Golpistas usam "robô" para roubar dados e fraudar aplicativos de compras e de transporte

Brasileiros estão entre os que burlam o sistema para obter mais lucros com o aplicativo, denuncia youtuber

Por Arlaine Castro e João Freitas

Golpistas usam "robôs" para terem acesso às compras mais caras e assim lucrarem mais no Instacart.

Aplicativos de compras e de transportes têm dobrado o serviço na Flórida, nos Estados Unidos e no mundo todo. Com a pandemia, algumas Startups viram seus lucros aumentarem diariamente. É o caso da Instacart - uma empresa online de compras de supermercado. Mas junto com a expansão e lucro, vêm também as fraudes.

O CEO da Instacart, Apoorva Mehta, disse à Bloomberg que a empresa já entregou mais mantimentos neste ano - US $ 35 bilhões - do que esperava até o final de 2022.

Para acompanhar a demanda, a empresa anunciou no final de março que recrutaria mais 300.000 trabalhadores contratados, ou "compradores", como são chamados. Um mês depois, a Instacart anunciou que havia atingido essa meta, elevando sua força de trabalho total para 500.000, e que pretenderia outras 250.000, superando até a onda de contratações da Amazon.

O golpe

Mas nem tudo são flores dentro do negócio e os próprios compradores denunciam fraudes que vêm dificultando o trabalho. A youtuber Mel USA, com 217 mil seguidores na rede social, postou um vídeo no dia 6 de maio expondo crimes graves cometidos por brasileiros em aplicativos de serviços, mais especificamente no Instacart e Uber.

O Instacart é um aplicativo de compras de supermercado. Em linhas gerais, o cliente monta o carrinho de compras, depois escolhe a data, hora e local que as compras serão entregues em sua casa. No vídeo, a youtuber mostra como funciona a fraude, que envolve uma espécie de robô, onde o colaborador do aplicativo consegue trapacear o sistema e escolher apenas os pedidos mais lucrativos. O robô mencionado no vídeo é comercializado por $500.

Essa fraude aumentou nas últimas semanas e tem desanimado quem trabalha honestamente como "shopper" ou o responsável por fazer e entregar as compras.

"Compras que

somem"

É o caso da brasileira, R. B. - que pediu para não se identificar - e trabalha legalmente no Sul da Flórida com vários aplicativos. "Eu trabalho com aplicativos faz quase 2 anos. Todos funcionam normal... apenas o Instacart faz umas 4 semanas que ficou péssimo", desabafa. Ela alega que conseguia ganhar cerca de $750 semanais no início da pandemia, hoje ganha 400. "Hoje não dá nem tempo de pegar as compras, [a ordem] aparece na tela e some em questão de segundos. Antes ficava aparecendo por um tempo, agora piscou, perdeu", explica.

Sobre os aplicativos que burlam o sistema descritos pela youtuber, R. B analisa. "E o pior é saber que pessoas compram esses aplicativos e nos prejudicam. Mas, tenho certeza que em breve o Instacart fará algo."

"Desisti de trabalhar

pela Instacart"

A paulista Lilian Graciano mora em Miami Beach e conta que decidiu parar de trabalhar pelo aplicativo depois que esses "roubos" das compras passaram a acontecer. Segundo ela, há umas três semanas, começou a ficar mais difícil para acessar as compras.

"Quando comecei a fazer, aparecia umas quatro ou cinco compras de uma vez e podia escolher com calma qual iria pegar. Agora, quando aparece - já fiquei mais de três horas online e não apareceu nenhuma - ela some num piscar de olhos. É inacreditável", afirma.

Graciano fala sobre vídeos que têm circulado no youtube sobre a fraude. "Colocam um aplicativo para 'puxar' todas as compras, eles ficam segurando para escolher a mais cara e por isso não aparece pra gente; e quando aparece é muito rápido e já some. Teve vezes de aparecer 9 compras e sumir todas em 1 segundo. Além desse aplicativo que as pessoas estão usando para roubar as compras, também ouvi falar sobre 'aluguel' de dados pessoais para outras poderem usar", detalha.

Numa condição de trabalho normal, Graciano conta que fazia de 5 a 8 viagens por dia e ganhava entre 120, 160 dólares trabalhando 8 horas por dia. Isso é o normal de se fazer. "Para mim não aparecia compras altas, às vezes aparecia uma de 50, 40, mas a maioria das vezes era de 20, 30, 18. Valores assim em média. Mas dava uma grana boa".

Segundo Graciano, ela também percebeu que começaram a fazer descontos no pagamento final sem explicação. "Do valor mostrado que eu receberia por uma compra, por exemplo, vinha faltando. Já tive seis dólares de diferença. Não sei o porquê. Você aceita a compra por um valor e quando você vai receber é outro valor", diz.

Além disso, o aplicativo tem alterado a gorjeta que o comprador pode ganhar. "Já vi pessoas que tinham um valor de 'tip' para ganhar e no final foi retirada parte dela", conta.

Depois desses problemas, a jovem entrou em contato com a empresa e decidiu parar até que a situação melhore. "Preferi parar de fazer até ver o que a Instacart vai fazer porque está impossível", lamenta. Leia a matéria completa no gazetanews.com