Entrevista com a diretora brasileira de "Que horas ela volta?", possível candidato ao Oscar

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

Pode-se falar que já fazia um bom tempo que o cinema brasileiro não era ovacionado em todas as suas exibições e que tinha uma opinião bem positiva da crítica internacional. Sendo assim, as atrizes Regina Casé e Camila Márdila, ganharam o Prêmio Especial do Júri na categoria de Interpretação de Cinema Mundial no Festival de Sundance e o Prêmio de Melhor Filme para o público no Festival de Berlim. Os dois festivais aconteceram em janeiro e fevereiro deste ano, respectivamente. Regina e Camila interpretam mãe e filha, a empregada e a filha que vai de Pernambuco, viver na casal dos patrões ricos, interpretados de uma maneira impecável também pela premiada atriz Karine Teles e Lourenço Mutarelli. Michel Joelsas também está no elenco. Um filme que vale a pena assistir por ser humano, realista e atual.

Entrevista

Anna esteve em Miami para divulgar o filme não só para os brasileiros como também para os americanos. Confira trechos da entrevista:

Jana – Qual foi a sua inspiração para escrever esse roteiro? Anna – Foi um processo longo, que levou quase 20 anos para acontecer. Na verdade, a inspiração veio da minha história pessoal: a empregada que tivemos em casa quando eu era pequena e ficou com meus pais durante 30 anos. De hoje também, porque eu também tenho uma empregada. Tem a ver com a minha história, mas também é a história de outras mulheres… mulheres, filhas, patroas, empregadas… uma mistura.

Jana – Você esperava ter todo esse sucesso fora do Brasil? Anna – Não! Mas quando eu cheguei nessa versão final do roteiro, eu achei que era muito forte. Quando nós filmamos e eu assisti a atuação da Regina, eu tive mais certeza que seria forte. Quando nós finalizamos, eu tive certeza que seria um sucesso. Não achava que chegaria a toda essa crítica positiva no exterior, mas sabia que iria causar um ‘barulhinho’.

Jana – Como você se sente ao ter seu filme escolhido para representar o Brasil na pré-seleção do Oscar? Anna – Eu me sinto muito bem! O filme foi lançado e duas semanas depois veio essa indicação. Com isso, a bilheteria dobrou. Normalmente acontece o contrário. E pra mim, isso já foi uma grande realização. Agora é só esperar e ver se vamos ser nomeados.

Jana – Como foi o processo de seleção da Regina e Camila? Anna – Eu sempre quis trabalhar com Regina. Na minha opinião, ela é uma das melhores atrizes brasileiras. Ela fez o filme “Eu Tu Eles” e sua atuação foi muito boa. Quando eu lhe enviei o roteiro, ela disse: “Eu quero fazer esse filme”. Então, para a personagem da Val eu nunca pensei em outra atriz a não ser ela. Quanto a Camila, ela nã foi minha primeira escolha porque queria uma garota com a pele mais escura, mas todas as outras que fizeram teste estavam sendo sensuais. Foi graças à minha diretora de elenco, Patricia Faria, que insistiu na Camila e disse pra eu olhar mais de perto, pois ela não estava sendo sensual.

Jana – Na sua opinião, o cinema brasileiro é machista? Anna – Lá no Brasil, uma mulher fazer cinema, tudo bem, mas quando ela passa a ter destaque, pode ser um problema, porque esse mundo do dinheiro, dos negócios, do sucesso é predominantemente masculino. Eu já havia passado por esse tipo de discriminação no início da carreira. Outra coisa, como filmes com sucesso e uma boa crítica são feito por homens, ficam surpresos quando é feito por uma mulher.

Jana – Você pode me dar um exemplo que já tenha acontecido com você? Anna – Quando estava no Festival de Berlim, por exemplo, nós vendemos esse longa para um distribuidor estrangeiro. Eu e meu coprodutor tivemos uma reunião com ele. O distribuidor achou o filme incrível, com personagens memoráveis. Durante a conversa, ele só olhava para o coprodutor. Em nenhum momento, olhou para mim. Foi como sugerir que, se o filme é bom, o responsável por ele é um homem, e não uma mulher. Isso é só um exemplo entre outros mais.

Jana – Qual o conselho que você daria para uma menina que está começando a carreira de atriz, diretora, produtora…? Anna – É um dos negócios mais perigosos do mundo, porque é arte e business ao mesmo tempo. É um trabalho feito em vários níveis. Mas, acredito que não pode ter pressa, tem que ter humildade e ter o espírito de aprender, perguntar.

O filme “The Second Mother” tem estreia prevista para as seguintes salas, no dia 25 de setembro: • Miami: MDC’s Tower Theater, na Miami Beach Cinematheque. • Broward: no The Classic Gateway e Silverspot Coconut Greek. • West Palm: Living room Theaters, Movies of Delray e Movies of Lake Worth.