Escultura de Niemeyer será instalada à beira do rio Sena

Por Gazeta Admininstrator

O arquiteto Oscar Niemeyer, 97, apresentou ontem no Rio de Janeiro seu mais recente projeto: uma escultura a ser instalada em Paris, na margem oposta da Biblioteca Nacional da França, à beira do rio Sena, por ocasião do Ano do Brasil na França.

Arquiteto Oscar Niemeyer com a escultura " A Mão e a Flor "
Com oito metros de altura, a obra é composta por duas linhas em metal, uma delas lembrando uma flor. A escultura é denominada "A Mão e a Flor". A construção é financiada pelo grupo Carrefour, enquanto a instalação e a manutenção serão pagas pela Prefeitura de Paris.

"Fico muito feliz em realizar este projeto, sou muito grato à França, só pude trabalhar lá graças a um decreto de André Malraux [então ministro da Cultura]", disse Niemeyer.

O arquiteto viveu em Paris na virada da década de 60, onde construiu a sede do Partido Comunista Francês. "Depois de Paris, viajei muito por outros países, como Itália e Argélia, mas os anos que passei na França nunca vou esquecer, pois ficava nos cafés vendo as turmas mais exóticas e as mulheres mais lindas caminhando", contou Niemeyer, de seu escritório, em Copacabana, de onde se tem uma visão completa da praia.

O arquiteto define a escultura como um monumento pela paz: "As duas linhas representam a solidariedade entre dois povos." Apesar da longa carreira como arquiteto, Niemeyer só recentemente começou a montar esculturas públicas. "Foi o desenho que me levou à arquitetura, mas depois de tantos anos trabalhando, percebi que a arquitetura acontece na minha cabeça. Então, sem querer, o desenho me levou à escultura", disse o arquiteto brasileiro mais reconhecido internacionalmente, com mais de 600 obras em todo mundo.

Oscar Niemeyer anunciou também que irá realizar outra escultura na capital francesa, a convite do Ministério da Aeronáutica, em homenagem a Santos Dumont. A obra, entretanto, ainda está em fase de negociação e não tem local nem data definidos para a sua instalação.

Capitalismo decadente

O anúncio foi feito a jornalistas brasileiros e franceses, curiosos em saber a opinião de Niemeyer sobre o governo Lula. "Ele é um homem honesto, mas o problema que ele tem é que ele quer melhorar o capitalismo, e o capitalismo é um sistema decadente", disse Niemeyer. Em tom missionário, o arquiteto enfatizou que o "importante é unir a América Latina para resistir contra o que vem por aí". "Vivemos num período de expectativa, do inesperado, por conta da guerra iniciada pelo governo Bush contra o Iraque."

Ainda com discurso de militante comunista, Niemeyer afirmou que acredita em transformação: "Como os pobres representam a maioria, creio que um dia esse mundo ainda vai mudar".

Humanista, Niemeyer defendeu, como costuma fazer, que "o que importa é a vida e não a arquitetura". "Prefiro ler um livro de Camus a um livro de arquitetura", afirmou.

A instalação da escultura era um projeto da BrasilConnects, do banqueiro Edemar Cid Ferreira. Com a falência do Banco Santos, os projetos desenvolvidos pela instituição passaram a ser custeados por outras empresas, caso agora do grupo Carrefour. Em setembro, Paris ainda recebe duas exposições planejadas pela BrasilConnects, duas instalações de Marepe, no Centro Pompidou, e uma mostra de Miguel Rio Branco, no Museu Europeu da Fotografia.