Marcelo Mello: Fechando para o almoço

Por Marcelo Mello

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Sou um genuíno vira-lata. E como um ser legítimo dessa linhagem, tenho 25% de sangue árabe. Nada mais justo que eu goste de uma boa esfiha. Sou de São Paulo, paulistano da gema e por lá encontramos esse produto em cada esquina, um melhor que o outro.

Pois bem, como fazemos todos os domingos, minha mulher e eu saímos de casa e fomos passear de carro. Resolvemos que era hora de matar essa vontade. Subimos a A1A, paramos aqui, ali e depois descobrimos que estávamos com fome. Me dirigi então à região de Deerfield Beach, porque havia recebido uma “Publicação Sugerida” no Facebook dando conta que que por lá havia um lugar que vendia esfihas. Na verdade, com um pouco de boa vontade, notei que havia mais de um, não exatamente na mesma região, mas perto.

As referências eram boas. Chegando ao primeiro local conversei com uma americana que me disse que eram de fato excelentes. Nosso apetite aumentou. Qual foi minha surpresa? O lugar estava fechado!

Antes de rir de meus pensamentos maldosos que diziam “qual o sentido de um restaurante fechar para o almoço”, tentei, em vão, procurar alguma notificação na vitrine, na fachada, enfim, algo que me explicasse que eles não abriram por luto, terremoto, tsunami, furacão, ataque de crocodilos ou por qualquer coisa parecida. Evidentemente que não havia nada além de uma plaquinha informando o horário de funcionamento do estabelecimento. Aos domingos, abriria das 11am até sei lá que horas. Olhei no relógio: 2pm.

Frustrado, fomos ao outro depois de perambular pelo plaza que tinha todas as lojas abertas e uma, em especial, que vende pizzas, lotada, com fila na porta. Como bom paulistano, nunca vou entender essa mania americana de comer pizza de dia, mas enfim... nada contra, apenas meu T.O.C. não permite que eu coma.

Minha mulher descobriu na internet que o que ficava em outro lugar abriria suas portas às 4pm. Fizemos hora, ela olhou 742 vestidos, experimentou apenas 459, em suma, chegamos à porta do lugar após o horário, ou seja, já deveria estar a pleno vapor. O plaza desse segundo nem é tão bom. Tudo bem, tenho que ser honesto, é horroroso, mas vá lá, o que importa é a comida e as referências eram excelentes também. Surpresa? Sim, claro, a segunda do dia, ainda que a mesma: fechado! O aviso de horário de funcionamento na porta de vidro reforça a informação da internet que aos domingos abre, ou deveria, às 4pm. Deve estar errado, só pode.

As fotografias das esfihas nos cartazes que “enfeitavam” a vitrine eram lindas. De dar – mais – água na boca. Sim, eu sei, fotografias de alimentos sempre nos enganam, mas deem um desconto, eu queria muito ser enganado, estava morrendo de fome, desesperado por uma esfiha.

Por que estou escrevendo sobre isso hoje? Porque são esses os empreendedores que dirão no dia em que fecharem suas portas: “Não sei o que aconteceu, fizemos tudo certo...”.

Desculpem, mas não fizeram. São “pequenos” detalhes que fazem com que o investimento inicial, que sua marca, que seu business seja jogado no lixo.

Saímos de lá e fomos ao Shorty’s comer ribs. Aliás, recomendo porque além de excelente, eles abrem para o almoço. Mas se alguém quiser, pode mandar umas esfihas porque ainda estou com vontade.