Governo investiga empresa de brasileiros suspeita de fraude.

Por Gazeta Admininstrator

Da Redação

A Comissão de Segurança Comercial de Boston e a Security and Exchange Commission – SEC - (órgão federal encarregado de investigar operações financeiras) estão investigando as empresas de brasileiros Fone Clube Inc e Universo FoneClub Corporation. Ambas são suspeitas de operar um sistema ilegal de pirâmide financeira. A justiça de Boston acatou solicitação feita por agentes federais e advogados da comissão de segurança comercial do estado, que solicitou a paralisação das operações das companhias que exploram o sistema de telefonia via Internet ou VOIP (Voice Over Internet Protocol).

Na sexta-feira(2), o advogado Daniel P. Barry, da SEC, encaminhou à Corte Distrital federal ação afirmando que “A Universo parece estar operando um clássico esquema no qual investidores são atraídos a fazer investimentos com a promessa de retorno financeiro quando, na realidade, seus retornos são simplesmente a devolução do pagamento feito por eles mesmos ou por outros supostos investidores também atraídos para o programa”.

De acordo com dados do governo de Massachusetts, a empresa Foneclub Incorporation iniciou as atividades recentemente, e mudou sua razão social para Universo Foneclub Corporation em 1° de maio de 2006. Em 2 de maio, a empresa fundiu-se com a Universo Gospel USA, Inc. A Foneclub promete àqueles que investirem no negócio a chance de fazer milhares de dólares e ligações telefônicas ilimitadas com a utilização de cartões de chamadas e softwares e hardwares de computador.

Em seu web site, foneclub.com, a empresa explica como os futuros membros podem fazer ligações gratuitas e beneficiar-se de lucros e vantagens ao levar mais pessoas para o grupo.

Uma vez que se tornem membros as pessoas devem encontrar outras pessoas interessadas em investir no negócio, com a promessa de que receberão um percentual em dinheiro para investimentos de novos membros.

A cota de participação varia de apenas $10 até $5 mil. Quanto maior o “investimento”, maior o lucro, promete a empresa. O ganho médio anual prometido é de $17 mil para aqueles que investirem $2 mil.

Este tipo de negócio é conhecido como Multi Level Marketing, e é legal no país. Consiste em gratificar financeiramente o associado sempre que apresente novos interessados em aderir ao plano de expansão da empresa.

Os negócios pertencem ao brasileiro Sann Rodrigues, que afirma que suas empresas não operam no sistema de pirâmide, o que seria ilegal, mas sim em Multi Level Marketing. A reportagem do Gazeta entrou em contato, por telefone, com o titular da empresa, identificado pelo governo de Massachusetts como Sanderley R. De Vasconcelos, mas até o horário de fechamento desta edição o telefone não respondia e não havia espaço no correio de voz para mensagens.

Segundo o governo de Massachusetts, o vice-presidente da empresa é Davi W. Silva, tesoureiro Tiago Barreto Quinamo, secretária Camila Quinamo. Todos têm também cargos de diretor. Segundo a mesma fonte, Davi Silva é o único responsável pela Universo Gospel USA, Inc.

Flórida

Na Flórida o negócio tornou-se popular através da propaganda boca a boca. Um empresário da região, que preferiu não ser identificado, contou à reportagem do Gazeta que “comprou o cargo de executivo”na empresa Fone Clube Inc por indicação de um antigo cliente e amigo. “No início não acreditei no negócio, mas esse meu cliente me mostrou cópias de cheques de outras pessoas que conheço e que já estavam tendo lucros. Assim me senti mais confiante. Foi um negócio na base da confiança porque ele também colocou o dinheiro dele”, disse.

Segundo ele, toda a operação de venda de minutos em cartões telefônicos e de Voip funciona perfeitamente. Para ter a participação de um executivo da empresa ele “investiu” $3 mil, efetuando um depósito na conta da empresa. O contrato foi feito online, na internet. “Recebi dois cheques de $1,2. O problema foi que fiz o depósito hoje e provavelmente os cheques vão voltar”, lamentou o empresário.

Giovan Calado, funcionário de uma empresa de revenda de automóveis, em Pompano Beach, investiu $3 mil e tornou-se executivo da empresa.

