Existe um mundo perfeito? - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

Quanto mais conhecemos o funcionamento do sistema americano, mais ficamos surpresos. Não que seja um mundo perfeito, mas comparado com as “gambiarras” que fazemos no convívio com a segurança pública no Brasil, nos sentimos um pouco mais próximos do paraíso.

Parecia até piada: já na primeira aula do Brazilian Leadership Academy, os brasileiros presentes mostraram-se surpresos quando falaram que, às vezes, helicópteros são chamados para buscar um ladrão de bolsas. Esta semana, ao fazermos uma entrevista com o policial brasileiro Ricardo Braga (que pode ser vista na página 18), tivemos esta constatação.

Enquanto dava a entrevista, por telefone, Braga disse que precisava desligar para trabalhar junto a uma equipe de policiais K-9, na busca e apreensão de um ladrão de uma bolsa. Minutos depois, recebemos na redação um alerta do BSO (Broward Sheriff’s Office), dizendo que policiais de Deerfield, junto com as unidades K-9 e de Aviação, estavam em busca de um suspeito de roubo de uma bolsa, e pedindo que pessoas evitassem a região naquele momento. Daí pensamos: aviões, K-9 e policiais atrás de um ladrão de bolsas? Segundo os próprios policiais do BSO, isso é um crime grave, afinal, “é a bolsa de alguém”, como disseram.

Enquanto isso, paramos para pensar sobre uma de muitas notícias do Brasil: “Em São Paulo, clientes usam criatividade contra arrastões em bares e restaurantes”, no site do “Portal G1”.

A matéria fala que na noite dos Dia dos Namorados, em 12 de junho, o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, reforçou a segurança das ruas com 400 policiais a mais, para assegurar a tranquilidade dos casais que lotaram os bares da cidade. Realmente, a medida funcionou e houve menos arrastões naquela noite.

No entanto, os desconfiados em relação à segurança de São Paulo, que não são poucos, carregavam um “kit ladrão”, que é composto, por exemplo, por uma nota de $50 reais, um cartão de crédito e o RG. Ou seja, um engana ladrão. Para mim, assim como para muitos, isso era normal. Tenho uma amiga que, na adolescência, sempre andava com uma nota de $50 reais no carro para o ladrão. Era sua mãe que dava. Nossa mentalidade é que é melhor ter algo para não irritá-lo.

Ou seja, o “jeitinho brasileiro” entra em jogo quando não há outra opção. Não é incomum vermos comentários comparativos entre brasileiros durante a aula do BSO. Claro, em questão de segurança, a “América” sempre acaba ganhando.

Será que o mundo realmente pode ser melhor? Às vezes, dá para acreditar que sim, quando não vivemos a violência de ter que dar aquele “jeitinho” e podermos confiar que tem gente que acredita que um roubo de bolsa é tão grave quanto qualquer crime, e demanda assim os mesmos esforços.