura!

2 - O senhor esteve mais de 17 vezes na Antártida, considerando todas as viagens, qual foi a mais desafiante?

Minha última missão, no verão de 2008/2009, quando realizamos a primeira expedição brasileira ao interior da Antártica. Nosso acampamento avançado estava a 2.100 km ao Sul da Estação Brasileira Comandante Ferraz, em um local onde a temperatura média é -33°C! Foi a missão mais avançada já realizada por brasileiros.

3 – Nos últimos anos, considerando as mudanças climáticas, quais as boas e más notícias, o senhor presenciou na Antártida?

Creio que a melhor notícia é que temos hoje um rígido protocolo de preservação ambiental da região antártica. Onde todos, inclusive as estações e os cientistas, devem sempre avaliar o impacto ambiental de suas ações. Por outro lado, nos preocupa que área do buraco de ozônio ainda é grande (ainda não diminuiu) e que o norte do continente ainda esteja aquecendo muito rapidamente.

4 – Na sua opinião, há alguma relação entre a Antártida e as fortes chuvas de verão que costumam alagar o Brasil?

Não, diretamente não há.

5 – A Glaciologia no Brasil está no mesmo nível em comparação com outros países como EUA, Alemanha, Rússia?

Ainda não. O programa de Glaciologia do Brasil é um dos mais novos. Enquanto esta ciência teve início no século XIX naqueles países, aqui só iniciou em 1990, quando retornei de meu doutorado na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Mas neste período já estamos com o grupo científico mais forte da América Latina e como forte colaboração com pesquisadores da Alemanha, Chile, EUA e França. Temos agora no país 4 doutores de Glaciologia e o grupo já esta produzindo internacionalmente.