Expectativas X Princípio da fidelidade

Por Rosana Brasil

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Platão, no livro A República, convida o leitor a imaginar “um grupo de seres humanos que vivem em uma caverna subterrânea desde a infância. Eles só conhecem a caverna e nada mais. A uma certa distância há uma fogueira, única fonte de calor e de luz. As sombras desses indivíduos são projetadas pelo fogo na parede da caverna; no entanto, eles desconhecem serem suas próprias sombras e, portanto, ficam temerosos das figuras em movimentos que aparecem na caverna.” Supondo-se que esses indivíduos de repente possam se libertar das correntes e andar livremente pela caverna, será que eles acreditariam estarem livres? Será que eles acreditariam que as sombras na parede fossem apenas um reflexo de si mesmos? Será que tentariam fugir da luz da fogueira, ou se aproximariam do fogo sem pestanejar? E supondo-se, ainda, que descubram uma pequena passagem que os levassem para fora da caverna, na presença da intensidade e da claridade do sol, será que a visão iria escurecer com o excesso de luz do sol?. Você acha que esses indivíduos precisam de tempo para se adaptarem à claridade do sol? Como você acha que o conceito de presente e futuro seriam visto por esses indivíduos? Como o conceito de expectativa deve ser explicado ou considerado se esses indivíduos caso eles não possam pensar sobre a vida além do dia de hoje? Como serão definidos, e quais serão os interesses desses indivíduos? Será que as condições sociais permitem a esses indivíduos definir os seus próprios interesses? Uma vez que eles são ignorantes de todos os outros fatos particulares sobre essa nova sociedade, estarão eles em posição de se envolver em negociação? Na verdade, não são todos eles motivados pelo mesmo interesse, de viver em harmonia? Avancemos no tempo. Agora, eles são capazes de definir os seus próprios interesses. Esses indivíduos aprenderam a obrigação moral básica de não “manipular ‘ os outros para obter benefícios próprio. Eles também aprenderam sobre o “ Princípio da Fidelidade “, que diz que a pessoa tem o dever moral de fazer o que disse iria fazer, pois , dizendo que um iria fazer algo, de livre arbítrio, vai levar o outro a acreditar que ele tem a intenção de fazer o que ele disse iria fazer. Deixar de manter a própria palavra é, portanto, o mesmo que enganar o outro, e uma vez que se tem o dever moral de não fazer isso, de não enganar, de não manipular o outro para obter beneficio próprio, o indivíduo tem o dever moral de manter a palavra dada (Scanlon , 1998: 304) . Consequentemente, o caminho para libertar-se das amarras que nos atormentam por expectativas fracassadas, é através da congruência de ações e palavras. O filósofo francês Baudelaire disse que quando somos curiosos, atentos e congruente, vivemos a vida com intensidade, em vez de viver à margem, queixando-se da escuridão dentro da caverna. Assim, é importante, para não ser paralisado por “expectativas fracassadas no passado”.