Entrevista com Glaciologista (Parte 2) - Pense Green

Por Fernando Rebouças

No ano de 2010, tive a oportunidade de entrevistar o cientista Jefferson Simões, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e primeiro glaciologista brasileiro. É um cientista que enche o Brasil de orgulho, o professor Jefferson Simões inseriu os estudos em glaciologia no Brasil e em língua portuguesa. Leia a seguir a segunda parte da entrevista.

6 – Qual a diferença em efetuar pesquisas no Brasil, nos EUA, Europa e nas regiões polares? As regiões polares ainda são muito isoladas e de difícil acesso. No caso da Antártica, estamos há milhares de quilômetros da base mais próxima. Temos que montar toda uma estrutura logística, como barracas, motos de neve, tratores polares, roupas especiais, travessias de milhares de quilômetros, isso tudo a temperaturas muitos baixas.

Cabe ressaltar que o único grupo brasileiro que vive nas geleiras polares é aquele que lidero. Mesmo o Programa Antártico Brasileiro trabalha na costa e no oceano. Nós, por outro lado, trabalhamos e vivemos sobre o gelo, dentro do continente. Ou seja, é um ambiente muito agressivo (frio, ventoso, seco, isolado).

7 – Na investigação sobre as camadas de gelo, de todo o histórico atmosférico registrado no gelo, na sua opinião, qual o dado mais misterioso os cientistas ainda busca desvendar?

Duas investigações muito interessantes: a procura de microorganismo (bactérias, polens, fungos), alguns em estado dormente que estão isolados no gelo há milhares de anos (alguns mais de 200 mil anos!) A procura de micrometeoritos encontrados no gelo!

8 – No Brasil, o jovem que possui o interesse em se tornar um “glaciologista” poderá trilhar quais caminhos? 

Glaciologia é um curso de mestrado ou doutorado. Assim, ele ou ela deverá fazer um curso de graduação como Geologia, Geografia, Física, Química. O treinamento em Glaciologia será dado depois. No Brasil, só temos está especialização no Programa de Pós-Graduação em Geociências na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas temos colaboração com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro para formação pessoal na área.

9 – Apesar da destruição da natureza e do aquecimento global, o planeta Terra tem salvação?

Sim, e sempre terá. Temos a consciência de preservar o equilíbrio ambiental pela própria sobrevivência da espécie do homem. Se continuarmos a degradar o ambiente, nós é que iremos pagar o preço.

10 – Quais as esperanças o senhor pode passar para as futuras gerações?

Temos um grande desafio adiante, aprendermos que a qualidade de vida e felicidade não sãodeterminadas diretamente pelo que consumimos. É a nossa capacidade de vivermos em equilíbrio, termos uma escala de valores que respeite o próximo e as outras espécies que determina nossa experiência neste mundo. Este é o desafio para a geração dos meus filhos e netos, e esta é minha esperança para um mundo melhor.