Genial?

Por Roberta Dalbuquerque

Estou lendo com grande atraso – eu sei! – “A Amiga Genial”, de Elena Ferrante. O livro é parte da Série Napolitana da escritora que assina com pseudônimo e que, até hoje, tem identidade desconhecida. A história real de alguém que não precisa ter a autoria de sua obra, festejadíssima, revelada já é por si só brilhante. Mas a história que se conta nas 336 páginas da sua edição brasileira é tão fascinante quanto. Elena Greco, a personagem principal, narra sua infância e juventude ao lado da inteligente, rebelde e, talvez por isso mesmo, encantadora Raffaella Cerullo. Uma amiga que embora seja companhia constante de suas descobertas, que embora exerça um magnetismo sem tamanho sobre a menina, é também motivo de alguma perturbação. Uma amizade que dá trabalho, que custa. Do livro, que ainda estou na metade, posso dizer pouco. Leiam. De amizades assim custosas, digo que vivi algumas. Talvez também pela metade. Presenciei outras tantas sendo vividas por perto. Naturalmente que ter e manter amigos tem seu custo. E é importante que tenha. Qualquer relação que envolva a troca, envolve também um investimento. Há de investir tempo, energia, afeto. Há de estar disponível para o outro. Mas essa disponibilidade, como tudo na vida, deve encontrar limite. O limite do saudável. Amizades que desafiam essa fronteira, precisam sim ser postas em cheque. Ouvi, na semana que passou, uma jovem que me contava sobre como a melhor amiga não tomava nenhuma decisão sem consulta-la, como era importante para ela que as duas estivesses fechadas nesse lugar de exclusividade de Bffs, como ela, para preservar a menina que chorava a sua falta, preferia não estar na companhia das outras crianças no intervalo da escola, como as duas com a passar do tempo, estavam ficando cada vez mais parecidas. Um relato cheio de sorrisos e doçura, que me preocupou. Na dúvida, gosto de pensar a amizade como possibilidade de expansão. Possibilidade de experimentar a vida (em toda a sua complexidade) para além do nosso umbigo. Se reduzir seu espaço de atuação, de percepção do mundo, repense. Não há genialidade capaz de compensar um encolhimento de ser.