Governo mexicano quer mudar lei que dispensa visto de brasileiros

Por Gazeta Admininstrator

O aumento do número de brasileiros entrando ilegalmente nos Estados Unidos através do México pode levar o governo mexicano a voltar a exigir visto de brasileiros.
O documento foi dispensado em um acordo entre os dois governos, em 2000, com o objetivo de aumentar o fluxo de negócios e de turistas entre os dois maiores países da América Latina.

O coordenador de Controle e Verificação Migratória do Instituto Nacional de Migração (INM), Tonatiuh Garcia Castillo, confirmou à BBC Brasil que o governo mexicano está estudando a mudança, para dificultar o acesso de brasileiros que usam o país como porta de entrada ilegal nos Estados Unidos, principalmente na fronteira com o Estado do Texas.

“Ainda não há uma decisão, mas é um problema que existe, um problema que nos preocupa pelo lado da segurança e estamos avaliando”, afirmou Castillo por telefone, da Cidade do México. Ele disse que a medida “não está sendo negociada” com o governo brasileiro, “mas tampouco é uma medida unilateral”.

Castillo diz que o acordo entre os dois governos para eliminar a exigência do visto prevê a suspensão em casos de ameaça à segurança, à ordem ou à saúde pública.

Passaportes falsos

O governo mexicano, segundo Castillo, está preocupado com a utilização de passaportes brasileiros falsos por estrangeiros e com a entrada de brasileiros naturalizados originários de outros países. Ele não soube dizer quantos casos deste tipo foram encontrados ou que países são predominantes, mas citou Iraque e África do Sul como exemplos.

“Não são muitos casos, mas eles preocupam”, afirma. Ele negou que a mudança seja resultado da pressão do governo americano. Nos últimos dois anos cresceu muito o número de brasileiros cruzando ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos e neste ano os brasileiros já respondem pelo maior número de ilegais pegos pela Polícia Fronteiriça.

A resposta é a mesma do lado americano.

“O México é um país soberano, e eles tomam as próprias decisões”, afirmou John O'Malley, assessor do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos que cuida do caso dos brasileiros.

Mas ele confirma a preocupação do governo americano. “É um fator de preocupação que a falta de exigência de visto piorou o problema e o número de casos aumentou”, afirmou. Ele disse que o assunto foi discutido entre os dois governos.

O'Malley diz que os brasileiros se tornaram “o grande problema” dos Estados Unidos na região do Texas. Eles já formam o maior grupo cruzando a fronteira ilegalmente nesta parte do país, superando até mesmo os mexicanos. Em todo o país, os brasileiros são o segundo grupo, e o quarto em número de detenções pela Polícia Fronteiriça.

Na avaliação do governo mexicano, cerca de 10% dos brasileiros que entram no país têm a intenção de entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Os outros 90% são turistas e pessoas que viajam a trabalho.

Apesar de não precisarem de visto, muitos têm a entrada no país recusada, se os funcionários da imigração mexicana avaliarem que a pessoa tem intenção de emigrar para os Estados Unidos.

No ano passado, 28.094 brasileiros foram autorizados a entrar no México e 4.803 foram deportados. Neste ano, somente até junho, o número de autorizados subiu para 42.614 e o de deportados aumentou para 6.403.

Os brasileiros representaram 62% dos estrangeiros que tiveram a entrada recusada no país nos cinco primeiros meses deste ano, de acordo com os registros do Instituto Nacional de Migração. No ano passado, representavam 48%.

“Alguns dizem que vêm fazer turismo, mas pelo perfil dá para perceber que vêm com a intenção de emigrar”, diz Castillo. “Lamentavelmente, são objeto de traficantes, que vão levá-los aos Estados Unidos”, afirmou.

Apesar da atual dispensa do visto, o México tem uma lei que proíbe a utilização do país com o objetivo de emigrar ilegalmente para outro país.

O cônsul em exercício no consulado brasileiro em Houston, Milton Torres da Silva, acha que o único resultado prático da exigência do visto, se voltar a ser adotada, será o encarecimento da viagem, já que os imigrantes terão que usar rotas mais longas para chegar até os Estados Unidos e pagar mais para os coyotes que ajudam na travessia.

Mas ele não acredita que a dificuldade vai reduzir o número de brasileiros tentando entrar nos Estados Unidos enquanto o país oferecer melhores oportunidades de emprego e renda.