Brasileiros presos em julho nos Estados Unidos usavam uma suposta ligação com facção criminosa do Rio para extorquir, roubar e vender drogas. Detidos no Interior de Massachusetts, eles se diziam integrantes da organização criminosa carioca Amigos dos Amigos (ADA), e agiam contra imigrantes brasileiros, que, por estarem ilegais nos EUA, não denunciavam os crimes. A ação da gangue causa preocupação à polícia local, que já pediu ajuda do órgão de imigração americano e está promovendo seminários com a comunidade para estimular denúncias.
Seis brasileiros foram para a cadeia de Frimingham. A um jornal local, o chefe de polícia, Steve Carl, disse temer que um pouco da violência carioca, "que faz do Brasil um dos países com maior índice de violência urbana", se instale na cidade. A 30 minutos de Boston, Frimingham tem cerca de 100 mil habitantes, dos quais 30 mil são brasileiros. A polícia de lá identificou pelo menos duas quadrilhas que atuam na região, denominadas de Furacão e Jovem Brazilian Máfia. Carl garante que elas têm conexões fortes com traficantes do Rio.
Todos os seis brasileiros presos estavam ilegais no país e tinham pelo menos uma passagem pela polícia, na sua maioria por infrações de trânsito. Com dois deles, os mineiros Marcilei Caetano e Joelson Gomes Fonseca, 24 e 21 anos, foram encontrados anabolizantes e outras drogas sintéticas. Por posse de drogas ilegais, foram presos e condenados a pagar fiança de US$ 2 mil (RS$ 3.560).
Atuação
Diferentemente dos bandidos que atuam no Brasil, eles não apontam revólveres para a cabeça das vítimas. O modo de operar é mais sutil, apesar de não menos assustador e eficaz. Para conseguirem o que querem, usam intimidação e chantagem, ameaçando denunciar famílias de imigrantes ilegais para a imigração americana. Com medo de perderem tudo o que construíram nos EUA, brasileiros estão se tornando reféns dos próprios conterrâneos.
"A principal arma deles é o medo", afirma o brasileiro Ilton Lisboa, diretor da Massachusetts Aliance Portuguese Speakers (MAPS), instituição voltada para garantir os direitos dos imigrantes de língua portuguesa, que é legalizado e mora há 20 anos nos EUA.
Os crimes praticados por jovens brasileiros, como os que foram presos em julho, vão desde de distribuição de drogas até favores sexuais e extorsão.
Eles obrigam, por exemplo, os ilegais a pagarem taxas mensais, que podem chegar a $ 500. Se alguém se recusa, ameaçam denunciá-los à imigração, o que é suficiente para convencê-los, garante Ilton. "Conheço jovens que têm de sair com esses caras para não serem denunciadas. Homens de idade, com famílias inteiras e vida construída aqui forçados a entregar suas economias. Eles não prestam queixa, não falam com ninguém, vivem tudo em silêncio. Assim, os bandidos agem livremente".
"São brasileiros sendo vitimizados pelos próprios brasileiros. Eles usam intimidação, medo, ameaças e violência. Essas gangues são formadas por pessoas sem documentação, o que as torna invisíveis. São criminosos que não estão em nossos bancos de dados. Não sabemos por onde começar a procurá-los", explica Steve Carl, chefe de polícia de Framingham, onde os brasileiros foram presos. Carl afirma que um deles, Marcilei Caetano, 21 anos, era o líder local dos Amigos dos Amigos (ADA), facção que domina diversas favelas cariocas. Ele já foi deportado para o Brasil, mas seu comparsa, Joelson Gomes Fonseca, que seria, segundo o chefe de polícia, outro integrante da ADA nos EUA, ainda cumpre pena lá por porte de drogas.

