Desde os anos 1980, cientistas especialistas em questões hidrológicas já alertavam para a falta de água em grandes cidades do planeta, como São Paulo e Rio de Janeiro. Em questão de décadas, a falta de água não seria somente um evento registrado no sertão do Nordeste brasileiro, mas uma realidade nas áreas metropolitanas do país.
No verão brasileiro de 2014, iniciado no final de dezembro de 2013 e terminado em março de 2014, foram registradas falta de água em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro e municípios da Baixada Fluminense, onde moradores, mesmo sem ter uma gota de água em suas torneiras, eram “obrigados” a pagar contas de água emitidas pela CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), num péssimo exemplo de cobrança por uma água inexistente. Vale ressaltar que a CEDADE foi fundada em 1975, durante a ditadura militar no Brasil, fruto da fusão Empresa de Águas do Estado da Guanabara (CEDAG), da Empresa de Saneamento da Guanabara (ESAG) e da Companhia de Saneamento do Estado do Rio de Janeiro (SANERJ).
Mas, o caso que mais chamou atenção foi o da cidade de São Paulo, que nos fez refletir sobre questões relacionadas ao desperdício não somente da água, mas da ausência de investimentos ambientais de longo prazo. Em março de 2014, segundo dados da Sabesp, empresa de economia mista responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 363 municípios do Estado de São Paulo, o reservatório da Cantareira registrou queda de capacidade de abastecimento de 15,5%, cuja causa principal foi a falta de chuvas no estado de São Paulo. Apesar de negar o racionamento, moradores da Zona Norte da cidade reclamaram de falta de água no período da noite em suas residências.
Além da capital paulista, a falta de água também foi registrada em outros municípios do estado, como em Sorocaba, Ortolândia e Itu, nesta última houve racionamento durante à noite e madrugada. Como solução, além de rever o sistema de distribuição frente à estiagem histórica, o Governo do Estado de São Paulo solicitou ao Governo Federal autorização para desviar água do Rio Paraíba para o sistema Cantareira, o que geraria custos em obras de transposição de águas de bacias subutilizadas do Paraíba que, atualmente, abastece cerca de 10 milhões de pessoas no estado do Rio de Janeiro. O desvio das águas do Paraíba contrariou os cariocas, apesar do rio nascer no estado de São Paulo.
Numa visão socioeconômica, o desvio ou transposição de um rio é uma solução buscada para solucionar a falta de água a custo e médio prazo. Porém, considerando a falta de água causada pela falta de chuva, devemos considerar fatores ambientais regionais e globais que mantiveram massas quentes permanentes em quase todo o território brasileiro durante o verão.
Acredito que, além de rezar para chover ou desviar quantidade de água para efeito emergencial, os governos deveriam pensar em projetos de plantio de árvores e replantio de florestas em áreas desmatadas, recuperação de matas ciliares, despoluição de rios como o Tietê (que para nada serve por causa da poluição) e outras ações ambientais que recuperariam o equilíbrio do meio ambiente, fator preponderante para a manutenção de um microclima mais agradável e oportuno às chuvas. As árvores e as plantas são responsáveis pela gestão natural dos recursos hídricos, pelo “esfriamento” das temperaturas locais e pelo fortalecimento das fontes de rios. Pensar em desviar água não rege a verdadeira solução de fortalecer a existência da água e sua renovação.