Escândalo de grampos atinge presidente de Portugal

Por Gazeta Admininstrator

Presidente Jorge Sampaio foi um dos que teve telefone grampeado
O jornal português 24 Horas revelou nesta sexta-feira que todas as principais figuras do Estado português foram vítimas de grampo telefônico durante as investigações de abuso sexual em um internato para menores.
Tendo como desculpa a necessidade de investigações para uso em um processo sobre casos de pedofilia em um lar para crianças de Lisboa, durante cinco meses foram ouvidos telefonemas pessoais do presidente da República, Jorge Sampaio, do então primeiro-ministro, António Guterres e do ex-presidente do Parlamento José Cardoso Costa, entre outros.

O número de telefones de políticos grampeados chegou a 208, num total de 79.339 telefonemas ouvidos entre 10 de dezembro de 2001 e 7 de maio de 2002.

A Portugal Telecom, empresa de telefonia responsável pelas gravações, emitiu nesta sexta-feira um comunicado dizendo que apenas cumpriu a lei e que todos os grampos foram realizadas com autorização de um juiz.

O jornal 24 horas, no entanto, afirma não ter encontrado a autorização judicial anexada ao processo.

Chantagem

A pessoa com maior número de telefonemas escutados foi o ex-presidente Mário Soares, que na época não ocupava qualquer cargo político e não tinha nenhuma ligação com o escândalo de pedofilia: foram gravadas 3.381 ligações da sua casa e 515 da casa registrada no nome da sua mulher, Maria Barroso.

António Guterres teve 870 telefonemas gravados.

Para o analista político Francisco Saarsfield Cabral, o objetivo desses grampos deve ser a chantagem.

“Há uma suspeita de que as gravações dos telefonemas sejam utilizadas para influenciar políticos em relação a certas decisões. Muitas escutas vêm sendo publicadas em vários momentos na imprensa”, disse.

Inquérito

O procurador-geral da República, Souto Moura, foi chamado pelo presidente da República para dar explicações. Na saída, falou pouco aos jornalistas.

“É uma situação que tem que ser investigada. Vai ser instaurado um inquérito o mais rigoroso possível para apurar a correspondência ou não em relação às notícias publicadas e daí se extrairão as devidas conseqüências”, afirmou.

O processo de pedofilia relativo à instituição Casa Pia, que aloja crianças sem recursos na região de Lisboa, está sendo julgado há mais de um ano.

Entre os réus encontra-se um dos mais famosos apresentadores de televisão de Portugal, Carlos Cruz, um médico pediatra que atendia a elite do país, João Ferreira Diniz, e o embaixador português Jorge Ritto.