Flórida aprova educação em saúde mental nas escolas públicas

Alunos de escolas públicas de todo o estado, do 6º ao 12º ano, terão ao menos cinco horas por ano de atividades relacionadas à educação psicológica

Por Arlaine Castro

As aulas vão instruir os alunos para reconhecerem sinais e sintomas de doenças mentais, bem como procurarem ajuda para si mesmos ou para colegas.

O Conselho de Educação do Estado da Flórida votou no dia 17 deste mês uma resolução que exige que as escolas públicas forneçam aos alunos do ensino fundamental e médio, um mínimo de cinco horas de educação em saúde mental por ano.

De acordo com o Departamento Estadual de Educação, essas aulas instruirão os alunos sobre como reconhecer sinais e sintomas de doenças mentais e como procurar ajuda para si mesmos ou para os outros. Também irão educar os alunos sobre os recursos disponíveis para buscar ajuda, bem como o que fazer ou dizer aos colegas que estão sofrendo com distúrbios mentais.

"A educação psicológica deveria ser encarada como uma matéria de base como a matemática, por exemplo. É tão importante quanto. Afinal de contas, tudo o que fazemos na vida ou não fazemos para o bem ou para o mal depende das nossas condições psicológicas" destaca a terapeuta Adriana Tanese Nogueira.

Para Tanese, a condição psicológica é fundamental para que todo o resto funcione. "Antes mesmo de termos que lidar com questões materiais do mundo, com literatura, matemática, química, por exemplo, somos feitos de questões psicológicas. Por isso, prestar atenção na psicologia é essencial para o desenvolvimento saudável de qualquer indivíduo", explica.

A implantação dessas aulas extras é mais um esforço dos legisladores da Flórida que se uniram em torno de programas de saúde mental e regulamentos após o tiroteio em massa do dia 14 de fevereiro de 2018 na Marjory Stoneman Douglas High School, quando Nikolas Cruz, ex-aluno de 19 anos com histórico de problemas de saúde mental, entrou e matou 17 pessoas.

"Minha filha vive um dia de cada vez. Ela não vai esquecer o que viveu, mas vai conseguir superar", diz Flávia Soares, mãe de Júlia de 15 anos, que estuda na Marjory e foi salva "por um milagre" no dia do tiroteio. "Foi por Deus que Nikolas não entrou na sala… senão minha filha não estaria aqui e ele teria matado mais 15 pessoas", relembra Flávia, que acha válida a ideia de aulas de educação mental, mas entende que a escola é um complemento e os pais que têm a obrigação de cuidar, zelar, educar. "Os pais devem estar presentes na vida dos filhos", destaca.

Transtorno mental
atinge 1 em cada
5 jovens

"O tempo é um fator crítico. Aproximadamente 1 em cada 5 jovens na Flórida e em todo o mundo sofrem de distúrbios de saúde mental antes de completarem 25 anos ", observa a nota do departamento de educação.

"Este é apenas o começo. Não é nenhum segredo que a doença mental rouba do estudante a capacidade de atingir todo o seu potencial, e estamos unindo forças para combater esta doença e dar aos nossos alunos as ferramentas necessárias para prosperarem", disse o Secretário de Educação da Flórida, Richard Corcoran.

Os fundos para o programa virão dos US$ 75 milhões que o governador da Flórida, Ron DeSantis, destinou à Alocação de Assistência à Saúde Mental para as escolas da Flórida no orçamento para 2020.

Contudo, o departamento ainda não especificou uma data de início e como será aplicada a educação mental nas escolas.

Nacionalmente, a estimativa é que 49,5% dos adolescentes com idades entre 13 e 18 anos tenham algum tipo de transtorno mental, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental. O instituto relata que 31,9% sofrem de um transtorno de ansiedade, enquanto 2,3 milhões de adolescentes entre 12 e 17 anos tiveram pelo menos um episódio depressivo em 2017.

Além de identificar sintomas e buscar ajuda, a medida incentiva a conscientização dos alunos sobre a linha direta Nacional de Prevenção do Suicídio e outros órgãos que ajudam pessoas que sofrem de problemas mentais.

Com isso, a Flórida se alia à Virginia e Nova York , passando a investir e a trabalhar um pouco mais o lado emocional das crianças e adolescentes - fases consideradas cruciais por especialistas para afirmação social e equilíbrio mental dos alunos.

O Gazeta News entrou em contato com o departamento para saber sobre esses detalhes, mas até a publicação desta edição não houve retorno.