Flórida tem a segunda maior parcela de imigrantes com 65 anos ou mais dos Estados Unidos

A área metropolitana de Miami-Fort Lauderdale-West Palm Beach ocupa a terceira posição com imigrantes idosos nos EUA

Por Arlaine Castro

A Flórida tem pouco mais de 800.000 imigrantes com mais de 65 anos, atrás apenas dos 1,6 milhões da Califórnia.

Com um clima mais quente e uma boa qualidade de vida, a Flórida vem se tornando cada vez mais lar de imigrantes com 65 anos ou mais. Contando toda a população, um em cada cinco residentes estava nessa faixa etária em 2018 - uma porcentagem maior do que qualquer outro estado, de acordo com dados divulgados recentemente em um relatório do US Census Bureau.

Nos três condados mais populosos do sul da Flórida - Miami-Dade, Broward e Palm Beach - o número de residentes com 75 anos ou mais atingiu cerca de meio milhão de pessoas, diz o censo. Não é difícil encontrar quem já tenha passado dos 60 anos e escolheu a Flórida para morar, neste caso, grande parte também de imigrantes.

Segundo o relatório, 21,2% da população de 65 anos ou mais da Flórida é nascida no exterior, um número significativamente maior que a média de 13,1% dos EUA. Com pouco mais de 800.000, sendo 90.000 indocumentados, indicam os dados, o número total de imigrantes com mais de 65 anos na Flórida fica atrás apenas dos 1,6 milhões da Califórnia.

Segundo o relatório, a maioria dos residentes estrangeiros mais velhos vive nas grandes cidades e nos arredores. A área metropolitana de Miami-Fort Lauderdale-West Palm Beach ocupa a terceira posição no país, atrás das áreas de Nova York e Los Angeles, com quase 475.000 idosos nascidos no exterior. Também dentro das 25 principais áreas metropolitanas estão a região de Tampa Bay (76.517 idosos nascidos no exterior) e a área de Orlando (60.732).

Prestes a completar 66 anos de uma forma bem ativa, a brasileira Silvia Talpo mora em Lantana, cidade no condado de Palm Beach e conta que trabalha por conta própria com limpeza de casas. Gosta de ser independente e no dia que parar, vai adoecer. "Trabalho porque gosto e, por ser independente, não quero ainda a ajuda financeira de meus dois filhos. Tenho minhas contas e gosto de ganhar com meu trabalho para pagá-las. Me sinto feliz assim. Dirijo todos os dias 25, até 40 milhas para cada casa que vou e me sinto autossuficiente, se parar de trabalhar acho que vou adoecer", menciona.

Apesar de já ser aposentada no Brasil, Talpo enfatiza que quer continuar trabalhando e ainda não pensou sobre aposentadoria aqui nos EUA. "Quero seguir trabalhando no que sei e gosto de fazer. Não pensei ainda em me aposentar aqui, sou aposentada no Brasil com um salário mínimo e aqui, enquanto tiver energia, sigo trabalhando", destaca.

Pobreza e força

de trabalho

De acordo com o estudo, os idosos nascidos no exterior também têm maior probabilidade de viver na pobreza do que os idosos nascidos nos EUA, embora ambos os grupos tenham taxas de participação semelhantes na força de trabalho.

Grande parte dos idosos imigrantes permanece trabalhando até o fim da vida ou até quando a saúde lhes permite. Assim é para a engenheira mecânica aposentada Edina Makinodam, 64 anos, que mora há 4 anos em Pompano Beach e vive uma rotina ativa de muito trabalho. "De segunda a sábado, trabalho na cozinha de um restaurante grego e após o horário, atuo como cabeleireira em casa. Ah, também faço reparos em roupas", detalha.

Descendente de japoneses, Makinodam morava em São Paulo, mas por causa do filho, decidiu vir para a Flórida. "Hoje estou aqui na América pelo meu filho, o futuro agora é dele, ele é game master, já trabalha, mas prefiro ficar perto", conta.

Saúde e cuidados -

idosos imigrantes

mais vulneráveis

A diferença cultural influencia no cuidado dos imigrantes com a saúde, principalmente na terceira idade. São mais desafios que a população imigrante mais velha enfrenta, como a barreira imposta pela língua diferente e a falta de conhecimento sobre como funciona o sistema de saúde.

"Eu acho que eles têm muitas desvantagens. Existe a barreira do idioma, mas também o fato de eles não saberem como navegar no sistema. Eles não sabem que recursos existem, que oportunidades existem ", disse Leyanee Perez, nutricionista, que participa de feiras de saúde para idosos imigrantes como a do Santuário de Nossa Senhora da Caridade (ou a Ermita de la Caridad, como é mais comum em espanhol, em Miami-Dade. "Eles são mais vulneráveis do que outras pessoas americanas".

Os hispânicos representam cerca de dois terços dos idosos do condado de Miami-Dade, segundo o censo. Com o costume de cuidados em casa pela própria família nos países latino-americanos, o fato de idosos irem para centros específicos de cuidados para essa população, assusta um pouco.

"Adoro trabalhar. Sempre fui muito ativa, praticante de karatê por seis anos e academia. Para a saúde, nessa idade, morar em um país de primeiro mundo é bem melhor", finaliza Makinodam.