“Esse filme eu já vi”. E o povo brasileiro também - Editorial

Por Simone Raguzo

[caption id="attachment_95440" align="alignleft" width="300"] Ex-presidente Fernando Collor de Mello e a atual presidente Dilma Rousseff[/caption]

O assunto do momento no Brasil tem sido a possibilidade de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). De um lado, a ala de eleitores petistas que afirma que não passa de intriga da oposição e de “coxinhas”, com respaldo de de juristas que defendem a falta de embasamento para que a medida se conclua. Do outro, opositores (obviamente com seus interesses políticos) e grande parte da população, farta de tantos problemas e escândalos, que pedem o afastamento da presidente do cargo que ela ocupa há quase 5 anos.

Essa semana, Dilma disse que a “ação do governo não vai ser inviabilizada pela oposição, faça ela quantos pedidos de impeachment fizer”, afirmando ainda que o seu governo não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção.

Quando questionada sobre possíveis doações recebidas pelo seu partido durante a última campanha, Dilma desconversa e acusa Aécio Neves (PSDB) de ter, igualmente, se beneficiado  de doações de grandes empreiteiras investigadas na operação Lava Jato. Perguntada sobre as “pedaladas fiscais” – atrasos do governo no pagamento a bancos públicos – ela se defende, novamente,  acusando. “São atos administrativos que foram usados por todos os governos antes do meu”.

Segundo Dilma, o Brasil apenas vive uma “crise política séria” e necessita de “estabilidade política”. Para ela, o impeachment nada mais é do que a oposição tentando chegar ao poder por meio de “golpe”. “Eles tentam fazer o terceiro turno desde o dia seguinte às eleições de 2014”.

Nos EUA essa semana, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, diz que um eventual processo de impeachment não seria golpismo, e sim parte das regras do jogo democrático. “Eu acho que isto (um eventual processo de impeachment) são as dores do parto, poderíamos dizer, de um novo sistema político. Nós estamos aguardando há muito tempo uma reforma do sistema político e isso faz parte das regras do jogo democrático”, disse o presidente do STF.

Experiente no assunto, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) também deu a sua opinião sobre o atual cenário vivido por Dilma e seu partido, o PT. Em entrevista ao “UOL”, o senador fez um paralelo entre o momento atual e o que ele próprio enfrentou, em 1992, quando sofreu um processo de impeachment.  Collor não acredita nas possibilidades de recuperação do atual governo, já que, segundo ele, “o país passa por uma crise política sem precedentes”.

Se um eventual processo de impeachment contra a presidente começar a tramitar, o afastamento da petista será “irreversível”, acredita ele. “Esse filme eu já vi”.

Aliás, esse filme todos os brasileiros nascidos antes de 1992 também viram. E os motivos que levaram ao pedido de impeachment contra Collor, que acabou renunciando, também parecem se repetir aos olhos da população e envolvem não só a presidente, mas dezenas de políticos e empresários.

Quando assumiu, em março de 1990, a popularidade de Collor começou a ficar abalada ao confiscar o saldo das poupanças bancárias a fim de frear a inflação. Cada pessoa ficou com apenas 50 mil cruzeiros (hoje, cerca de R$ 6 mil) disponíveis e muita gente empobreceu da noite para o dia. E pouco adiantou: a inflação continuou crescendo e, em 1991, já passava dos 400% acumulados no ano. E foi quando surgiram os primeiros escândalos de corrupção ligados a Collor. Em 1992, o ex-presidente foi denunciado pelo próprio irmão Pedro Collor por um esquema de lavagem de dinheiro no exterior, comandado por Paulo César (PC) Farias, tesoureiro da campanha eleitoral de 1989. Além disso, contas fantasma operadas por PC financiavam a reforma da Casa da Dinda, residência do então presidente. Consequentemente, Collor foi investigado por uma CPI.

Em busca de apoio, o presidente fez um pronunciamento pedindo para que a população fosse às ruas, em 16 de agosto, vestida com as cores da bandeira nacional. O povo não atendeu e saiu vestido de preto, em protesto. Eram os “caras-pintadas”, que voltaram as ruas um mês depois.

Em 24 de agosto de 1992, um relatório da CPI atestou que $6,5 milhões de dólares haviam sido transferidos irregularmente para financiar gastos do presidente. A insatisfação popular aumentou e, em 29 de setembro, o impeachment foi aprovado por 441 dos 509 deputados. Collor foi afastado e substituído por Itamar Franco, seu vice.

Collor foi, então, julgado pelo Senado Federal. Em 29 de dezembro, o presidente renunciou para tentar engavetar o processo e preservar seus direitos políticos. No entanto, por 76 votos a 3, os senadores condenaram o presidente, que não pôde concorrer em eleições pelos oito anos seguintes. Esse foi o fim do governo Collor. O de Dilma ainda é incerto.

Fontes: Veja, G1 e UOL.