Esse avião não vai cair. Ou: Saia da zona de conforto!

Por Adriana Tanese Nogueira

Sair_da_Zona_de_Conforto

Você tem um trabalho sem graça, paga bem, mas não é o que você quer para sua vida, não tem nada a ver com você. Você não se identifica com aquilo que faz, nem com seu estilo de vida. Você devotou seus melhores anos para a família, afinal alguém tinha que segurar as pontas e uma mãe precisa de seu filho tanto quanto este precisa dela. Maternidade é vínculo de duas mãos, poderoso.

Você trabalhou mesmo quando seu filho era pequeno demais para estar longe de você, isso lhe deixou profundas marcas. Você passou por depressão, é natural. Pós-parto é hormônios também, a fêmea em você queria exercer seu papel, você não a ouviu e ela emudeceu mas infeccionou. Seu marido é bacana, mas não enxerga o tamanho de seu sacrifício – mas será que você o enxerga?

Você acorda um dia e se dá conta de que a realidade mudou à sua volta e de forma irreparável. Não está ruim, mas não está bom. Você é do tipo de pessoa que precisa ter um motivo para deixar uma situação em busca de outra, não lhe basta simplesmente abraçar e assumir a sua verdade interior, que grita que aquilo não serve para você. Você precisa de razões externas porque não dá valor suficiente à sua voz interior, à necessidade íntima, intrínseca de seu ser que precisa evoluir. Evoluir é florescer. É um risco, ninguém sabe a priori em que flor se tornará. Evoluir é entregar-se ao chamado interior.

Nascemos para aprender, para crescer, nos desenvolver. Ficar na mesma situação por mais tempo do que necessário (para sua evolução) é o mesmo que ficar presos numa jaula. A depressão se faz inevitável e mesmo que você a cubra com mil e uma atividades (mesmo culturais), ela está lá. O agito serve justamente para se distrair do mal-estar que de dentro clama para ser ouvido.

Ouvir dói, mas ouvir liberta. É uma dor que, como a do parto, começa e termina, é saudável, não patológica. É a dor que prenuncia um novo nascimento: o seu. Entrega-se e acredite que este avião não vai cair. E não irá cair pelo simples fato de que é levado por um vento que vem das entranhas do universo, do âmago do ser que está há milhões de anos em seu gigantesco processo de desenvolvimento, que é um desabrochar e um conhecer-se a si mesmo. Você é parte dele. O ser só se conhece e evolui se você lhe der essa chance ao aceitar e abraçar e arcar com sua própria evolução. Não se trata de ser uma “pessoa melhor”, se trata de ser uma “pessoa maior”. Maior em consciência, visão, coragem, perspectiva e conhecimento. Maior.

Passo-a-passo para o salto:- Quando disser “sim” para qualquer um que seja, pergunte-se se é isso mesmo que quer dizer; - Quando tiver vontade de dizer não, observe a tensão que emerge, a ansiedade, o sentimento de culpa. Aguente, não faça nada só observe; - Quando conseguir dar seu não, observe as consequências dentro de você e continue, porém, fazendo o que queria fazer; - Repita esse movimento até se tornar mais “normal” e você se tornar mais forte conseguindo sustentar a tensão; - Dê seu voto de confiança ao que deseja fazer que vem lá do profundo de si: qual é o primeiro passo concreto? - Seja honesto consigo próprio: cuidado com a auto-sabotagem. O lobo perde o pêlo mas não o vício, o que significa que sair da antiga zona de conforto é um processo que será testado muitas vezes. - Respire fundo e continue adiante.