FBI havia recebido acusações de desrespeito ao Alcorão

Por Gazeta Admininstrator

Incidentes de desrespeito ao Alcorão teriam ocorrido em Guantánamo
Documentos do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos) mostram que um prisoneiro mantido na base militar de Guantánamo, Cuba, acusou soldados americanos de jogar o Alcorão, o livro sagrado do Islamismo, na privada.
A revelação contida em documentos até então confidenciais da agência americana é feita semanas depois de o governo ter contestado uma acusação semelhante publicada na revista Newsweek.

A reportagem causou protestos em diversos lugares do mundo muçulmano. No caso do Afeganistão, 15 pessoas morreram.

Na ocasião, o Pentágono (Departamento de Defesa americano) criticou a revista por prejudicar a imagem dos Estados Unidos entre os muçulmanos e disse não haver recebido "alegações específicas e críveis" de que soldados americanos teriam jogado exemplares do Alcorão na privada.

A revista americana acabou se retratando pela reportagem, alegando não poder corroborar a alegação.

Mas os documentos revelados nesta quarta-feira, depois de um pedido da União Americana de Liberdades Civis (UALC), indicam que as acusações não são novas nem desconhecidas das autoridades americanas.

"Há cerca de cinco meses, os guardas bateram nos detentos. Eles jogaram um Alcorão pela privada", diz o relatório, reproduzindo a alegação de um prisioneiro sobre um incidente supostamente ocorrido em 2002.

"Os guardas dançam quando os detentos estão tentando rezar. Os guardas ainda fazem essas coisas", continua o depoimento.

Para a UALC, os documentos provam que o Pentágono sabia que as alegações estavam sendo feitas havia anos na Baía de Guantánamo, mas teria feito vista grossa diante de numerosas provas de "abuso generalizado".

Depois da polêmica envolvendo a Newsweek, a Cruz Vermelha Internacional disse que havia informado o governo americanos sobre relatos de desrespeito ao Alcorão, por parte de militares americanos em Guantánamo.

A entidade afirmou ter alertado o Pentágono sobre o problema várias vezes, em 2002 e em 2003, e disse acreditar que foram tomadas medidas para corrigir o problema.

O Departamento não se pronunciou sobre os documentos nesta quarta-feira, mas autoridades disseram recentemente que várias acusações feitas por prisioneiros se provaram falsas.

"Infelizmente, uma coisa que nós aprendemos no último par de anos é que as declarações de detentos em Guantánamo e outros centros de detenção às vezes acabaram tendo mais credibilidade do que as declarações do governo americano", disse o advogado da UALC, Jameel Jaffer.

Outros documentos recém-divulgados pelo FBI trazem detalhes de outras acusações, incluindo uma em que um prisioneiros alega que uma interrogadora passou sangue de menstruação no rosto dele.

Ainda nesta quarta-feira, a entidade humanitária Anistia Internacional defendeu o fechamento da Baía de Guantánamo como centro de detenção. A Casa Branca reagiu qualificando o relatório de "ridículo e sem fundamento".

Mais de 500 pessoas estão detidas em Guantánamo, por suspeitas de ligações com a rede extremista Al-Qaeda.

Alguns estão presos há três anos, sem terem sido indiciados.