Entrevista com Sergio Dias.

Por Gazeta Admininstrator

Por Gene de Souza

Gene: Como surgiu a idéia de tocar no Barbican Center? Como foi que Os Mutantes voltaram? Por que agora?

Sérgio: A volta dos Mutantes aconteceu da forma que eu sempre tinha imaginado. Já houve várias tentativas no passado de juntar o grupo de novo, ofertas absuradas megalomaníacas, muito dinheiro, etc. O que aconteceu agora foi que o Barbican fez uma exposição de vários meses dedicada à Tropicália. Alguem lá falou com o diretor do centro que não se podia fazer um projeto assim tão grande sobre a Tropicália e não incluir Os Mutantes, não faria sentido.

Esta informação acabou chegando até a imprensa da Europa e depois Brasil e EUA, o que resultou em algumas matérias dizendo que os Mutantes iriam tocar em Londres...Eu tinha tocado em Londres um tempo atrás na casa de shows Guanabara, mas como artista solo, então isso botou mais lenha na fogueira. Eu não sabia nada daquilo então comecei a prestar mais atenção porque nunca tinha acontecido dessa forma.

Eu liguei para o Liminha (antigo baixista e agora produtor conceituado), e para o meu irmão Arnaldo, e o Dinho (baterista original) e eles não sabiam de nada. Nessas conversas começamos a falar realmente da possibilidade de voltar. Porque não? Quando o Dinho falou “ Se vocês quiserem eu toco”, eu senti que a coisa era séria mesmo.

A partir dai nós resolvemos nos encontrar aqui no meu estúdio em São Paulo e tocar um pouco juntos para ver no que dava. A mágica ainda estava lá. Claro que o Dinho e o Arnaldo estavam um pouco enferrujados mas a vontade coletiva, o espírito dos Mutantes estava lá. Então naquele dia no estúdio nós decidimos que a gente iria aceitar o convite de Londres. Foi isso!

Gene: E a Zélia? Como que ela entrou nessa historia?

Sérgio: A Zélia é demais. Foi realmente uma benção a entrada dela no grupo. Eu conheci a Zélia apenas alguns meses atrás...Tivemos uma conexão imediata, como se fossemos velhos amigos... Ela completou a banda de uma maneira que ninguém esperava. Agora não posso imaginar a banda sem ela. Ela é oficialmente parte da banda, não tem essa coisa de convidada especial.

Quando chegou o momento de juntar a banda para fazer o show do Barbican, claro que eu liguei para a Rita Lee. Ela foi muito delicada em recusar o convite dizendo que ela tinha acabado de se tornar avó e queria passar o tempo com a familia. Pelo menos esta foi a desculpa que ela deu para mim.

Gene: Nos anos 70 Os Mutantes subiam no palco com apenas 3, 4 ou 5 músicos. Por que agora a banda tem 10 pessoas?

Sérgio: A nossa intenção é ser completamente fiel ao som que foi criado naquela época. Me refiro às gravações dos Mutantes que tinham muitos “over dubs” (instrumentos gravados um por cima do outro), muitos efeitos...Tem muito ritmo na música dos Mutantes, muita percussão, então agora temos a percussionista Simone de Souza.

Também temos o Henrique e o Vitor nos teclados que cuidam da parte orquestral para a gente poder tocar as músicas impossivies com “Caminhante Noturno” e “Dom Quixote”. Estamos tocando tudo ao vivo mesmo sem computadores.

Gene: O primeiro show no Estados Unidos vai ser no Webster Hall em New York. Isso vai ser muito especial para você pessoalmente porque você morou la durante 10 anos, certo?

Sérgio: Com certeza. Vai ser muito bom rever os amigos. Quando eu morei em Nova Iorque, ninguém sabia quem eu era, quem eram Os Mutantes. Foi uma época muito boa da minha vida. Eu me considero um quarto americano porque morei lá tanto tempo. Naquele tempo eu pude tocar com músicos do mais alto calibre como o guitarista John McLaughlin, o Airto Moreira e Flora Purim, L.Shankar e muitos outros.

Gene: E depois de tudo isso você volta agora com Os Mutantes pela primeira vez nos Estados Unidos.

Sérgio: O fato mais importante disso é que nós vamos para lá porque o povo quer ouvir a nossa música...Não tinhamos tocado uma nota sequer em mais de 30 anos e já tinhamos shows na Inglaterra e Estados Unidos. Isso é algo magico mesmo! Isso aconteceu naturalmente contra todas as regras normais de artistas que tocam nesses teatros importantes. Mas isso é tipico dos Mutantes, estar fora das regras, fora das normas. Tinha que acontecer assim.

Gene: Alguns anos atrás quando o Arnaldo Baptista começou a aparecer mais na mídia e fazer entrevistas, ele foi no Programa do Jô, que lhe perguntou porque que ele não voltava a tocar com Os Mutantes. O Arnaldo respondeu que nunca iria tocar com você (se referindo ao Sergio Dias) porque você usa guitarras Fender, que ele acha horrível. O Jô e a platéia acharam aquilo muito estranho e engraçado ao mesmo tempo. Isso e verdade?

Sérgio: (risos) Não vou usar a Fender. Vou usar a Regulus que eu usava nos Mutantes. Vamos usar todo o equipamento daquela época no show. Mas o Arnaldo é assim mesmo. Ele fala coisas que a gente nem imagina. O Arnaldo é uma figura muito importante no universo da música brasileira por causa de sua obra. Ele faz parte da história da música brasileira. Ele é um formador de opinões, um criador, um inovador. O movimento do rock brasileiro sem regras, sem limites foi ele quem começou. Ele continua sendo a mesma pessoa. É uma felicidade muito grande poder tocar com ele.

Gene: Porque você acha que os Mutantes voltaram no exterior e não no Brasil primeiro?

Sérgio: Eu já pensei muito sobre esta questão. Se os jornalistas e o público estão perguntando isso, imagine eu que estou dentro da banda? Se o primeiro show tivesse sido aqui no Brasil a crítica teria sido enorme. Infelizmente a imprensa aqui no Brasil pode ser muito cruel e injusta,.... é muito triste. Já publicaram notas aqui dizendo que a gente voltou por dinheiro e fama, quando não foi nada disso. Nós voltamos para nos divertir. Acho que esse chamado que veio de fora do Brasil representa uma vontade de reviver esta história... Não tocamos no Brasil ainda porque o chamado mais forte veio de fora.

Gene: Quais sao os planos para os proximos meses, para 2007? O grupo vai continuar tocando. Vai ter disco novo?

Sérgio: Com certeza. Nós gravamos o show do Barbican para CD e DVD. Logo depois do show em Miami eu vou para Paris para a mixagem final. Depois disso vamos ter também um longa metragem sobre a banda. ...Eu acho que para toda ação existe uma reação. No caso da música, a reação certamente será com mais música. Eu e a Zélia já começamos a compôr, brincando com algumas idéias. Em setembro eu vou para a França me casar e depois volto ao Brasil em outubro. Nessa época deve ser lançado o disco ao vivo e depois faremos shows no Brasil. Depois disso vamos pensar em material novo.

Gene: O que você tem a dizer ao público de Miami?

Sérgio: Olha, tocar no Barbican foi tão bom que a gente tá louco para tocar de novo. Eu sei que o público de Miami vai ser animado e vamos tocar muito.

Especial Os Mutantes

Domingo dia 30 de julho, 6pm-8pm na 88.9FM em Miami sintonise também na internet pelo site www.wdna.org

Duas horas só de Mutantes e entrevista com Sergio Dias.