Especial de imigração - Série ?Cruzando as Fronteiras?

Por Gazeta Admininstrator

Ilegais ficam entre a vida e a morte durante travessia pelo deserto na fronteira de México e Estados Unidos

Por Silvana dos Santos

As estações primavera e verão, as mais quentes do ano, são as mais perigosas para aqueles que se arriscam atravessando a fronteira entre México e Estados Unidos. Só entre novembro de 2004 e maio de 2005, o calor de 50º célsius causou a morte de 166 imigrantes no deserto do Arizona. E, pior: desde o início de junho, esse número só tem aumentado.

Morrer ou ser resgatado ?

Para guiar os ilegais pelo deserto e fazer com que a travessia seja a mais rápida possível, os coiotes deveriam permanecer sempre junto do grupo. Só que, não raro, abandonam os imigrantes por medo da patrulha.
Um caso como esse aconteceu na última quarta-feira (13), quando um grupo de ilegais abandonado pelo respectivo coiote se perdeu próximo de Arivaca no Sul de Tucson no Arizona após vagarem por horas sem água ou alimentos. Para não morrerem desidratados, eles utilizaram o celular do coiote e ligaram para 911. Helicópteros do resgate foram enviados em busca dos imigrantes antes do anoitecer.
Infelizmente, histórias como essas são cada vez mais comuns. A brasileira de Pará (MG), Silvana Abadia, também foi resgatada no deserto após cruzar a fronteira. Utilizando um aparelho celular que carregava em seu bolso, ligou para 911 pois estava sem água e alimentos. Ela teve que abrir mão do “sonho americano” em prol de sua vida. Hoje, ela espera por sua deportação para o Brasil.

Realidade em números

Só durante o verão de 2005, 551 resgates foram realizados pelo Borstar – Border Patrol Search Trauma and Rescue Team (grupo de resgate da patrulha de fronteira).
O agente Bellavia estima que os resgates cheguem a mais de 600 na estação. Para atender a demanda, ele disse que mais 20 helicópteros devidamente preparados estão disponíveis.
Mas, infelizmente, nem sempre o resgate chega a tempo. O número de mortes no setor de Tucson (AZ) chega a 114, em Yuma (AZ), 20 e em McAllen (TX), 20.
No ano passado os recordes médicos no Arizona contaram 121 mortos encontrados somente em julho no Estado. Um total de 221 corpos foram localizados no final do ano fiscal, que terminou em 30 de setembro de 2004.

“No more deaths”

Cansados de contabilizar tantas mortes, alguns grupos humanitários como o “No More Deaths”(Não Mais Mortes), do Arizona, fazem um trabalho assistencial e polêmico para reverter esses números. Organizados para salvar os imigrantes que padecem no deserto, eles distribuem água, alimentos, mapas e celulares para os ilegais pedirem resgate, quando e se precisarem.
Em resposta às prisões feitas recentemente de dois voluntários pelos agentes da patrulha de fronteira, “No more deaths” está chamando todos os membros de comunidades e simpatizantes com a causa para patrulharem rodovias e distribuir comida, água e celulares para os casos de emergência.

No começo do mês de julho, o grupo distribuiu mapas nas cidades ao sul da fronteira, mostrando localizações de alarmes de emergência e estações de água no deserto, com o objetivo de salvar vidas. Agora, de 24 a 30 de julho, os voluntários têm planos de “inundar o deserto” e ajudar os ilegais.

“No More Deaths” possui também centros que oferecem refeições para imigrantes que estão de passagem. As bases filiadas ao grupo estão localizados no México e Estados Unidos.

Procedimentos em caso de morte

É triste, mas é realidade. Diante do aumento no número de brasileiros que arriscam as vidas nas fronteiras, se torna importante obter informações sobre os procedimentos em caso de morte nos Estados Unidos.
Sobre o assunto, o Ministro Luiz Fernando Mendonça, do Consulado Geral em Miami, informou que o órgão se ocupa de todos os casos de falecimento de brasileiro (e questões conexas, como traslado de corpo) na sua jurisdição, desde que o óbito seja levado ao conhecimento do Consulado. “Em muitos casos, a família do brasileiro falecido prefere (por diversas razões, incluindo de natureza econômica, uma vez que o translado do corpo para o Brasil é um processo dispendioso) sepultá-lo nos Estados Unidos e não nos comunica a ocorrência. A questão do falecimento de brasileiros ao cruzarem a fronteira escapa da jurisdição do Consulado em Miami”, disse.

Para fazer o registro de falecimento do brasileiro, é necessário comparecer ao Consulado-Geral munido da certidão de óbito. A autenticação (legalização) da certidão é gratuita.
Se a família preferir embarcar o corpo embalsamado ou cremado para o Brasil, é necessário apresentar ao Consulado os seguintes documentos:
a) Certidão de óbito. É importante ter em mente que muitas vezes mais de uma certidão de óbito original será necessária no Brasil (banco, INSS, partilha, cemitério, cartório etc.). Os originais podem ser obtidos na funerária.
b) Certificado de embalsamamento ou cremação notarizado e certificado pelo Escrivão do Condado (County Clerk).
c) Certificado sanitário (non contagious disea-ses), emitido pelo HRS (Health and Rehabilitation Service).
d) Autorização para embarque emitida pelo HRS .
e) passaporte brasileiro do falecido.
f) US$20,00 (vinte dólares), em ordem de pagamento do correio norte-americano, por cada documento legalizado pelo Consulado Em caso de certidão de Óbito pelo Correio, enviar, junto com a documentação e as ordens de pagamento, envelope de retorno auto-endereçado do correio americano (U.S. Postal Service) do tipo “Express Mail”, que possui sistema de rastreamento (Tracking Number). Não serão restituídos documentos por outros meios (DHL, FEDEX, UPS, AIRBORNE e outros). O endereço é: 80 SW 8th Street. - 26th Floor - Miami - FL 33130-3004 (USA). Mais informações, tel (305) 285-6200.