Escutar é preciso - A difícil tarefa de suportar o silêncio dos filhos

Por Roberta Dalbuquerque

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Uma cena emblemática dos filmes de high school americana que eu sempre assistia na sessão da tarde é a do jovem que ao fechar a porta do seu quarto com força, grita, desaforado para a mãe: “Me deixe sozinho!”. Quase sempre a câmera entra no quarto e não nos revela o que se passa com a mãe, que tenta conversar com o garoto. Quem já ficou do lado de fora sabe que essa é uma das piores sensações do mundo. Ser pais de adolescentes (ou de pré-adolescentes) é uma montanha-russa de barulhos e silêncios. E o segundo grupo, acredite, é o pior. Deixar sozinho alguém que acordou com um bom humor contagiante e voltou da escola com cara de poucos amigos – choroso, triste – preocupa. É uma deixa danada de boa para treinar a tolerância ao silêncio. Não o que dura até a semana seguinte nem o que ignora a demanda ou que se aborrece e deixa pra lá, mas o silêncio que espera a hora certa de ser substituído pela escuta. Li recentemente um artigo no New York Times sobre a dificuldade que adolescentes têm de compartilhar frustrações e dilemas com os pais. Lisa Damour, autora do texto, aponta quatro medos que calam os jovens:
  1. Eles se preocupam que os pais tenham uma reação negativa.
  2. Antecipam repercussões desagradáveis
  3. Têm receio de que os pais dividam suas angústias com outros adultos
  4. Acreditam que a conversa não resolverá os problemas que enfrentam.
A partir dessas pistas, vale a pena pensar em como a nossa escuta pode ser mais produtiva e acolhedora. Esperar o momento que o filho está pronto para falar, não bombardeá-lo de perguntas insistentes é um bom começo. Ficar atento à escolha de palavras, e aguardar o fim da história para só depois falar, pode ajudar muito também. E para pôr essa escuta em prática, será necessário aprender a lidar com o nosso próprio silêncio. Outra lição difícil. Filhos, essas fábricas de desafios.