Gilberto Gil consagrado e conectado

Depois do show acústico sold out no ano passado, Gilberto Gil esta de volta com sua maravilhosa banda e um novo lançamento para eletrizar o público da Florida. A última vez que Gil tocou em Miami com sua banda foi em 1999 com a turnê Quanta Gente Veio Ver.

O Apaixonado pelas novas tecnologias, Gilberto Gil mergulha de cabeça nas águas vertiginosas da revolução digital e de suas infovias acele-radas nesse novo lançamento Banda Larga Cordel (Warner Music Latina). Querendo que sua música utilize todos os meios de comunicação, telefonia móvel, fixa, internet, cabos, tv digital, torpedos, ringtones, thruetones, downloads, etc. Pela primeira vez em 11 anos, Gilberto Gil lança um disco somente com composições inéditas. O último havia sido “Quanta” (1997), que reunia boa parte das reflexões do cantor sobre a tríade arte-ciência-tecnologia.

Desde os tempos da Tropicália, Gil já demonstrava seu interesse e fascínio pelo assunto. Basta ouvir “Cérebro Eletrônico” e “Futurível” (1969), por exemplo, ou mesmo “Cibernética” (1974) e “Parabolicamará” (1991). Mas, o maior exemplo ainda é o álbum duplo “Quanta” (1997) . O disco foi precedido pela abertura pioneira de seu web site, em abril de 1996, e pela transmissão online, no mesmo ano, de “Pela Internet”, primeira música brasileira a ser oficialmente lançada pela internet ao vivo em tempo real.
O tempo passou e seu interesse não só aumentou como se multiplicaram seus interlocutores e ele viu várias “idéias” se materializando: inclusão digital, Creative Commons, Software Livre, por exemplo, são apenas alguns dos conceitos que já habitavam a mente, as atividades e conversações do homem público Gilberto Gil.

Banda Larga Cordel o disco e a turnê, vêem reafirmar o engajamento irreversível e definitivo do artista com as novas réguas e compassos do universo de bits e bytes, abra-çado com todos os seus riscos e desafios. O tema, que já o fascinava há mais de 30 anos, já esteve presente em shows recentes na Europa, onde ele já disponibilizava o máximo possível de seu trabalho para webcasts, podcasts, cellcasts etc.

O público dos shows era, e continuará sendo, estimulado a fazer registros e gravações com câmeras digitais e celulares. O tradicional “é proibido fotografar e filmar este show sem prévia autorização” dá lugar a um caloroso mandamento: “grave e filme o que quiser e o que puder”. Os shows, bastidores do palco e das viagens serão lançados na rede, na medida do possível, nas mais variadas plataformas virtuais: de um blog, que será especialmente criado para a turnê, ao universo paralelo do “Second Life” e também no site www.bandalargacordel.com.br.

Claro que Gilberto Gil deve cantar seus grandes sucessos como “Palco”, “Aquele Abraço”, e “Toda Menina Baiana” , mas também vai mostrar suas novas canções. Músicas como o xote “Despedida de Solteira”, o samba “Formosa”, o reggae “Os Pais”, e outros registros de suas mais recentes composições, muitas delas inspiradas por esse tema e por suas novas experiências diante desse assunto que tanto o fascina.

Gazeta - No repertório de Banda Larga Cordel tem duas homenagens: à Flora, sua mulher, e à Dona Canô, mãe de Caetano Veloso.
Gil - “Outro dia a Flora disse: puxa, faz tempo que você não faz uma música para mim! E era mesmo verdade! Fiz muitas músicas para ela ao longo de nossa vida em comum, como A linha e o linho, Flora, O seu olhar, e agora fiz essa, A faca e o queijo. O canô eu fiz de presente para os cem anos de Dona Canô. Gostaria de ter cantado a música para ela no dia de seu aniversário, em Santo Amaro, mas neste dia eu estava muito rouco. Agora eu cantei através do disco. É um presente de aniversário atrasado, mas presente é sempre um presente. E como a música diz respeito aos cem anos dela, queria que ela significasse também uma extensão aos cem anos do Oscar Niemeyer e da Dercy Gonçalves, que acho que até já passou dos cem. São pessoas que estão aí com essa idade e com uma vivacidade impressionante, podendo compartilhar com os outros as suas vidas. São exemplos extraordinários de uma longevidade física e espiritual.”

Gazeta - Você recorreu ao seu filho e músico de sua banda, Bem Gil, para usar efeitos de estúdio e programações neste novo lançamento?
Gil - “Na música Oco do mundo, eu fiz o poema e fui para o estúdio com meu filho, que sugeriu que fizéssemos uma programação rítmica, para que eu pudesse um pouco cantar e um pouco recitar, e ficar à vontade entre essas duas coisas. Ele programou uma célula ritmica muito forte e dali eu fui fazendo um pouco a recitação daquele poema, e aqui e ali fui colocando notas musicais que acabaram compondo uma canção. Outra música nova que foi feita assim foi Não tenho medo da morte. A composição foi toda feita ali, na hora, com o poema e a programação. No computador tem um recurso que produziu uma dobra eletrônica da minha voz que deu um efeito esquisitíssimo e que eu achei muito interessante.”

Gazeta - Os seus discos sempre tiveram um tema central e uma preocupação com a ordem das músicas. O que foi diferente para Banda Larga Cordel?
Gil - “Antigamente eu queria que a faixa que abria o disco tivesse um sentido. E, depois, a seqüência toda, teria que fazer sentido também, porque aquela ordem estaria ali para sempre. Hoje, com as lojas virtuais, que possibilitam que se compre uma ou algumas músicas, e que cada um produza o seu próprio CD, com a sua ordem preferida, pela primeira vez não me preocupei com a ordem das canções. No mundo prático, claro que vão ter pessoas que vão comprar o formato disco, mas muita gente vai comprar uma, duas, três músicas apenas.”

Gazeta - O novo CD esta sendo lançado no mundo inteiro pela Warner, uma gravadora maior, que como as outras anda um pouco atrasada em relação a utilização de novas tecnologias para distribuição e vendas de música.
Gil - Vai depender delas recuperar o tempo perdido. Para começar, vão ter que abrir mão da exorbitante margem de lucros que tiveram no passado. Antes as gravadoras eram 100% do mercado, mas os independentes no Brasil já são quase 50%. Estamos entrando na era do microempreendorismo de participação no mercado e asmaiores vão ter que tender para esta fragmentação para compartilhar as vantagens economicas que elas oferecem.