Filhos De Mães Deprimidas

Por Adriana Tanese Nogueira

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O que acontece com o desenvolvimento infantil quando a criança vive com uma mãe deprimida? Uma mãe boa é aquela que responde adequadamente aos estímulos enviados pela criança, onde “adequadamente” quer dizer em sintonia com as necessidades da criança e de seu estágio de desenvolvimento psicofísico. Mas uma mãe vive num contexto familiar e social. Não sendo uma entidade abstrata, um arquétipo a serviço da criança, é essencial incluir o ambiente no qual ela vive e as relações nas quais mãe e criança estão inseridas. Um ambiente familiar bom reconhece as necessidades da criança e as respeita, adequando-se a elas e favorecendo o seu crescimento equilibrado. Um crescimento equilibrado significa que a criança tem a possibilidade de mergulhar em seu mundo simbólico e lúdico para explorar suas próprias potencialidades, seu ser interior. Somente desta forma ela pode se desenvolver uma personalidade autônoma, em dialogo criativo consigo e, portanto, com o mundo. Quando a mãe e/ou os cuidadores da criança precisam dela para se estruturar, para organizar seu próprio mundo de afetos e emoções porque eles mesmos estão desestruturados, a criança aprende a priorizar as necessidades alheias para dar um suporte a quem deveria, ao contrário, dá-lo a ela. Assim a criança deixa de estar consigo e de desenvolver uma relação com seu próprio mundo interno para servir de muleta aos adultos à sua volta, mãe sobretudo, mas pai também. Fazer com que os adultos estejam equilibrados se torna para a criança um objetivo indispensável para sua própria sobrevivência. Em fazer isso, porém, a criança vai se afastando sempre mais de si mesma e de sua autenticidade até perde-la. Por ser pequena demais para compreender e ter consciência da situação, seus movimentos, suas tendências, seus apelos internos permanecem inconsciente e vão moldando seu ser. Tendo que “tomar conta” da atmosfera emocional à sua volta, a criança não pode ser espontânea, pois a espontaneidade só se manifesta quando estamos conectados conosco e despreocupados com o ambiente porque nos sentimos em harmonia com ele. Mas a criança que cresce preocupada com o equilíbrio emocional dos adultos não pode se permitir isso. Ela está constantemente antenada com o que está fora dela, com as necessidades alheias, as reações e humores inesperados e perde, assim, o seu referencial interno. Perdendo a espontaneidade, ela perde seu verdadeiro Si-Mesmo, ou seja, sua autenticidade individual e, com ela, sua perspectiva criadora para a vida adulta. As mães são as principais fontes do bem-estar infantil. Por isso mesmo, elas podem ser as principais fontes do mal-estar infantil também. Mas é preciso sair da análise psicológica isolada da díade mãe-criança para não cometer um crime contra as mulheres. Não temos como fazer psicologia sem incluir o contexto social no qual ocorrem as relações e as patologias, Uma mãe deprimida é provavelmente uma mãe só, não amada e não cuidada. Uma mulher que não pôde se expressar. A maternidade consciente hoje exige duas importantes tomadas de consciência: 1. Que a mulher precisa cuidar de sua saúde mental, emocional e espiritual. Este é o pré-requisito indispensável para a maternidade ativa. 2. No processo de cuidar de si, ou seja, de curar as feridas internas e aprender a ouvir e atender às suas necessidades profundas, a mulher irá inevitavelmente ter que lidar e aprender a transformar a sua realidade externa, incluindo as suas relações mais próximas, começando com aquela com o companheiro e/ou pai da criança. Aí, finalmente, completamos o círculo e somos justos com as mulheres. Ser mãe hoje é um desafio maior do que no passado: sabemos e sentimos mais. Falta aprender a criar uma realidade sob medida para mães e mulheres.