Por: Atilano Muradas
Na tarde de 6 de setembro, o valadarense Geraldo da Silva Carlos, 46 anos, fotógrafo freelancer do Brazilian Voice Newspaper, de Newark (NJ), fez uma descoberta macabra nas proximidades do antigo Multiplex Cinemas, no bairro do Ironbound, em Newark.
Lá, ele encontrou, embaixo de um monte de entulhos, um corpo parcialmente coberto por um pedaço de madeira e sacos de lixo. Ao levantar um dos sacos, Geraldo viu o corpo de uma mulher nua, de aproximadamente 30 anos, já em estado de decomposição. O corpo ainda não foi identificado.
Assustado com a descoberta, Geraldo tirou várias fotos do cadáver e dirigiu-se à redação do Brazilian Voice, onde relatou o fato ao editor do jornal, Roberto Lima. A equipe de reportagem do jornal foi ao local, confirmou o achado e, em seguida, rumou diretamente à Delegacia do East Ward (Zona Leste) para comunicar o fato às autoridades. Acompanhada por policias, a equipe do Brazilian Voice retornou ao local, onde forneceu mais detalhes às autoridades. Exames posteriores revelaram que a morte pode ter ocorrido entre três e quatro semanas, devido ao avançado estado de decomposição. Esse detalhe indica que, provavelmente, o crime ocorreu bem antes da realização da Festa do Brasil, que ocorreu um dia antes, naquele local, segundo informações do jornal Brazilian Voice.
Horas depois, o capitão Di Maio ligou para a delegacia e ordenou a detenção do editor Roberto Lima, caso ele não entregasse o CD com as fotos do corpo tiradas antes da chegada da polícia ao local do crime.
Roberto Lima foi algemado a um banco de madeira na delegacia e, mais tarde, escoltado por dois detetives até a redação do jornal, onde foi obrigado a entregar o CD com as fotos às autoridades. O editor do Brazilian Voice lamentou o episódio, que considerou uma violação de seus direitos de imprensa.
“A atitude do polícia neste episódio revela que ainda estamos longe de viver numa sociedade que respeita os direitos de expressão e imprensa. Por algumas horas, senti-me como se estivesse vivendo numa Cuba de Fidel Castro, numa Coréia de Kim Jong-il. Atitudes como esta jogam abaixo todo o esforço de aproximação da polícia com a comunidade ao longo dos últimos anos. Jogaram o bom trabalho feito por Anthony Campos numa lata de lixo”, escreveu no editorial do Brazilian Voice. “Ações desse tipo intimidam os residentes sem documentos que acabam relutando em denunciar marginais e atividades crimi-nosas às autoridades na região”, finalizou. (Fonte: Brazilian Voice).
Em entrevista exclusiva ao Gazeta, o jornalista Roberto Lima, que também é o presidente da Associação Brasileira de Imprensa Internacional – ABI-Inter, fala do episódio bem como em que pé está o processo movido pelo jornal contra as autoridades policiais americanas.
GAZETA - Qual foi a alegação das autoridades em relação a você ter ou não ter as fotos? Por que queriam tanto essas fotos?
ROBERTO - Não alegaram absolutamente nada. Na verdade, toda essa confusão é fruto da arrogância e desrespeito do vice-diretor de polícia da cidade de Newark. Eu me prontifiquei a dar-lhe cópias de todas as fotografias. Mas isto não lhe bastou. Muitas críticas têm sido feitas à polícia de Newark, principalmente depois que três universitários foram baleados por um imigrante. Suponho que este seja o motivo deles não quererem qualquer outro “pepino”.
GAZETA - E as fotos, foram ou não foram publicadas? Se você ganhar o processo terá direito a isso?
ROBERTO - Tiramos as fotografias antes do local ser considerado uma “cena do crime”. Meus advogados estão estudando todos os aspectos em que minha liberdade de imprensa e de cidadão foi violada. Não cabe à polícia determinar o que um veículo de informação pode ou não publicar. Isto é censura, muito comum em países não-democráticos. Não é o caso dos Estados Unidos. As fotos do corpo não foram e nem serão publicadas. Mas é um direito meu tomar essa decisão. Nosso equi-
pamento continua nas mãos da polícia. Estamos tratando que isto seja reparado, nos canais apropriados. Vivemos na maior democracia do mundo e aqui não há lugar para a violação de direitos básicos de nossos cidadãos. Tomara que esse episódio sirva para fortalecer esse referencial ameri-
cano, que é o da preservação das liberdades civís.
GAZETA - Você cita em suas palavras o bom trabalho de Anthony Campos. Quem é esse homem, o que ele fez?
ROBERTO - Anthony Campos é o recém-empossado chefe de polícia de Newark, um luso-americano, indivíduo que cresceu no bairro do Ironbound e co-nhece como poucos os problemas dos que aqui vivem. Ao longo dos últimos anos ele desenvolveu um excelente trabalho de aproximação entre polícia e comunidade. A atitude arrogante e inconsequente de Sam Di Maio jogou por terra todo o bom trabalho de Anthony Campos. Depois desse episódio, duvido muito que algum brasileiro que tenha testemunhado algum crime na cidade, procure a polícia para reportá-lo. Ninguém quer ser preso pelo “crime” de tentar ajudar os policiais no exer-
cício de suas funções.

