Flórida é a capital das fraudes hipotecárias

Por Gazeta Admininstrator

Policiais que investigam o tema qualificam a situação como “epidêmica”. Um quadro que se propagou durante o auge do boom imobiliário, uma época de di-nheiro fácil e de transações milionárias que ocorriam do dia para a noite. Hoje, a Flórida ocupa o primeiro lugar em fraudes hipotecárias no país, uma situação que floresceu devido a fissuras no sistema de financiamento imobiliário, de acordo com análise realizada pelo jornal Miami Herald, com base em centenas de documentos e dúzias de entrevistas.

O esquema mais comum de fraudes funciona assim: pequenos grupos de pessoas com informações privilegiadas utilizam nomes e documentos de pessoas com bom crédito como compradores chamariz. Então inflam os preços das casas para solicitar empréstimos elevados, algumas vezes com a ajuda de um avaliador de propriedades. Em seguida, pagam ao vendedor o preço que pedia inicialmente, ficam com o resto do dinheiro no fechamento e abandonam a casa a uma execução hipotecária.

Na Flórida, são concedidos 8% dos empréstimos imobiliários do País, mas quase 18% são suspeitos, segundo as queixas dos prestamistas, afirma o Instituto de Investigação de Ativos Hipotecários, um centro de dados de fraude hipotecária.

Há duas semanas, o governador Charlie Crist assinou uma lei que converte a fraude hipotecária em um delito punível com um máximo de 15 anos de prisão.

Essas fraudes podem desequilibrar todo o mercado de bens imóveis. Prestamistas e investidores perdem milhões de dólares em maus empréstimos. Os proprietários de imóveis situados em bairros nos quais isso ocorre pagam mais impostos sobre propriedade porque os imóveis tornam-se sobrevalorizados por causa de negociações com preços falsos. E aqueles cujas identidades se utilizam acabam com o crédito arruinado. John Oral, um suposto comprador de uma casa em Llittle Gables, diz que caiu em depressão e perdeu 20 libras ao descobrir que tinha sido fraudado. “Meu crédito significa tudo para mim. Sou eu que sustento a família”, disse.

A compra do imóvel foi negociada por Dayalin Zayas, de 36 anos, e seu marido, Marlon Gonzales, de 31. Os dois entraram há três anos no lucrativo mercado de empréstimos hipotecários e se tornaram agentes de empréstimos.
Foi fácil. Os agentes de empréstimos não precisam de licença profissional na Flórida. Pelo menos, durante um ano, o casal conseguiu compradores de casas para várias companhias de hipotecas. Os dois decidiram, então, contratar Michelle e Ramiro Ramis, que eram, respectivamente, avaliadora de reclamações de seguros e administrador de venda de peças de automóveis , respectivamente. Em pouco mais de um mês os dois conseguiram aprovar seis hipotecas no valor total de $3,67 milhões.

As agências de crédito não abrem contas até que seja concluído o primeiro ciclo de cobrança, que pode demorar até 90 dias. Os prestamistas não tinham maneira de ver as múltiplas dívidas assumidas pelos Ramis. Por isso, rapidamente, o casal tinha em seu nome quatro casas em Coral Gables e duas próximo a Little Gables. “Não tinha idéia de que era ilegal. Sabia que se podia ganhar dinheiro, que o mercado andava bem, mas se soubesse que isso arruinaria o meu crédito, não teria feito”, disse Michelle Ramis.

Meses depois, a rede se expandiu. Um falso comprador recrutava o outro. John Oral afirma ter concordado em dar seu número de seguro social para utilização em documentos de empréstimos, mediante um pagamento de $7 mil. O imóvel envolvido na transação foi avaliado em $550 mil, quase $100 mil acima do valor de mercado.