Por: Letícia Kfuri
A primeira versão para o assassinato de Ildo Ferreira de Araújo, de 42 anos, foi apresentada à polícia pela própria autora do crime, Marcia Rodrigues, que confessou ter matado o brasileiro, com vários tiros, no closet de seu quarto, alegando ter sido ameaçada de abuso sexual. Uma semana após o crime, no entanto, Renildo Ferreira de Araújo, irmão da vítima, contou à reportagem do Gazeta, com exclusividade, que o motivo do crime pode ter sido dinheiro. Ele afirma que o irmão planejava comprar terras em sua cidade natal, Itanhém, no extremo sul da Bahia, e que iria cobrar $60 mil que havia emprestado a uma pessoa cujo nome não revelou. Renildo Araújo diz não ter dúvidas de que essa pessoa seria Marcia Rodrigues.
O irmão mais velho da vítima, que também já viveu na Flórida, onde era próprietário de uma empresa de mármore, acredita que por causa do comportamento pacato do irmão, somente a cobrança de uma dívida poderia ter levado a uma situação extrema de assassinato. “Somos uma família de 11 irmãos, todos respeitadores, e o Ildo sempre foi o mais calmo de todos. Eu acho que o único motivo que pode ter levado essa mulher a matar o meu irmão é porque ele foi cobrar algum dinheiro. Eu queria comprar uma propriedade para ele. Há 21 dias, liguei para ele, e ele me disse que o di-nheiro estava emprestado, e que iria pegar de volta para comprar alguns acres de terra aqui”, contou Renildo.
Até o fechamento desta edição, Marcia Rodrigues não foi localizada para comentar as afirmações do irmão da vítima.
Zilda, a irmã de Ildo, que morava com ele na Flórida, contou a outra irmã, Lilia de Araújo, que Ildo, um dia antes do crime, teria recebido uma ligação, pelo telefone celular, insistindo que ele fosse a um encontro. Ildo teria negado, afirmando estar muito cansado. “Imagino que tenha sido ela. Acredito que ela tenha ligado para ele e insistido que fosse lá”, disse Lilia, inconformada com a morte trágica do irmão. “Não entendemos como uma barbaridade dessas pôde ocorrer com uma pessoa íntegra, honesta, cheia de vida, trabalhadora, honesta e cumpridora dos seus deveres”, desabafou Lilia.
Sônia Alves, amiga de infância de Ildo, tomou conhecimento, na Bahia, da morte do amigo. “A versão desta mulher está muito estranha e não tem a ver com o que conhecemos dele. Era impossível ele ter feito o que ela disse. Pode ter certeza absoluta que ele não atacou aquela mulher. Crescemos juntos, fomos vizinhos a vida inteira. Ele sempre foi uma pessoa muito tranqüila, é de família boa e honesta, e seria incapaz de fazer mal a alguém”, disse Sônia, por telefone, à reportagem do Gazeta.
Ildo prestava serviços de limpeza de piscina na casa de Marcia. Era conside-rado, por todos, um homem tranqüilo e pacato. Nunca mencionou, para amigos ou parentes, o nome de Marcia. Em seu depoimento à polícia, ela afirmou ter feito a ele uma oferta de participação de 30% em um negócio que faria com um cliente americano, para que ele trabalhasse como intérprete. Este, segundo ela, teria sido o motivo pelo qual os dois teriam se encontrado, na casa dela, no dia do crime.
Segundo ela, Araújo, nesta ocasião, estaria agindo de maneira estranha e, depois de terem conversado sobre negócios, na cozinha, ele teria começado a aproximar-se e a acariciar seus cabelos. Em seguida, segundo Marcia, Ildo a teria levado para o quarto e a forçado sexualmente, durante horas. Ela contou aos policiais que conseguiu escapar, pegar a arma no closet e atirar várias vezes. “Eu não tive alternativa, a não ser atirar. Isso vai mudar minha vida para sempre”, disse a mulher.
Antecedentes
Não foi a primeira vez que Marcia Rodrigues acusou um homem de tê-la atacado. Também não foi a primeira vez que ela agrediu e deixou sangrando um homem a quem, posteriormente, acusou de tê-la atacado. Há 14 anos, Rodrigues perfurou, com uma lixa de unhas, a garganta de Johnny Tremaine, proprietário do restaurante Rainbow Room, em West Palmetto Park Road. O episódio, de acordo com os registros policiais, ocorreu dentro de seu próprio carro. Depois de agredir o homem, ela parou o carro no estacionamento de um 7-Eleven, em West Camino Real, o empurrou do carro no chão, e deixou o local dirigindo em disparada.
As duas versões, de Rodrigues e de Tremaine, contadas, na ocasião, à polícia, diferem totalmente. Segundo Tremaine, os dois viajavam no carro de Rodrigues por uma estrada escura, quando a mulher, de repente, o atacou. Rodrigues, por sua vez, contou que os dois estavam no carro quando Tremaine a teria ameaçado com um objeto pontiagudo, e dito que ela teria que fazer sexo com ele e fumar crack, e que ela iria gostar. A mulher teria então tirado o objeto das mãos de Tremaine e o atacado.
Na ocasião, após o ataque, Tremaine, hoje, com 70 anos, decidiu não apresentar queixa contra Rodrigues, mas, após ler as notícias sobre a morte do brasileiro Araújo, ele decidiu contar sua história.
Paranóia
O ex-marido de Marcia, Michael Berkowitz, de 50 anos, contou à polícia que sua ex-esposa, de quem se divorciou em 2003, vinha há algum tempo apresentando um comportamento que ele qualificou como “paranóico”. Em janeiro deste ano, Marcia, segundo ele, apresentou à corte de Palm Beach pedido de proteção, e acusou o marido de ameaçar matá-la. Ela afirmou na ação que Berkowitz havia dito que “contrataria alguém para matá-la, se ela não parasse de cobrar pensão alimentícia, “uma vez que isso seria mais barato do que pagá-la”, afirmou Marcia. Berko-witz rebateu. “Ela já disse isso a centenas de pessoas nos últimos dez anos”. Ele des-creveu a ex-mulher como alguém que tem se tornado cada vez mais paranóica com o passar dos anos. “Eu tenho muito para contar à polícia”, finalizou Berkowitz.
Um dia depois do crime, Marcia afirmou ter pesadêlos com sua própria morte. “Eu tenho pesadêlos de que estou sendo morta, dentro da minha casa, e de que ninguém encontra o meu corpo até que os abutres cheguem”, disse.
O assassinato do brasileiro
Pouco antes da meia-noite de domingo(4), policiais de Boca Raton encontraram o brasileiro Ildo Araújo ferido, com vários tiros, no closet do quarto de sua patroa Marcia. Depois de interrogada, ela confessou o crime, e alegou que Ildo, que havia trabalhado algumas vezes como piscineiro em sua casa, teria tentado molestá-la sexualmente. O rapaz chegou a ser levado para o Delray Medical Center, mas morreu em seguida.
Marcia descarregou seu revólver calibre 38 em Ildo. Mesmo assim, após ser interrogada, não permaneceu presa. “Quando atirei nele o sangue espalhou-se por toda parte. Eu continuei atirando até que a arma estivesse descarregada”, disse.
Araújo era baiano, e estava nos EUA há quatro anos. Era freqüentador da igreja católica e, de acordo com o amigo Eduardo, era considerado uma pessoa calma e equilibrada, e jamais demonstrou qualquer comportamento violento. A sobrinha de Araújo, Sheienne Araújo, confirmou. “Ele nunca foi violento. Nunca machucaria alguém”, concluiu.

