Grande parte dos imigrantes deixou sua família no país de origem.

Por Gazeta Admininstrator

Para os imigrantes ilegais que vivem nos EUA, um dos pesadelos do sonho norte-americano é ver os parentes separados pelas fronteiras — muitas vezes durante vários anos.

Sem os documentos que permitam sair do país para visitar os parentes e com salários que começam em 5 dólares por hora, torna-se quase impossível para essas pessoas regressarem.

O novo projeto de lei sobre imigração que o Senado debate pode dar às famílias a chance de se reencontrar novamente. Se aprovada, a legislação abriria o caminho da cidadania norte-americana para milhões de imigrantes ilegais, dando-lhes a chance de obter documentos para viajar legalmente.

Isso daria esperanças ao salvadorenho Adolfo Gonzalez, 36 anos, operário da construção civil que viu seu filho pela última vez há 13 anos, quando o menino tinha 2 anos.

A mulher de González uniu-se a ele em Maryland, também sem a documentação necessária, há 9 anos. Mas eles chegaram a conclusão de que a viagem de dois dias, cruzando o México para chegar ao Arizona, seria de extremo perigo para a criança. Por isso o menino ficou com os avós, em El Salvador.

"A gente sofre tanto quando deixa uma criança para trás. Sempre pensei em regressar, mas meus irmãos me dizem para ficar, porque a vida está muito difícil lá", afirmou Gonzalez, que envia mensalmente 350 dólares para sua família, na esperança de que o filho, um dia, forme-se em uma faculdade.

De acordo com a última pesquisa publicada pelo Centro Hispânico Pew, em Washington, mais da metade dos 11 milhões de imigrantes ilegais que viviam nos Estados Unidos, no ano passado, eram mulheres (35%) e crianças (16%). As crianças representam quase 2 milhões dos ilegais.
Segundo o estudo, divulgado em março, há 3,1 milhões de crianças que são cidadãs dos EUA por terem nascido no país e que vivem em famílias cujo chefe de família ou a mulher é um imigrante ilegal.

Mães solteiras

Muitas mulheres que vieram tentar a sorte nos EUA eram mães solteiras que deixaram seus filhos em casa, afirmou a vencedora do Prêmio Pulitzer Sonia Nazario, uma jornalista de Los Angeles e autora do livro "Enrique''s Journey" (A Jornada de Enrique).

O livro apresenta a história verídica de um menino hondurenho que viajou para os EUA em busca de sua mãe, que não via desde os 5 anos. A autora fez a mesma viagem que o garoto, cruzando o México em trens de carga.

Ela escreveu o livro após conversar com uma mulher da Guatemala que limpava sua casa e que tinha deixado para trás os 4 filhos.

"Essa é uma situação bastante comum. Em Los Angeles, quatro de cada cinco mulheres que trabalham como babás têm filhos em seus países de origem", afirmou Nazario.

Alguns dos que entram nos EUA têm certeza de que conseguirão alimentar suas crianças. Outros têm filhos em território norte-americano e vêem aumentar o temor de serem deportados.

"A deportação é uma outra forma de dividir as famílias", disse a ativista Emma Lozano, do Centro Sem Fronteiras, organização comunitária que ajuda as famílias de Chicago ameaçadas de deportação.

Lozano defende que a nova lei de imigração perdoe os imigrantes ameaçados de deportação por trabalhar sem documentos ou com documentos falsos.

"Precisamos de uma moratória do presidente George W. Bush a fim de que as famílias possam se reunir", disse a ativista.

É exatamente disso que precisa a mexicana Elvira Arellano, 31 anos, mãe solteira de um menino norte-americano de 2 anos. Ela foi flagrada com um número falso da Seguridade Social e agora pode ser acusada criminalmente e deportada.

Arellano foi uma das 1.187 pessoas detidas em abril, durante uma operação da Agência de Imigração e Alfândega em 26 Estados. Ela trabalhava em uma fábrica de Chicago.

Em greve de fome desde 10 de maio, Arellano saberá em breve se a Justiça ordenará sua deportação. Ela não quer deixar o filho para trás, mas também deseja que ele tenha um futuro melhor nos EUA.

"Tenho de pensar no que é melhor para o meu filho. Eu acredito que, como cidadão norte-americano, ele tem o direito de ter a mãe perto dele", afirmou. "É por isso que estou lutando."