Ganhadores e perdedores do ?pacotão?

Por Gazeta Admininstrator

Toda realidade tem duas ou mais fa-ces. A duríssima realidade dos brasileiros donos de imóveis no Sul da Flórida e que perderam suas casas ou estão em processo de foreclosure em função da grave crise econômica, também tem duas, três faces.

Nas últimas semanas, temos recebido diversos telefonemas e e-mails de brasileiros que se sentem “lesados” por acreditarem que agiram de boa fé e honestamente e, apesar disso, sairão em desvantagem nos benefícios do “pacotão” de 700 bilhões de ajuda governamental.

“Nos sacrificamos feito loucos, limitamos até as nossas compras de alimentos para pagarmos nosso mortgage e agora assistimos a quem não pagou nada, ser beneficiado com ajuda que nós não tere-mos”, afirma uma das pessoas que se queixaram.
“Acredito que dentre os que não conseguiram pagar, mas ainda estão de posse de suas casas, há pessoas que realmente não tinham nenhuma forma de cumprir seus compromissos, mas também esperta-lhões que apostaram em um tipo de socorro oficial, como acabou acontecendo”, diz em outro e-mail mais um dos queixosos.

Evidentemente que há muito de paixão nessas queixas porque sabemos que seriam poucos os que “jogariam” com a propriedade que normalmente é o bem material mais valioso para uma família, a sua casa.
É evidente que quem não conseguiu pagar suas prestações e acabou assistindo seu imóvel indo para processo de foreclosure, não tinha mesmo outra alternativa.

E o drama dos que perderam suas casas e que agora não podem mais “voltar atrás” e se beneficiarem da ajuda governamental? Também é uma face dramática desse processo. Estes também não poderiam, ou não deveriam ser esquecidos.

Tanto quem não teve como prorrogar seus processos de foreclosure quanto os que fizeram “das tripas coração” para pagar as prestações, são as grandes vítimas do “pacotão”. Uma ajuda que eles assistirão ser dada ao grupo que não pode pagar, mas que teve “sorte” de não ter suas casas tomadas pelos credores.
Essa parece ser uma das falhas mais gritantes do “pacotão”. A incapacidade de ser aplicado com justiça a todos os segmentos legitimamente afetados pela mais grave crise ecônomica dos Estados Unidos nos últimos 50 anos.

E a comunidade brasileira certamente é uma das mais afetadas porque é de conhecimento geral do mercado que, nos últimos 10 anos, os brasileiros se tornaram um dos mais fortes e empreendedores grupos compradores de imóveis. E os bancos aceitavam financiar imóveis sem levar rigorosamente em conta a capacidade de pagamento e o “lastro” desses clientes. O que se viu, já há dois anos, foi uma “quebradeira” que se conta aos milhares de brasileiros que já perderam suas casas.
Os que ainda não perderam, esses podem agora se beneficiar do “pacotão”.

O “consolo” que resta para os que estão “no sufoco total’, honraram seus compromissos, é a esperança de que seu crédito não seja afetado. E mais do que em qualquer lugar, nos Estados Unidos o seu índice de crédito é o verdadeiro termômetro de sua saúde econômico-financeira.
Quanto aos que não tiveram “fôlego” para segurar seus imóveis e tiveram que vender ou entregar ao banco, resta saber se algum tipo de ajuda lhes será dada para que possam voltar a sonhar o sonho mais básico do “American Dream”, que é a casa própria.
Portanto, aos muitos que têm nos contactado, às vezes, até com compreensível revolta, mas injustificável ódio, creio que é importante ter cabeça fria.

Temos que entender que, a “sorte” ficou do lado dos que não puderam cumprir seus compromissos, mas de alguma forma manejaram para não perder as propriedades.

Não era para ser um jogo, mas em economia capitalista sempre é e sempre será um jogo.
Sempre haverão ganhadores e perde-dores quando os mecanismos de ajuda ou suporte econômico vindos do governo, sejam aplicados em momentos de “crise”, quando muitos já haviam naufragado.
Mas certamente a “culpa” não é dos proprietários. Que não podem ser vilanizados.

Sorte de quem vai poder se beneficiar do “Pacotão”, e vamos ver ainda até que ponto esse benefício será real ou se representará compromissos ferozes.
Aos que “pularam a cerca” do foreclosure, mesmo a custa de sangue, suor e lágrimas, resta o consolo de terem jogado o jogo pelas regras.