Fernanda Montenegro quer participar do Festival de Cannes

Por Gazeta Admininstrator

A atriz brasileira Fernanda Montenegro, convidada de honra do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, inaugurado nesta quarta-feira, espera participar, em maio próximo, do Festival de Cannes, com seu último filme, "A Casa de Areia", do diretor Andrucha Waddington.

Em entrevista, Fernanda Montenegro afirmou que o filme está esperando a decisão do Festival de Cannes (que se realiza de 11 a 22 de maio), cuja seleção oficial será anunciada na próxima terça-feira.

"Se for selecionado, voltarei à França porque o reconhecimento dos grandes festivais mundiais é uma forma de ganhar reconhecimento no nosso próprio país, mas também é o reconhecimento no exterior da nossa capacidade de fazer um bom cinema", afirmou.

"Estar neste Festival de Paris é algo comovente porque me dou conta de que sou uma atriz de cinema", acrescentou, com humildade, a grande dama do teatro brasileiro, que divide as honras do Festival de Cinema Brasileiro de Paris com outro veterano, o ator Paulo José.

"Sempre fui uma mulher muito voltada para o teatro. De vez em quando me chamavam para fazer um filme. Mas depois de tantos anos me dou conta de que tenho uma participação importante no cinema brasileiro", continuou, enumerando alguns dos filmes em que atuou, como "A Falecida", "Olga", "Tudo bem", "Eles Não Usam Black-tie" e "Central do Brasil".

"Este ano fiz quatro filmes, por isso estou aqui com grande prazer", destacou, reforçando que "o cinema brasileiro tem suas próprias características, seu estilo próprio. É uma forma de produzir que faz com que um filme brasileiro seja imediatamente reconhecido, como acontece com o cinema iraniano", explicou.

Sobre sua filmografia, a atriz revelou não ter preferência por nenhum dos filmes em que atuou, mas por cenas que considerou marcantes.

"Em 'A Falecida', o banho da personagem, em 'Eles não usam Black-tie', a cena final, quando a mulher fica sozinha com o marido, em 'O Outro Lado da Rua', a cena na mesa quando a personagem pergunta se ele (o personagem Camargo, interpretado por Raul Cortez) matou ou não a mulher, em 'Central' (do Brasil), a leitura da carta e o momento em que a mulher decide partir com o menino...", lembrou.

Fernanda, que tem sido comparada com grandes nomes do cinema internacional, como Giulietta Masina e Bette Davis, mostrou-se reticente diante destas comparações.

"Eu explico isso dizendo que como somos países cuja tradição artística não é conhecida por todos, quando têm a oportunidade de conhecer nosso trabalho, buscam uma referência em sua própria tradição. Em cada país, para falar de uma mulher de quem não sabem nada, buscam uma referência para esta desconhecida", disse.

"Eu admiro muito essas atrizes, mas eu tenho outra formação, outra língua, outra condição, outra tradição artística. Não digo que não goste da comparação, mas simplesmente que sou outra coisa", emendou.

A atriz rejeitou também o rótulo de melhor atriz do Brasil.

"Somos um país de grandes atrizes e de grandes atores. Se não tivesse acontecido comigo, teria acontecido com outra atriz, há muitas no Brasil", reforçou.

"Alguém me disse que a América do Sul é um continente esquecido. Isto me tocou muito fundo, mas é verdade. Para os outros, é um continente estranho, pitoresco, mas esquecido. E no entanto cada país do nosso continente tem uma força criativa muito grande na literatura, na arte, no teatro e também no cinema. Apesar disso, quando conseguimos cruzar a fronteira e conseguir com que todo o mundo nos reconheça, nos parece quase um milagre", comentou.

Evocando a possibilidade de trabalhar no exterior, a atriz declarou: "Se tivesse um bom projeto, aceitaria. Depois da indicação ao Oscar me fizeram várias propostas, mas se tratava de interpretar uma iraniana, uma chilena ou uma norte-americana. Eram papéis bons, mas não vejo porque não convidar uma atriz chilena ou mexicana para fazer esses papéis. Se eu tivesse que interpretá-los, não seria natural, teria que falar com um sotaque que não me corresponderia".

"Não é que esteja esperando pelo 'grande papel', mas por um papel que corresponda ao que eu posso fazer bem", concluiu.