Mais ativas no mercado de trabalho, mulheres contam os desafios de ocupar funções antes masculinas

Em dezembro de 2019, 50,04% dos empregos americanos estavam ocupados por mulheres, segundo o Bureau of Labor Statistics.

Por Arlaine Castro

Fazendo entregas para a Fedex, Cecília Weissberg revezava o volante com o marido e passou por quase todos os estados americanos.

As mulheres são agora a maioria da força de trabalho dos Estados Unidos, de acordo com o Bureau of Labor Statistics,- mas ainda enfrentam sérios desafios que incluem a dupla jornada no trabalho e em casa, o preconceito em funções tidas ainda como "masculinas" e a diferença salarial ocupando as mesmas posições que os homens.

Mulheres na força de trabalho

As mulheres detêm a maioria dos empregos pela primeira vez em quase uma década nos EUA. Em dezembro de 2019, 50,04% dos empregos americanos estavam ocupados por mulheres , excluindo trabalhadores agrícolas e trabalhadores independentes, de acordo com o Bureau of Labor Statistics. A porcentagem é superior a de 49,7% há apenas um ano.

Indo na contramão do país, de acordo com o Institute for Women's Policy Research, a Flórida tem uma das menores participações de mulheres na força de trabalho dos EUA - 53,7%, colocando o estado no ranking de 48º. Existe uma grande variação nas taxas de participação da força de trabalho feminina na Flórida, variando de 24,6% no Condado de Sumter para uma alta de 62,9% no Condado de Orange, aponta o instituto.

Em 2018, o estado ocupava a 38ª posição no país com salário médio anual para mulheres que trabalham em período integral o ano todo (US$35.000), com os ganhos femininos variando consideravelmente de acordo com a raça e a etnia, segundo o Institute for Women's Policy Research e o Florida Philanthropic Network.

Os órgãos apontam ainda que se as mulheres recebessem o mesmo valor que os homens na mesma posição, o salário médio delas aumentaria em US$6.300, um ganho de mais de 16%.

Em 2018, as mulheres da Flórida que trabalhavam período integral em regime de salário tinham um salário médio semanal de US$716, ou 82,6% dos ganhos semanais médios de US$867 de seus colegas homens, informou o Bureau of Labor Statistics dos EUA.

Ocupando funções outrora masculinas

Cada vez mais mulheres estão ingressando em setores antes dominados por homens. O contrário também vem acontecendo - homens já exercem funções e profissões que antes eram dominadas por mulheres, como maquiadores e profissionais da beleza, por exemplo - mas ainda em menor proporção.

Caminhoneira

Para a radialista Cecília Weissberg, que já teve a experiência de trabalhar como caminhoneira rodando boa parte dos Estados Unidos, fazer algo que não é comum sempre chama atenção, ainda mais quando já se tem uma profissão e de repente larga tudo para dirigir caminhão - um trabalho ainda predominantemente masculino.

"As pessoas olhavam e achavam estranho como eu, mulher, que já tinha uma profissão, parei tudo para virar caminhoneira. Mas foi uma experiência muito interessante. Pude vivenciar o dia a dia deles (caminhoneiros) e ver que a infraestrutura nos EUA é excelente!", conta.

Em um mundo no qual mulheres estão exercendo profissões antes dominadas por homens, a jornalista entende que as mulheres não têm que fazer tudo o que os homens fazem, mas têm sim capacidade para realizar muitas coisas, apesar do limite físico. "Depende da necessidade, a mulher é muito mais multifuncional que os homens, tem o 'software' mais completo, digamos. Mas acho que mulher não tem que ser nem mais nem menos que os homens. É importante as mulheres fazerem coisas para mostrar a capacidade e isso, com certeza, vai abrindo um campo muito maior, inclusive de trabalho".

Ajudante de pedreiro

Por problemas pessoais, Cyntia Oliveira precisou deixar para trás uma construtora na Paraíba, na qual era proprietária, e veio para a Flórida, onde trabalhou como ajudante de pedreiro. "Como conhecia um pouco de construção, não hesitei na oportunidade em trabalhar nesse ramo aqui na América. No início foi duro, trabalhava limpando e retirando entulho das obras. Senti muito preconceito quando passei a por a mão na massa, literalmente. Mas homens na construção são durões, mas são paternais também. Tive a sorte de achar boa gente pela vida de pedreira. Com o tempo, eles viram meu esforço em aprender e passaram a me dar crédito", conta.

Uma "faz-tudo"

Atualmente numa realidade bem diferente da que passou, por cinco anos Cynthia Kuroswski trabalhou em funções predominantemente masculinas.

"Na época, eu tinha saído da casa da minha mãe em Miami e como não estava legalizada e nem tinha experiência, fui trabalhar em construção, encanamento, pintura, limpeza", relata. "Todos trabalhos pesados e às vezes ganhava $5 a hora. Eu fazia mais que muito homem, carreguei muito saco pesado, dormi no chão de warehouse, em cima de máquina de lavar. Doente ou não, tinha que trabalhar".