Evo Morales diz que vai nacionalizar petróleo e gás

Por Gazeta Admininstrator

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou que vai "nacionalizar" os recursos naturais do país, incluindo gás e petróleo.
A empresa Petrobras é, segundo dados oficiais, o maior investidor do setor na Bolívia, mas Evo sugeriu que as empresas estrangeiras poderiam manter parcerias com o Estado boliviano.

Ele destacou, no entanto, que a prioridade será atender o povo boliviano.

"Essas riquezas têm de estar nas mãos dos bolivianos", ressaltou.

Coca e redução de salários no Congresso

Evo condenou o narcotráfico e defendeu a cultura andina do cultivo da folha de coca. E ressalvou: "A droga e a cocaína não fazem parte da cultura indígena. Mas o cultivo à folha de coca sim. É preciso acabar com a droga."

"Cocaína zero, narcotráfico zero. E queremos fazer uma aliança com os Estados Unidos para combater o tráfico, mas que essa luta conjunta nao seja com imposições de condições do governo americano", ressaltou, sob aplausos dos legisladores.

Evo também foi aplaudido ao sugerir que os parlamentares tenham uma redução salarial de 50%. "Se vocês aplaudem corte de salário de vocês mesmos, é porque me apóiam e essa deveria ser a primeira medida do Congresso Nacional".

Segundo ele, o salário básico no país é de 450 bolivianos, mas os parlamentares recebem 20 mil bolivianos e o presidente 27 mil bolivianos mensais.

Evo tomou posse pouco depois das 14 horas, horário local (16 horas, horário de Brasília) e discursou por quase duas horas: "Não pensem que Fidel (Castro, presidente de Cuba) e (Hugo) Chávez, presidente da Venezuela, estão me contagiando, mas tenho a obrigação de falar sobre a situação da Bolívia",
brincou, provocando risos na platéia.

Evo condenou a dívida externa do país, pediu paz na relação de diferença secular com o Chile sobre o acesso da Bolívia ao mar, agradecendo a presença do presidente chileno Ricardo Lagos, e avisou que as terras improdutivas serão transferidas para os mais pobres.

'Não me abandonem'

Morales pediu aos presidentes do Brasil, Venezuela e Chile que não excluam a Bolívia de seus planos energéticos, mas avisou: "A Bolívia precisa de sócios, não de donos dos nossos recursos naturais".

E pediu: "Quero pedir aos presidentes dos países vizinhos, Brasil, Argentina, Peru, Venezuela, que não me abandonem. Que me ajudem a fazer um governo justo", afirmou.

O novo presidente também agradeceu a abertura do diálogo com os Estados Unidos, a partir da visita do subsecretário americano, Thomas Chanon.

Primeiro presidente indígena a assumir o poder no país em 180 anos de república, Evo chorou, rapidamente, ao receber a faixa presidencial, numa cerimônia, na tarde deste domingo, no Congresso Nacional.

O presidente boliviano criticou a discriminação histórica contra os indígenas, condenou o neoliberalismo e a colonização. "No Exército não existe um general indígena; até 50 anos atrás nossos indígenas não podiam fazer a festa que se fez nessa madrugada, com a minha eleição", disse.

Mudanças democráticas

As palavras de Morales foram transmitidas, ao vivo, por um alto-falante instalado na histórica Praça Murillo, em frente ao Congresso Nacional, onde foi empossado presidente.

"Faremos muitas mudanças, mas todas através da democracia", disse. "Estamos aqui para mudar, para acabar com as injustiças e as desigualdades históricas".

Morales disse que foi acusado de "traficante", de "um mal para o país", mas a prova de que mentiam é que chega a presidência e junto com seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo).

"Alguns diziam é preciso acabar com o radicalismo sindical. E eu digo: é preciso acabar com o radicalismo sindical".

Não durma

Em meio ao seu discurso, Evo interrompeu para dizer: "senador, por favor, não durma, estou aqui falando dos indígenas e de seus direitos". Não ficou claro de qual senador falava, mas eles se entrolharam procurando o sonolento.

As palavras de Morales foram, principalmente, em defesa dos indígenas e da "união" entre os bolivianos, que, como afirmou, estiveram fragmentados até às últimas eleições presidenciais, quando cerca de 54% o elegeram presidente.

O novo presidente lembrou que chegou ao Parlamento em 1997, quando foi eleito deputado federal, pela primeira vez. "Aqui, falava-se tanto em pactos pela
democracia e pela governabilidade, mas só vi pactos pela corrupção, para se saber como roubar o dinheiro do povo", disse.

"É preciso viver para a política e não da política", criticou. Evo deixou claro que em seu mandato, de cinco anos, atenderá, principalmente, os indígenas, mas sem abandonar os demais.

"O último censo boliviano, realizado em 2001, informou que 62,2% da nação é formada por indígenas, aimaras, quexuas, guaranis", disse. "E como pode ser que nos excluíam? Como pode ser que aqui imperava o racismo? Vamos mudar, mas mudar a situação social e econômica do nosso país para atender ao povo, mas sempre dentro da democracia".

E destacou que antes de atender a segurança jurídica, é preciso atender a segurança social. "As eleições de 18 de dezembro do ano passado deram estabilidade ao nosso país e uniu nosso povo".

Antepassados

Antes de iniciar seu discurso, Evo pediu um minuto de silêncio para os antepassados indígenas, para o ex-guerrilheiro Ernesto "Che" Guevara e para os milhares de latinos que morreram por alguma injustiça.

O presidente boliviano insistiu que a Bolívia vive época de mudanças e da busca da união interna. "Em La Paz e Santa Cruz, há estabilidade econômica. É mentira o que diziam que se Evo fosse presidente não haveria recursos externos", afirmou.

Presença

Vários presidentes, incluindo Luís Inácio Lula da Silva foram a La Paz para assistir a posse.

O presidente brasileiro disse ao chegar ao aeroporto de La Paz que os países latino-americanos têm "a obrigação" de ajudar na consolidação da democracia boliviana.