Fluxo de latinos ilegais para os EUA dobrou em 10 anos

Por Gazeta Admininstrator

A proliferação de cemitérios para indigentes no sul da Califórnia reflete a tragédia política e social que toma conta da região. Esses cemitérios recebem um número cada vez maior de corpos. Ninguém sabe quem são, o governo americano não consegue identificar as famílias e as autoridades de seus países de origem raramente pedem a devolução.

A maioria é de imigrantes latino-americanos, vítimas do sonho de tentar entrar nos Estados Unidos, ainda que ilegalmente, em busca de uma vida melhor. De acordo com o Instituto de Política de Imigração dos EUA, o número de latinos cruzando a fronteira hoje é duas vezes maior que há dez anos, atingindo quase 300 mil por ano. Dois terços desse contingente são mexicanos.

O governo dos EUA endureceu as medidas contra a imigração ilegal nos últimos meses, o que estaria por trás da queda da quantidade de detenções de imigrantes tentando entrar ilegalmente no país: entre julho de 2006 e janeiro deste ano, o número caiu 27% em comparação ao mesmo período de 2005. Foram presas 36,3 mil pessoas em San Diego e outras 92 mil em postos de fronteira do Arizona. Hoje, pela lei, a polícia pode extraditar um imigrante sem que o caso passe por um juiz.

Violência

Mas os críticos dizem que o que se vê é mais violência, militarização e mal-estar na área de fronteira mais movimentada do mundo - entre Tijuana (México) e San Diego (EUA) -, por onde passam 75 mil pessoas por dia. Quem ganha, segundo os próprios imigrantes, são os traficantes (conhecidos como 'coiotes'), que em apenas um ano dobraram o valor do serviço para levar uma pessoa de um lado ao outro da fronteira.

Segundo organizações de direitos humanos, o aumento do número de mortes é conseqüência da política adotada pelo governo de George W. Bush. Nos últimos meses, verdadeiras bases militares foram montadas em vários pontos da fronteira. Em Tecate, cidade dividida entre os EUA e o México, soldados vestidos percorrem as montanhas em busca de ilegais. Barreiras ainda são colocadas a cada 30 quilômetros nas estradas e os carros são vistoriados.

O governo está pedindo mais 3 mil militares para reforçar o contingente atual de 6 mil homens e US$ 1 bilhão para construir um muro na fronteira, que tem quase 1.100 quilômetros de extensão.

Especialistas advertem que a militarização agravará a violência e os riscos aos imigrantes. Um dos novos fenômenos na região é a luta entre gangues que organizam a passagem dos ilegais. Há quem pague até US$ 4 mil para ser levado de um lado ao outro e acaba seqüestrado pelo cartel inimigo. Só é liberado depois que a família, no México, paga fiança.

Segundo a polícia americana, em 2006 foram registrados 65 seqüestros de 'cargas'. Os traficantes usam túneis cada vez mais sofisticados, mas acabam entrando em guerra com os cartéis de droga, que não aceitam a invasão de suas rotas e atiram para matar.