Fim da Loteria, fim da controvérsia?

Por Gazeta Admininstrator

Um grupo cada vez maior de senadores e representantes (equivalentes aos nossos deputados federais, no sistema brasileiro) em Washington, estão empenhados em acabar de vez com a Loteria do Green Card. Não apenas interromper a concessão de residência permanente a imigrantes através desse processo que, para dizer o mínimo, é um dos mais polêmicos da estrutura imigratória norte-americana.

Aliás, a Loteria do Green Card é um assunto tão controverso que tem defensores de sua extinção em ambos os partidos, Democrata e Republicano, em ambas as extremidades políticas, a direita e a esquerda, em segmentos tão diametralmente opostos quanto as ligas de defesa dos imigrantes ilegais e os grupos que, sem mandato policial ou imigratório, "patrulham" as fronteiras na tentativa de intimidar a imigração ilegal.

Com tantos inimigos assim, as chances desse instrumento de legalização sem história e (dizem muitos) sem "mérito" ser eliminado, são bem grandes.

Seria um fim de um instrumento quase folclórico. Afinal, ainda que uma vez "sorteado" o ganhador da loteria tivesse que cumprir certas exigências e provar certa idoneidade, a loteria sempre foi e continua sendo um bizarro caminho para se obter, sem nenhum esforço, o documento que é para outros milhões de "não-sorteados" um sonho e um pesadelo. Sonho de obtê-lo e com isso dar um curso legal e normal ao seu "american dream". Pesadelo dos que não o possuem e vêem os anos passarem sem uma solução justa e conciliatória que acabe de vez com a "transitoriedade e insegurança absoluta", na qual vivem cerca de 12 milhões de imigrantes indocumentados nos Estados Unidos.

O "formato" da loteria do Green Card sempre foi algo realmente incompreensível para quem, como nós, aposta no mérito, na vitória e no sucesso obtido com trabalho, disciplina e obediência às leis.
E se, por um lado, a loteria ajudou a milhares obterem seus "green cards" de forma descomplicada e quase que "sem questionamentos", por outro contemplou e ainda contempla pessoas que aplicam por curiosidade, desejo momentâneo ou simples aventura. Conheco inúmeros casos de "green cards" outorgados pela loteria, a pessoas que estavam lutando legamente há anos para obter a residência permanente e que através da "sorte" encurtaram esse caminho. Esse lado da loteria segue sendo válido, na minha opinião. Só que conheço também e temos ciência de inúmeros casos de "ganhadores" que não tinham realmente nenhum "projeto América", estavam apenas curiosos ou levemente estimulados a "passar uma temporada" nos Estados Unidos e, cada uma dessas conquistas desses "imigrantes por acaso", termina por eliminar um imigrante que vem dedicando sua vida e milhares de dólares em advogados, na tentativa de regularizar a situação, sua e de sua família.

"Loteria" é bem "show business", bem "Las Vegas", no sentido de que o mérito está totalmente alijado do processo. Acho que esse sempre foi o grande trauma em relação à loteria do Green Card. Ninguém acha certo, ninguém acha justo, apenas se limita a dar parabéns e ter inveja de quem ganha, que é recebido com festa sincera apenas e tão somente por aqueles que fazem parte de seu círculo muito próximo.

Para a esmagadora maioria, conceder uma residência permanente baseado exclusivamente em "sorte" é algo monstruoso, inconcebível. O que não impede que, em busca dessa "monstruosidade" que liberta, a esmagadora maioria dos imigrantes ainda indocumentados aplique anualmente para a loteria.

Que ninguém pense que a loteria do Green Card virá a ser eliminada em favor de um processo mais justo e meritório para concessão de residência permanente. Na verdade, será uma manobra para fechar uma porta que garantia e entrada de dezenas de milhares de novos imigrantes, anualmente, nos Estados Unidos.

O fim da loteria serve a duas causas nesse momento. A dos radicais anti-imigração que querem eliminar esse processo contínuo na entrada de imigrantes (de qualquer espécie). A dos que defendem um novo processo, necessariamente não baseado em "sorte" e sim no mérito profissional e intelectual dos candidatos, e a dos que acreditam, como eu, que a ANISTIA, ampla, geral e "quase" irrestrita, é única forma de solucionar o problema imigratório nos Estados Unidos, neste momento e dentro das atuais circunstâncias de segurança.

Por trás da já anunciada "suspensão" da loteria do Green Card, que já não mais aconteceria em 2006 ou 2007, estaria quase que declarada a morte desse instrumento. Não discordo dos que consideram o seu fim um sinal positivo de que o "non-sense" diminuiu dentro do inacreditavelmente confuso sistema imigratório norte-americano. Mas se não for para ser substituído por um novo sistema que garante, legalmente, a residência a imigrantes que já estejam aqui, lutando com suor e obediência as leis, por sua permanência no país, ai serei forçado a lamentar o fim da loteria.

É aquela história. A loteria pode ser realmente um instrumento de péssimo gosto, mas se não tivermos a Anistia e se não houver um instrumento de legalização garantida pelas leis norte-americanas que possa substitui-la, ai teremos que admitir que a loteria é uma espécie de mal necessário. Pelo menos no bojo dos oportunistas e meramente "sortudos" milhares de imigrantes que merecem sua legalização, a encontram através desse controverso instrumento.