Ele afirma ter recebido cheques que totalizam o dobro do valor investido. “Depositei um cheque no valor de $3.346 e os demais não tive tempo de depositar porque eles tiveram as contas congeladas. Levei oito pessoas para a empresa. Poderia ter levado umas 40, mas parei quando soube que estavam sendo investigados”, disse Calado que continua confiante no negócio. “O princípio do negócio é bom, é repartir parte do lucro com quem investe”, finali-za Calado.

O empresário Robson de Oliveira, proprietário da WBC Communications, na Flórida, contou à reportagem do Gazeta ter sido convidado a participar de uma das reuniões promovidas pela Foneclub, e diz ter ficado bem impressionado com o discurso de apresentação. “Do ponto de vista filosófico, eu gostei da palestra do pastor. Porém quando entrou na parte técnico-comercial do negócio, as informações não batiam com a realidade de como funciona, nem com os custos envolvidos no negócio de telecomunicações mundial”, disse Oliveira cuja empresa também atua na área de telefonia, e decidiu não entrar no negócio oferecido pela Foneclub.

Também a editora do jornal Gazeta News, Fernanda Cirino, foi procurada pelo titular da FoneClub para participar e fazer uma cobertura jornalística de uma das reuniões. Sann Rodrigues informou que a empresa havia sido aberta há seis meses em Massachussets, onde já havia conquistado grande sucesso de adesões, e que seus representantes estariam todos os sábados na Flórida, por seis meses, apresentando a empresa e explicando as vantagens do negócio.

A direção do Gazeta decidiu não publicar a reportagem, uma vez que a linha editorial do jornal não permite envolvimento de temas comerciais com temas jornalísticos. “O jornal tem o cuidado de só fazer coberturas jornalísticas que sejam de interesse público, da comunidade, e não comerciais. Além disso, todos nós sabemos que dinheiro não cai do céu”, disse Cirino.

De acordo com o jornal local Metro-west Daily News, a empresa possui mais de 2 mil associados, a maioria composta por imigrantes brasileiros atraídos pela possibilidade de retorno financeiro.
Com as atividades congeladas judicialmente, as contas bancárias foram bloqueadas, com isto os associados não estão conseguindo sacar os cheques que receberam como gratificação por associar-se ao negócio.

A ordem judicial determina que os representantes da companhia compareçam a uma audiência preliminar marcada para o dia 8 de junho na Corte de Boston. A partir da audidência a justiça determinará se iniciará ou não o processo judicial contra a Fone Clube. Caso o juiz entenda que isto será necessário, o processo tramitará em corte federal.

O pastor evangélico Victor William, que afirma ter se associado à empresa como um dos inúmeros investidores, e assumindo a posição de presidente da Fone Clube mediante o pagamento de $5 mil, informou estar agora encontrando dificuldades para receber seus investimentos.

“À primeira vista, a proposta de adesão é muito atraente e cativante. Mas os artigos veiculados na imprensa me fizeram refletir que a melhor decisão seria sair da companhia. Uma empresa não pode sobreviver apenas cobrando taxas de associados”, disse o pastor a um jornal de Boston.

Na reunião realizada no dia 18 de maio, em Massachussets, determinante para a apresentação de ação federal na SEC, o pastor Victor William, foi o principal orador, e apresentou slides de Power Point destacando imagens de grandes residências e pessoas jogando golfe, induzindo muitos à idéia de que poderiam alcançar aquele padrão de vida caso entrassem no investimento.

Na ação na Corte federal, apresentada pela SEC, além de Sanderley R. de Vasconcelos, conhecido como Sann Rodrigues, aparece como réu Victor W. Sales, também conhecido como Reve-rendo Victor William, Victor Sales De-brito e Victor Sales Brito.

Vontade de Deus

De acordo com reportagem publicada pelo jornal Metrowest, o investimento promovido por Rodrigues e pelo pastor William contava com o suporte do discurso religioso. Nas reuniões promovidas pelos dois, informou o jornal, ambos afirmavam que “Deus não deseja que a comunidade brasileira seja pobre”. A reportagem descreve ainda outros argumentos utilizados pelos dois tais como: “Deus não deseja que os brasileiros venham para os EUA para limpar casas, lavar pratos e cortar grama”, “Se você se associar, você poderá ser uma pessoa próspera”.