Ética: para quem? - Negócios & Empresas

Por BBG

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Parece fora de dúvida que todo mundo defende a ética e a moral. Afinal, estes são (ou deveriam ser) os pilares da moralidade humana. A questão que fica é a seguinte: para quem?

No mundo atual, ética e moral são vistas de uma maneira diferente do que eram na Antiguidade. Para seguir os preceitos básicos da ética e da moral, os judeus e os cristãos guiavam-se pelas tábuas da lei de Moisés que, nos Dez Mandamentos, provavelmente resumiu as bases do comportamento humano.

Entretanto, será que isto hoje é suficiente? O mundo mudou num ritmo acelerado, sobretudo nos últimos 50 anos, que muita coisa precisa ser revista. Isto vale até mesmo para a Constituição dos Estados Unidos, brandida como um farol para os valores ocidentais. De fato, foi uma peça memorável na época em que foi escrita, há quase 250 anos, mas atualmente precisaria ser adequada aos padrões e valores vigentes em nossa sociedade.

Ora, como defender que todo cidadão tenha arma em casa, quando hoje as polícias das grandes cidades possuem recursos inimagináveis para combater a criminalidade? O que se vê é cada vez mais crimes evitáveis, simplesmente porque o cidadão tinha ao seu alcance uma arma de fogo num momento de descontrole emocional ou por falta de habilidade em lidar com estes artefatos.

Como se constata, a ética de ontem não é a mesma que a de hoje. Antes, vivendo num país vasto e com pouca estrutura de leis e combate ao crime, era justificável ter armas em casa para se proteger e proteger a família. Hoje, isto é algo discutível. Mas, em nome da inatacável Constituição, não se consegue mexer nisto, considerado uma cláusula pétrea.

A ética permeia também as profissões. Antigamente, o mundo era dividido em nobres e plebeus e a injustiça campeava. Quem poderia enfrentar um nobre quando as leis eram feitas por eles, os juízes pertenciam a sua casta e não havia quem defendesse os camponeses que trabalhavam de sol a sol para produzir alimentos para a classe dominante.

A Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra serviu para iniciar uma mudança no interrelacionamento social. Com a contratação de operários, surgiram os primeiros profissionais da indústria e isto espalhou-se por outras profissões. Assim, cozinheiros, padeiros, alfaiates, sapateiros, vidreiros, ceramistas, agricultores e outros passaram a constituir uma nova classe social. Os mais empreendedores criaram empresas e começaram a contratar empregados, mudando, assim, de proletários para burgueses e ascendendo socialmente. Outra vez, a ética que valia antes para eles já não vale mais agora.

Concomitantemente, advogados e médicos foram conquistando status dentro da sociedade. Entretanto, em vez de o advogado se preocupar em corrigir as injustiças do sistema e defender os menos privilegiados passou a ser mais um elemento da manutenção do statu quo e lutar pelos direitos dos poderosos, que os recompensam regiamente. O médico substituiu o juramento de Hipócrates por clínicas bem equipadas para atender basicamente aqueles que podem pagar bem para cuidar de sua saúde.

Mais uma vez, a ética foi trocada pela conveniência. Hoje, com a instantaneidade da informação, a função do jornalista também passa a ser questionada. É ético divulgar algo antes dos concorrentes mesmo sem verificar a exatidão da notícia? Ou o fato de checar os dados e apenas publicar o que é verídico passou a ser sinônimo de lerdeza e falta de competitividade? Com a proliferação de blogs, mídia social e outros meios de comunicação, a informação ficou barata. Todo mundo sabe tudo sobre todos em qualquer lugar do planeta e se julga no direito de opiniar.

Os mais afoitos saúdam este momento como algo positivo, porque sugere a democratização da informação, antes restrita a um pequeno grupo de poderosos que manipulava a informação de acordo com seus interesses. Há uma verdade nisto, no entanto, existe também o contraponto. Qualquer indivíduo que gerar ou reproduzir uma notícia está certamente defendendo seus interesses. Entretanto, ao contrário da mídia tradicional, ele não precisa justificar-se para a sociedade. Assim, a chamada “democratização” pode ser traduzida como irresponsabilidade de comunicação.

É mais uma forma de vermos que a ética tornou-se bem mais flexível do que gostaríamos. Pretendemos lutar quixotescamente para estabelecer novos parâmetros para que sejam seguidos novos padrões de ética e moral dentro desta nova ordem social para que o mundo não fique mais ainda à mercê dos poderosos. A pergunta que fica é esta: será que conseguiremos?

Coluna do BBG - Brazilian Businness Group Luigi Pardalese -President, Pardalese Institute Florida