Furacão Irma e o sangue frio

Por Adriana Tanese Nogueira

Os recentes acontecimentos ligados ao furacão Irma hão de nos fazer refletir. Diante de um possível perigo, perder a cabeça e se deixar levar pelo desespero é tão prejudicial quanto ignorar o perigo e fazer de conta de nada. Se o perigo for grande, como nesse caso, tendo sido Irma identificado como o pior furacão registrado na história, manter a cabeça no lugar é essencial.

Diante do perigo, hão de ser tomadas as medidas necessárias – e possíveis. Lembrando os “possíveis”! Desesperar-se pensando em soluções impossíveis e impraticáveis é acrescentar mais ansiedade àquela inevitável.

Também, faz sentido ficar fixados em imagens de destruição? É apropriado que as autoridades façam isso para que tomem providências rápidas. É apropriado que os habitantes de uma área em risco tomem conhecimento do tamanho do problema para que se protejam. Agora, ficar vidrados em vídeos e notícias que só aumentam a angústia não é um comportamento inteligente. Deve-se manter-se informados, mas sem se perder no mar de informação e de medo.

Planejar demais pensando em tudo o que se pode perder, preparando-se para o pior, é na verdade tolo. Isso é disfarçar a ansiedade numa capa de racionalidade. Não dá certo porque, em primeiro lugar, assim fazendo a ansiedade se faz incontrolável; e, em segundo, é muito frequente acabar por desperdiçar tempo, energia e dinheiro, porque a ansiedade não permite a mente lúcida e objetiva, muito pelo contrário.

A ansiedade se domina aprendendo a centrar-se, o que claramente é um treino, mas vale saber que é o único jeito (ou enchendo-se de psicotrópicos, e nem assim o resultado será garantido). A pessoa centrada é aquela que está presente ao seu agora, não deixa sua cabeça viajar (na maionese) do futuro. Futuro que ninguém conhece e que deve permanecer em aberto – ou o queremos poluir com as nossas mais funestas fantasias? A pessoa centrada não se deixar levar pelo medo da catástrofe, não é seduzida pela expectativa do pior, mas também não se acomoda num “vai dar tudo certo” de tipo irresponsável.

Nas fases difíceis, é preciso saber viver o momento, não um dia de cada vez, mas um momento de cada vez, para não despencar. Não se trata de imediatismo desconsiderado, mas de presença. É um ancorar-se no presente de forma consciente para saber tomar as atitudes necessárias e aproveitar das oportunidades que se abrem na hora certa.

A famosa frase de Jesus, “Orai e vigiais” significa manter-se confiantes e positivos (ou seja, abertos para o que for em atitude confiante de que haverá um jeito e um meio) e alerta, ou seja, presentes, atentos, o que não tem nada a ver com tensos e preocupados. Atentos, como um animal está naturalmente atento e presente às suas redondezas. Não há liberação de adrenalina nesse tipo de atenção.

Isso é ser realistas: estar no real, no aqui e agora – e não projetados em possibilidades que ninguém pode de fato conhecer. É fazer tudo o que se pode, e que está ao nosso alcance. É tomar conhecimento da realidade, otimizar nossos recursos e energias, planejar a ação e executa-la como bons soldados, sem desviar o pensamento.

Ser realistas é inclusive aproveitar de qualquer situação para fazer qualquer coisa que se precisa fazer e que na rotina do dia-a-dia fica geralmente para trás. Isso porque a vida vai continuar após- o furacão. Isso é certeza. Aí você aguarda, centrado. O sangue frio, a mente lúcida.

Se tem solução por que se preocupar? Se não tem solução por que se preocupar? Ditado chinês. É evidente que esta reflexão também para os outros “furacões” que acontecem em nossa vida.