Flórida é o 4° estado em número de homicídio de mulheres no trabalho

Por Arlaine Castro

Abril é o mês de conscientização da violência no local de trabalho e é o mês em que mais são registradas mortes de mulheres no ambiente profissional, segundo dados do Bureau of Labor Statistics. O homicídio é uma das principais causas, sendo cerca de um terço das mulheres mortas por parceiros íntimos no trabalho. Medo de perder o emprego, dependência financeira e aumento do custo de vida estão entre as causas mais apontadas pelas quais a maior parte das mulheres se torna vítima de violência no trabalho e de relacionamentos abusivos, aponta o Centro de Trabalhadores de Miami, uma organização que trabalha com sobreviventes de violência doméstica. As estatísticas nacionais mostram que as mulheres têm quase três vezes mais chances de serem assassinadas no trabalho, em comparação com os homens. Os homicídios representaram 22% de todas as mortes femininas no local de trabalho entre 2011 e 2017, segundo o site Alarms.org. Para os homens, representou apenas oito%. Nas classificações por estado, a Flórida aparece em 4° lugar empatado com o Tennessee com 16% de homicídios de mulheres no local de trabalho. Os outros primeiros estados que apresentam maior índice desse tipo de crime nos EUA são Arkansas, com 37%; South Carolina, com 27%; e Nevada, com 18%, cita o site. A Flórida teve as taxas mais altas em 2012, com 11 homicídios femininos durante o trabalho e 2016 com 10. O estado não foi incluído no ranking do Violence Policy Center, já que não envia dados para o Relatório Suplementar de Homicídios do FBI, que é onde o VPC obtém seus dados. Quando os homens são assassinados no trabalho, é mais comum no decorrer de um assalto, mas, para as mulheres, é mais provável que sejam pessoas que elas conhecem. "Os abusadores atiram nas mulheres no trabalho porque é fácil encontrá-las lá", diz Lydia Waligorski, diretora de políticas públicas da Colorado Coalition against Domestic Violence. Para a diretora, uma mulher que deixa o parceiro pode mudar visual, hábitos e o número do telefone, mas provavelmente continuará no mesmo emprego. "É o acesso. A facilidade de encontrá-la está no trabalho. As portas estão abertas. Existem outras pessoas ao redor. É um lugar onde ela se sente segura, mas não está", completa Waligorski. Entre a vida ou o trabalho Wanda Gomez, de 41 anos, não sabia se conseguiria sobreviver depois de ser esfaqueada várias vezes por um ex-namorado que também assediou sexualmente sua filha menor de idade. O seu agressor era um colega de trabalho que ficou foragido depois do crime. Correndo risco de morte, as autoridades aconselharam Gomez, mãe de sete filhos que ganhava US $ 13 por hora como operária de demolição, a deixar sua casa e o emprego por preocupação com sua segurança. "Você não tem muitas opções", disse Gomez à Associated Press. Ela foi colocada em um abrigo e mais tarde em uma casa de transição a cerca de 50 quilômetros de sua casa em Miami devido à falta de recursos financeiros. "É entre a sua vida ou o seu trabalho." Seguro-desemprego a vítimas de violência doméstica Como Gomez, muitas mulheres nos EUA são forçadas a deixar os empregos devido à violência doméstica. Em 41 estados, sobreviventes de violência doméstica qualificam-se para benefícios de desemprego, segundo a Associated Press, mas na Flórida - que tem em média mais de 117.000 casos registrados de violência doméstica por ano - ainda não há tal compensação. Essa realidade pode mudar em breve com um projeto de lei que tem apoio na Câmara e no Senado e acrescentaria vítimas de violência doméstica àqueles que poderiam receber benefícios sob a atual lei de desemprego. As vítimas receberiam compensação por um período de até 12 semanas. Assim, para receber o benefício, as vítimas precisariam provar que voluntariamente abandonaram seu trabalho como resultado direto da violência doméstica e que foi feito um esforço razoável para manter seu emprego, como solicitar a transferência para outro local, por exemplo. Os legisladores estaduais apresentaram um projeto de lei este ano que proibiria condenados por um delito de violência doméstica ou listados em uma ordem final de restrição por violência doméstica de possuir uma arma de fogo. O indivíduo seria forçado a entregar todas as armas de fogo e munição à aplicação da lei. Números nacionais Entre 2011 e 2017, 546 mulheres foram assassinadas durante o trabalho em todo o país. Pode parecer pouco em relação aos milhões de habitantes, mas mostra o quanto esse tipo de violência afeta a vida da mulher no trabalho. Os homicídios voltaram a subir em 2016 e 2017. Essas tendências são consistentes com os números do Centro de Políticas de Violência, que viu um pico de mulheres mortas por homens em 2016. A violência doméstica nem sempre se limita ao alvo principal. Uma grande parte dos tiroteios em massa são atos de violência doméstica em seu núcleo. Por isso, em 2017, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças começaram a oferecer um pacote de programas destinados a combater a cultura da violência doméstica. Afinal, quem mata e de que forma? De 2011 a 2017, os dados indicam que as mulheres foram mortas durante o trabalho em maior número por um parceiro íntimo ou membro da família, seguidas por ladrões e colegas de trabalho, conforme cita o Alarms.org. As armas de fogo são a principal arma de escolha nos homicídios relacionados, usadas em 70% dos casos. Esfaqueamento foi respo nsável por 13% dos homicídios seguidos por força física, como bater ou chutar (4,5%), múltiplos atos de violência (4%), estrangulamento (3,6%) e bombardeio ou incêndio criminoso (0,1%). Faixa etária e período Dentro do período analisado, as mulheres de 45 a 54 anos de idade foram as mais suscetíveis a serem assassinadas no trabalho, respondendo por 14 de todos os homicídios femininos ocorridos. Abril é o mês em que os homicídios de mulheres são mais prováveis de acontecer, quando comparados aos outros meses. E o dia da semana com maior registro da violência foi às sextas-feiras, respondendo por 17% de todos os homicídios. Cargos com maior número de mortes Para definir as estatísticas, o Bureau of Labor usa seus próprios perfis ocupacionais ao classificar acidentes e fatalidades no local de trabalho. As ocupações de vendas e de escritório registraram os mais altos homicídios femininos, com 189 casos de mortes nos seis anos, com taxas altas entre os trabalhadores de varejo e caixas. O setor de serviços teve a segunda maior taxa, com 164 homicídios, especificamente serviços pessoais e ocupações de food service. Já as ocupações gerenciais foram as terceiras mais altas, com 76 homicídios ao longo de seis anos. Os estados não incluídos no estudo do Bureau of Labor Statistics são o Alasca, Havaí, Idaho, Maine, Minnesota, Nova Hampshire, Novo México, Dakota do Norte, Rhode Island, Utah, Vermont e Wyomi. *Foram analisadas as taxas por estado usando os dados do Bureau of Labor Statistics, que publica relatórios sobre todas as mortes no local de trabalho. Para encontrar a pontuação final, o Alarms.org verificou as taxas de homicídio em todos os estados entre os anos de 2011 e 2017, comparando esses números com a população feminina do estado em cada um desses anos.