Entrevista com Roberto Sneider, diretor do filme You’re Killing Me Susana

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

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O cineasta mexicano Roberto Sneider sempre se perguntou, quando jovem, porque ele gostava e sentia uma ligação forte com o romance de José Agustín, de 1982, Ciudades Desiertas.

Passado alguns anos, ele chegou a conclusão de que a história do livro, que gira em torno do que ele mesmo descreve como um "relacionamento bastante maduro", conta com veracidade e humor a experiência de um estrangeiro que vem aos Estados Unidos pela primeira vez.

Trinta e cinco anos depois, Roberto adaptou o trabalho de Agustín para as telas grandes, ao lado de Luis Cámara, e foi assim que nasceu o terceiro longa de sua carreira: You're Killing Me Susana (Me Estas Matando Susana, título original em espanhol).

A comédia romântica com um toque dramático leva-nos na busca de Eligio, interpretado por Gael García Bernal, para encontrar e recuperar sua esposa, Susana, que sem falar nada, deixou a Cidade do México para trás para ir a uma conferência de escritores nos Estados Unidos. Além de Gael, estão no elenco Verónica Echegui, Ashley Grace, Adam Hurtung, entre outros.

Durante a entrevista com o diretor, falamos sobre a escolha de Gael e de Verónica, o machismo e muito mais. Confira trechos da entrevista:

Jana - Todos os seus três filmes são baseados em romances: Two Crimes, Tear This Hear Out e Me estas matando Susana. Por que adaptar romances? Eles tem agluma coisa em comum?

Roberto Sneider - Eu amo literatura. Li os três romances quando eu era criança. São romances com personagens maravilhosos e grandes e bons diálogos. Acho que os três são explorações do que é ser um mexicano. Os três têm personagens vitais e ativos.

Jana – Por que você escolheu o Gael García Bernal para ser o portagonista?

Roberto - Quando decidi que queria fazer esse filme e comecei a pensar em quem poderia desempenhar o papel, fiz vários testes com atores. Inicialmente, eu queria alguém que tivesse a pele mais escura e com características mexicanas, mas a atitude teria uma importância também. Então, pensei: "Eu preciso de alguém como Gael!" Mas, naquela época, ele era muito jovem para a personagem. Eu não acho que seria bom ter alguém tão jovem envolvido em uma relação tão complexa. Felizmente ou infelizmente, levou anos para eu fazer esse filme. Então, alguns anos passarm e Gael cresceu. Aí, no momento certo, pude juntar a personagem com Gael; ele tinha exatamente a idade certa para interpretar Eligio. Eu acho que foi crucial para a persoangem e para a história ter escolhido Gael. Eligio tem este incrível senso de humor. Eu senti que Gael poderia capturar sua vulnerabilidade e ao mesmo tempo o seu grande entusiasmo pela vida.

Jana – Por que a atriz espanhola Verónica Echegui era perfeita para ser Susana?

Roberto - No romance, Susana é mexicana. Uma das razões, que foi importante, o filme é sobre alguém que ama sua esposa, que não é um machista, mas vive me uma sociedade machista. José Agustí levou essa idiossincrasia para os Estados Unidos, onde tais atitudes não são tão normais. Pensei que seria interessante ter uma atriz espanhola para ser a esposa, porque também ela não está tão acostumada e não aceita esse comportamento, virando mais um obstáculo na relação. Também, durante as leituras de cenas entre Gael e Verónica, havia uma química especial. E eu gostei do fato de que ela ser vulnerável e ser muito bonita, o que torna ainda mais difícil para um homem que está lutando contra o comportamento machista.

Jana – Você pode explicar um pouco do machismo abordado no filme?

Roberto - Eligio e Susana eram um casal progressista na época que José escreveu o livro. Eligio nunca falaria que era ‘macho’. Mas, naquela época, a sociedade aceitava muito mais aquelas atitudes machistas. Quanto isso mudou? Não sei, acho que muitos de nós agora acham que o machismo é algo realmente ruim e nós não somos mais assim. Mas é algo cultural. Acho que foi isso que José Agustín queria explorar. Ao mesmo tempo, acho que no fim das contas tudo que Eligio queria era que Susana demostrasse seu amor por ele.

Jana – Eu percebi que Eligio tem uma ideia da cultura americana bem diferente...

Roberto - É interessante porque ele não está interessado em se adaptar. Ele se identifica muito com sua cultura mexicana e tem uma atitude defensiva em relação aos americanos e tenta compartilhar sua visão do mundo. Ele não consegue se adaptar também, o que faz com que algumas cenas fiquem divertidas e refrescantes.

Confira o trailer: