"O coronavírus está interrompendo sonhos": brasileiros contam por que decidiram voltar para o BR

Ficar perto da família e amigos e a falta de trabalho e de dinheiro são os principais fatores mencionados

Por Arlaine Castro

Sem trabalho, sem dinheiro e com medo de passar pela pandemia longe da família, brasileiros nos EUA decidem voltar.

"O coronavírus está interrompendo alguns sonhos", aponta a paulista Nádia Mancuzo, que mora em Orlando com o marido e conta por que eles decidiram voltar agora para o Brasil.

"Estou grávida e a situação está complicada. Além disso, pagamos escola de inglês. O coronavírus está interrompendo alguns sonhos. Recebemos renda de uns investimentos e imóveis no Brasil, mas o dólar alto deste jeito nos deixa muito limitados", explica.

As comunidades de imigrantes em todo os Estados Unidos estão enfrentando uma das piores devastações econômicas provocadas pelo novo coronavírus.

As perdas de empregos já se espalharam pelas comunidades e para os imigrantes indocumentados, os riscos são ainda maiores. Mesmo aqueles que estão legalmente no país, mas vieram recentemente para morar por um período de tempo menor, a vontade de ir embora tem batido mais forte.

Passagens compradas

Com passagens já compradas para São Paulo para o dia 31 de maio, a paulista não vê a hora de retornar. Os planos dela e do marido mudaram devido à crise gerada pela pandemia na Flórida.

De Ribeirão Preto (SP) e formada em Letras no Brasil, Mancuzo veio com o marido em outubro de 2018 para ficar dois anos estudando com a intenção de concluir o curso e fazer o TOEFL. Mas com a situação financeira apertando e os números de casos aumentando nos EUA, resolveram antecipar a volta.

"Me vejo obrigada a voltar antes por todas as circunstâncias. Principalmente porque os Estados Unidos estão com quase 800 mil casos já. Acredito também que os EUA voltarão ao normal mais rápido e imagino que no Brasil esteja pior do que mostram os números, mas estaremos junto de nossos familiares", salienta.

O fato de não poder sair pelo medo de contaminação também influencia. "Não temos mais acesso aos parques temáticos e evitamos os parques ao ar livre também. Sinto depressão por não poder sair de casa. Como estou grávida, não saio nem pra caminhar pra não correr o risco de cruzar com pessoas nas calçadas", conta.

"Passa pela cabeça

voltar sim"

Além daqueles que já decidiram voltar, há também brasileiros que admitem ter pensado seriamente a respeito. Como Samanta Pereira, que mora em Tampa há quatro anos com o marido e os filhos e chegou a pensar em ir para o Brasil durante esse período. "Eu pensei em voltar pelo fato da seriedade do vírus. E consequentemente pareceu que a nossa fragilidade ficou mais evidente frente à pandemia. Então eu pensei que deveria estar perto dos parentes, nesse momento; acho que por sentir a morte mais perto", conta.

Sem trabalho e sem

renda, mas

preferem ficar

Na Flórida, onde vivem mais de 300 mil brasileiros, segundo estimativa do Consulado do Brasil em Miami, parte da comunidade vive a angústia de não saber se vai ter dinheiro para o aluguel e para a comida a cada dia que passa.

Segundo o pastor Silair Almeida, que coordena a arrecadação de alimentos e entrega de cestas básicas da PIB-Florida em Pompano Beach, as filas já enchem duas horas antes da entrega. "Tem muita gente desempregada. Tem muita gente sem documento que não recebe ajuda do governo", diz.

Questionado se ouviu ou conhece brasileiros que falaram em voltar, o pastor disse que "mesmo com a crise, muitas pessoas não pensam em voltar para o Brasil porque acham que as condições lá estão piores do que aqui".