Faculdades americanas de olho no mercado de alunos brasileiros

Por Marisa Arruda Barbosa

Foto cedida pela Barry University.

Na maior missão de negócios da administração Obama, 66 faculdades e universidades americanas visitarão feiras estudantis em Brasília, São Paulo e o Rio de Janeiro, durante sete dias a partir do dia 30, com a intenção de oferecer o que o Brasil, na posição de sexta economia mundial, mais precisa: capacitação de profissionais. A missão mais numerosa até o momento tinha sido para a Indonésia e Vietnã, no ano passado, com 56 universidades.

Essa visita está sendo encabeçada pela agência de promoção de exportações americana porque, do ponto de vista dos EUA, cada estudante brasileiro está comprando um serviço exportado pelo país, motivo pelo qual o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que geralmente lidera missões para a venda de equipamentos de energia ou construção, está envolvido nesse projeto educacional. No ano acadêmico de 2010-11, os EUA faturaram $21 bilhões de dólares em gastos escolares pagos por estudantes estrangeiros, de acordo com a “Reuters”.

O diretor do setor internacional da Universidade do Norte do Texas, Pieter Vermeulen, disse à “BBC Brasil” que o foco no Brasil é devido, principalmente, ao programa Ciências Sem Fronteiras, que irá possibilitar a vinda de mais brasileiros que anteriormente não tinham a possibilidade de estudar nos Estados Unidos.

Ciências Sem Fronteiras Em sua visita ao Brasil, em abril deste ano, a presidente Dilma Rousseff deu especial atenção à área educacional. A presidente enfatizou o programa Ciências Sem Fronteiras, cuja meta é custear 100 mil bolsas de estudo nas áreas científicas até 2015, a maioria para estudantes e pesquisadores brasileiros no exterior. Os Estados Unidos querem receber entre um quinto e metade desses bolsistas.

Cerca de 650 estudantes brasileiros começaram a estudar nos EUA através deste programa, em janeiro desse ano, seguido por um grupo de 1,5 mil que começaram no verão e neste outono.

No entanto, embora mais universidades brasileiras estejam formando novos profissionais, o número de brasileiros estudando em universidades americanas ainda é baixo se comparado a outras nacionalidades, algo que essa visita das universidades ao Brasil quer aumentar, para suprir a queda no número de alunos estrangeiros nos EUA.

Na última década, a participação dos EUA no mercado de alunos internacionais caiu de 20 para 28%, enquanto escolas na China, Canadá, Grã-Bretanha, Austrália, França e Japão viram seus números aumentarem, de acordo com a “Reuters”. Mesmo assim, a participação dos EUA continua sendo a maior do mercado. O interesse em alunos estrangeiros é porque eles pagam o chamado “out-of-state tuition”, preços para não-residentes, que chega a ser até três vezes mais, o que ajuda com que as escolas supram o orçamento. Alunos estrangeiros representaram 3.5% de um total de matrículas de 20,5 milhões, em 2010-11, ainda de acordo com a “Reuters”. As áreas de estudo mais procuradas são negócios, gerenciamento, engenharia, matemática, ciências da computação, física e ciências.

Número de alunos brasileiros ainda é pequeno No período letivo que começou no outono de 2010 e terminou no verão de 2011, as universidades americanas tinham cerca de 8,7 mil brasileiros matriculados, de acordo com a “BBC Brasil”. O número representa um aumento de 23% em relação ao número de cinco anos antes, mas tem permanecido quase inalterado nos últimos três e é ainda bem baixo na comparação com outros países.

Já o número de chineses não parou de subir: aumentou 89% em cinco anos, saltando de menos de 68 mil estudantes para quase 128 mil.

Já os indianos, que um dia já tiveram a maior presença nas universidades americanas, tiveram um aumento de 25%, para 104 mil matriculados.

Brasil no alvo de outros países Não são somente os EUA que estão de olho nos alunos brasileiros. Em maio deste ano, o Brasil recebeu uma missão de universidades canadenses e, durante o mês de agosto, a Universidade de Oxford, na Inglaterra, enviou um grupo a São Paulo para anunciar a concessão de uma nova linha de bolsas integrais, financiadas com dinheiro do governo federal brasileiro.

Somente uma universidade da Flórida na missão Somente a University of Florida, em Gainsville, está representando o estado nesta missão, mas outras universidades já notaram que os brasileiros têm que estar em seu alvo.

É o caso da Barry University, em Miami, por exemplo, que informou ao Gazeta que tem a intenção de aumentar mais seu número de alunos brasileiros. Segundo informações da universidade, muitos estudantes do Brasil procuram seus cursos nas áreas de atletismo, gerenciamento, negócios, consultoria, relações internacionais e administração. O marketing para alunos na área de atletismo, por exemplo, deve-se ao interesse na área pela aproximação dos grandes eventos esportivos no Brasil, Copa e Olimpíadas.

Número de alunos hispanos matriculados em faculdades alcança recordes em 2011 Em 2011, a população hispana no país alcançou novos recordes, de acordo com uma análise do Pew Hispanic Center com novas informações disponíveis do U.S. Census Bureau. Pela primeira vez, mais de dois milhões de hispanos, com idades entre 18 e 24 anos, estavam matriculados em faculdades, alcançando um recorde de 16.5%, fazendo com que os hispanos se tornem o maior grupo entre as minorias em cursos de quatro anos em faculdades do país. Nas escolas públicas dos EUA, um em quatro alunos na elementar school é hispano, o que também é um novo recorde. Em todas as escolas públicas americanas, entre primário e 12º ano, um recorde de 23.9% era de hispano em 2011. Em adição ao aumento no número de matrículas, o número de graduações também aumentou entre o grupo.

Programa “Ganhe o Mundo” já enviou centenas de alunos brasileiros para intercâmbio nos EUA e Canadá Mais de 40 alunos de ensino médio da rede pública de ensino do estado de Pernambuco embarcaram, no começo de agosto, para fazer intercâmbio de seis meses e passar o semestre letivo em escolas locais. Este foi o terceiro grupo de alunos enviado para estudar no exterior este ano. Os jovens estão sendo acolhidos por famílias americanas e nos EUA estão nas cidades de Palm Springs, Phoenix, Ontario, denver, Lexington, Salt Lake City e Minneapolis.

Os intercambistas receberão uma bolsa de $300 dólares por mês, seguro saúde e ganharam um tablet para ajudar nos estudos.