Escrevendo, falando e ouvindo: o português gerúndio

Por Rodrigo Maia

“Vou estar escrevendo o texto de hoje para você estar entendendo. Eu vou estar falando sobre o gerúndio, pensando que você vai estar prestando atenção. Eu vou estar ficando feliz, imaginando que você vai estar aprendendo a Língua Portuguesa.”

O que acharam da construção textual que acabei de fazer? Muitos comentários, muitas análises e muitos palpites sobre o tal do gerúndio. Mas, afinal, o que é o gerúndio? Quando e como devemos usá-lo? Essa é uma questão polêmica em Língua Portuguesa.

Então, vamos começar a nossa conversa. Vale lembrar que é apenas o início. O assunto “gerúndio” ainda vai render muitos textos nesta coluna.

Iniciemos pelo conceito. Gerúndio, assim como o infinitivo e o particípio, é uma das formas nominais do verbo, isto é, uma forma verbal que não aceita flexão de tempo e modo. A forma nominal perde algumas características de verbo e ganha outras de nome. Por isso, a designação “nominal”.

Do ponto de vista da função, o gerúndio indica uma ação contínua, isto é, algo que está em andamento. É um processo verbal ainda não finalizado. Neste caso, o exemplo mais clássico é: “A empresa está lançando um novo produto”.

Em orações que indicam circunstâncias como modo, causa e tempo, por exemplo, o gerúndio aparece da seguinte forma:

“Chegando (tempo) em casa, vou à piscina.”

“Entrou em casa cantando (modo) aquela música.”

Outra possibilidade de uso do gerúndio é no fim do período, com valor de oração aditiva.

“Minha mãe bateu a porta do carro, quebrando (e quebrou) o vidro.”

Repare no período acima e perceba: o sujeito da oração que possui o gerúndio é o mesmo da oração anterior. Quero dizer que “minha mãe” é o sujeito do verbo bater e do verbo quebrar. Esse detalhe é importante, pois, caso o sujeito seja diferente para cada verbo, o uso do gerúndio pode ocasionar falha na coesão. Veja:

“Os professores precisam se qualificar sempre, aumentando sua competência em sala de aula”

Veja que não são os professores que, diretamente, vão aumentar sua competência em sala de aula, mas sim o fato de eles buscarem uma qualificação. A qualificação é que vai aumentar a competência dos professores em sala de aula.

E como resolver o problema textual? Uma das formas é retirar o gerúndio e gerar coesão com a oração anterior.

“Os professores precisam se qualificar sempre para aumentar sua competência em sala de aula.”

O excesso de gerúndios, também conhecido como gerundismo, faz com que alguns períodos fiquem mal conectados. Vamos a outro exemplo:

“Em sala de aula, os alunos não prestam a devida atenção, podendo-se concluir que a atuação institucional precisa ser mais eficaz, trazendo novas abordagens educacionais”.

Para o texto ficar mais claro, é preciso eliminar os gerúndios e colocar elementos de coesão textual. Segue uma sugestão:

“Em sala de aula, os alunos não prestam a devida atenção. Pode-se concluir que a atuação institucional precisa ser mais eficaz por meio de novas abordagens educacionais.”

As sugestões passadas não são, de forma alguma, as únicas alternativas para eliminar o gerundismo. Precisamos analisar cada exemplo. O importante mesmo, em uma produção textual da modalidade escrita, é ser claro nas ideias que precisam ser passadas ao leitor. Sem dúvida, o excesso de gerúndio prejudica a coesão e, consequentemente, a coerência do texto.